DF ocupa 2º lugar no ranking de casos de violência contra idosos
Mulheres são o principal alvo de violência; Central do Idoso lançou cartilha para amplificar combate ao etarismo
Brasília|Jéssica Moura, Do R7, em Brasília
A violência contra idosos é crescente no Distrito Federal e se agravou ao longo da pandemia da Covid-19. A conclusão, divulgada nesta quarta-feira (15), no Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, é da Central do Idoso do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que considerou dados do Disque-100 e dos atendimentos jurídicos.
Entre 2014 e 2018, o DF registrava em média cerca de 800 casos de violência contra idosos anualmente. Contudo, em 2019, o quadro começou a se alterar. Naquele ano, foram feitos 989 registros de violações. Com a deflagração da crise sanitária, que levou ao confinamento, o número saltou para 2.025 casos, em 2020, um aumento de 104%.
Em 2021, houve uma redução de 14% e atingiu 1.734 notificações. Os dados são referentes às denúncias registradas pelo Disque-100, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. O montante coloca o DF no 2º lugar do ranking entre os estados com mais casos de violência contra idosos, em termos relativos, para cara grupo de 100 mil habitantes.
A juíza Monize Marques avalia a queda com cautela. "2021 ainda revelam um acréscimo substancial nos dados de violência. Essa diferença não é suficiente para dizer que houve uma redução no número de violências. O número ainda é bastante elevado".
"O alto número de denúncias reforça como o isolamento social é um fator de risco", alerta Monize Marques, durante o lançamento de uma cartilha com reflexões para o combate ao chamado "etarismo", o preconceito motivado pela idade. A casa, segundo ela, se tornou "ambiente de insegurança".
Há 10 anos na coordenação da Central do Idosos, a juíza analisa que "as respostas legislativas são insuficientes para os dramas que eram apresentados".
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Vítimas e agressores
Os principais alvos desse tipo de violência são as mulheres pobres. Cerca de 71% das vítimas são do sexo feminino, com renda de até três salários mínimos. Quanto aos agressores, em 60% dos casos eram os próprios filhos.
Em 2020, a Central do Idoso promoveu 5,7 mil atendimentos. No ano seguinte, foram 17 mil. Até maio de 2022, a central registrou 7.642 queixas relacionadas à violência contra idosos. Na medida em que as agressões costumam ocorrer dentro de casa, em 957 casos, a justiça buscou resolver a situação com a mediação dos conflitos.
"Famílias são expostas a ambientes seguros de conversa e interlocução e há de fato uma interrupção no ciclo de violência", explica a juíza. Ela também diz que o "tratamento envolve não só a aplicação da lei, mas a autorresponsabilização do familiar".
As formas mais frequentes dessas violências foram a psicológica, financeira, negligência e maus-tratos. "Quando identificamos a prática instalada de uma conduta criminosa, a mediação não é recomendada", disse Monize.
Território
Quanto às regiões onde a violência foi praticada, Ceilândia é a cidade que lidera o ranking de registros em termos absolutos nos últimos 3 anos: 1.558. Contudo, na análise relativa, considerando grupos de 100 mil habitantes, o Lago Sul é a área com mais casos: 51,92/100 mil hab. "Isso indica que a condição financeira também não é fator de proteção", afirma a juíza.