‘Efeitos macroeconômicos estão superados, apesar do drama humano’, diz Haddad sobre RS
Enchentes deixaram 183 mortos e 27 desaparecidos; ajuda federal ao estado ultrapassou R$ 183 bilhões
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou nesta segunda-feira (14) que a situação do Rio Grande do Sul, devastado por enchentes entre abril e maio deste ano, está controlada do ponto de vista econômico, apesar da crise social instaurada no estado. As fortes chuvas deixaram 183 mortos e 27 desaparecidos, segundo o último balanço das autoridades locais. Outros 807 gaúchos ficaram feridos.
“Os efeitos macroeconômicos estão superados. Contornamos adequadamente o assunto, apesar do drama humano”, declarou o ministro, em evento volta a investidores.
As medidas de ajuda do governo federal ao Rio Grande do Sul somam R$ 183,3 bilhões, entre concessão de créditos, recursos para áreas específicas, como saúde, educação e segurança, e antecipação de benefícios sociais. O Executivo também suspendeu o pagamento da dívida do RS com a União, que totaliza R$ 23 bilhões.
Em meio à crise no estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou, em maio, um ministério temporário para gerir as ações federais em prol do Rio Grande do Sul. O petista designou Paulo Pimenta, que chefiava a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) para a nova função. A pasta extraordinária concluiu os trabalhos em setembro, quando Pimenta retornou ao comando da Secom. Agora, uma secretaria na Casa Civil é responsável pelas medidas federais voltadas ao RS.
Embates entre governos federal e estadual
A gestão da crise no Rio Grande do Sul e o envio de recursos foram temas de embates públicos entre Lula e o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB). Em agosto, em entrevista a uma rádio gaúcha, o presidente criticou o chefe do Executivo local.
“Às vezes, fico incomodado porque o governador nunca está contente com as coisas. O governador deveria um dia me agradecer: ‘Ô, Lula, obrigado pelo tratamento que você está dando ao Rio Grande do Sul, porque o Rio Grande do Sul nunca foi tratado assim”, afirmou, ao destacar que Leite “fala todo dia” que as ações do governo federal em prol do RS são “insuficientes”.
No mesmo dia, Leite compareceu a uma agenda de Lula em Porto Alegre e usou o tempo de discurso para rebater as críticas do presidente. O governador citou dificuldades enfrentadas desde 2019, quando assumiu o estado. “A gente começou esse governo sem ter dinheiro para pagar salário de servidor”, argumentou, no palco da cerimônia em que estavam Lula e ministros.
“Perceba que as dores que o RS sofre há muito tempo nos fazem demandar, sim, demandar atenção, pedir por essa população, pedir pelo nosso estado, porque não é só essa calamidade que enfrentamos, são recorrentes episódios que dificultam a prosperidade no nosso estado”, acrescentou.
Leite ainda afirmou que o povo gaúcho não é “mal-agradecido nem ingrato”. “O povo gaúcho agradece todo o apoio que recebe, que recebeu da sociedade brasileira e que recebe do seu governo também, presidente. Nós agradecemos os apoios alcançados, mas também sabemos o que é de direito da nossa população e do nosso estado e demandamos”, completou, ao se referir diretamente a Lula.
O governador também alegou que parte dos valores federais enviados ainda não chegou ao estado. “Muito desse recurso ainda não está conseguindo ser acessado porque tem entraves, burocracias, dificuldades que precisam ser superadas”, afirmou, ao destacar que as reivindicações não são pessoais nem ideológicas.
Logo depois de Leite, Lula discursou e devolveu as críticas. “Eu quero que toda vez que você olhar para o governo federal, você saiba que você tem um amigo. Eu não disputo nada com você, eu não disputo popularidade. Eu não sou gestor, eu sou um político e gosto de fazer politica”, rebateu.