DF enfrenta o primeiro racionamento de água da história em plena estação chuvosa
Reservatório do Descoberto, que costuma estar em 100% nesta época, está com 18% de água
Brasília|Mariana Londres, do R7, em Brasília
Na segunda-feira (16), o Distrito Federal irá enfrentar o primeiro racionamento de água da história, em plena estação das chuvas. A medida, anunciada nesta semana, foi tomada assim que o nível do maior reservatório da região, o do Descoberto, que abastece 1, 8 milhão de pessoas, chegou a menos de 20% (18,85% nesta sexta) da sua capacidade. O segundo maior reservatório, de Santa Maria, está com 41,04% da capacidade, o que também é preocupante.
O anúncio, feito pela Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb),pegou a população do DF de surpresa, tanto por ser o primeiro da região quanto por acontecer em plena estação chuvosa, quando o volume dos reservatórios costuma estar em 100%. Ainda sem data para acabar, o racionamento só será suspenso se o volume dos reservatórios voltar a subir a níveis aceitáveis para o período da seca, que dura de abril a setembro.
Apesar de enfrentar todos os anos uma estação seca prolongada, o Distrito Federal nunca teve problemas de abastacimento por ser rico em nascentes. Conhecido como berço das águas, abriga as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (São Francisco, Tocantins e Prata) e contribui para oito das doze regiões hidrográficas do Brasil. Uma crise hídrica no DF, portanto, tem potencial para afetar grande parte do País.
A abundância da oferta de água, no entanto, não foi suficiente para manter o abastecimento em um cenário de crescimento populacional, aumento do uso da água para irrigação, falta de investimento e escassez de chuvas.
Por enquanto, o racionamento será parcial, atingirá apenas as regiões abastecidas pelo Descoberto em ciclos de seis dias. Nesses locais, a interrupção de água será total por um dia e parcial por mais dois dias. Nos três dias seguintes será normalizada. No sétimo dia recomeça o ciclo com uma nova interrupção total. Nas regiões não afetadas pela medida, a pressão da água será reduzida a partir de 30 de janeiro.
As áreas afetadas serão Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante, Park Way, Recanto das Emas, Riacho Fundo I e II, Santa Maria, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires.
As regiões que por enquanto não terão racionamento são: Plano Piloto, Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal, Lago Sul, Lago Norte, Paranoá, Varjão, Itapoã e Jardim Botânico. Significa que a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos 3 Poderes e as residências oficiais do presidente e de ministros não serão afetadas pela falta de água ainda.
Demora
A demora no início do racionamento no DF é criticada por especialistas, que dizem ainda que a situação é tão crítica que o racionamento deveria atingir todo o DF, e não apenas parte, como foi anunciado. Henrique Leite, especialista em Recursos Hídricos e professor da UnB (Universidade de Brasília) explica:
— Nós já sabíamos, estudiosos, Adasa e Caesb, que os níveis dos dois reservatórios Descoberto e Santa Maria estavam abaixo da normalidade na última seca, há seis meses atrás. E a gente sabia que se tivéssemos chuva na média ou abaixo da média os níveis continuariam baixos e que apenas uma estação chuvosa não seria suficiente para repor esses níveis que vem caindo há dois, três anos. Então o racionamento é uma medida correta mas poderia ter sido tomada muito antes. E o próprio reservatório de Santa Maria, que está a níveis preocupantes, não entendi porque o racionamento não foi aplicado também para as regiões abastecidas pelo Santa Maria. A dúvida agora é se nós teremos água nesses próximos dois meses chuvosos. Esperamos chuvas nos níveis normais ou até acima da média para os próximos meses. Mas o que acontecerá se esses níveis continuarem como estão? Em plena época chuvosa, os níveis estão caindo. O que é um fato agravante.
Outras informações preocupantes para o especialista são: que os reservatórios não são interligados, a falta de água em um deles não pode ajudar o outro, portanto, e o fato de que o volume morto no DF só seria suficiente para abastecer a região por um mês.
— São Paulo resolveu agora [a crise hídrica]. O sistema Cantareira está com níveis elevados, por conta de um sistema de chuvas que lá é bem diferente do nosso, e houve a operação do volume morto que é bem mais elevado do que o nosso aqui do Descoberto e de Santa Maria. Só para terem uma ideia, o volume morto praticamente contribuiu por mais de três meses para o abastecimento da zona norte da cidade de São Paulo. No nosso sistema, o volume morto contribuiria com, no máximo, trinta dias adicionais, o que também tem que ser levado em conta.
Outras opções de abastecimento
De acordo com Henrique Leite, em caso de falta de água, o DF teria duas soluções emergenciais: a captação de Lago Paranoá e um sistema de purificação móvel. Mas para o professor, as duas soluções são difíceis de ser implantadas no curto prazo.
— A nova estação de tratamento está sendo construída no Lago [Paranoá], o que aliviaria um pouco, mas ainda não está pronto. Em uma situação de emergência, em agosto, se não houver água nos dois sistema existe o sistema de purificação móvel, mas que teria que ser importado a custos elevados.