Em dez dias, 225 pessoas foram presas em prevenção a ataques a escolas, diz Dino
Ministro afirmou que números mostram que o país está diante de uma 'epidemia'; governo se reuniu hoje para discutir tema
Brasília|Plínio Aguiar e Clarissa Lemgruber, do R7, em Brasília
O ministro da Justiça, Flávio Dino, informou nesta terça-feira (18) que 225 pessoas foram presas nos últimos dez dias em ações feitas pelo governo federal para reprimir a violência nas escolas. O ministro apresentou alguns dados das ações promovidas pelo governo e comparou os números com uma "epidemia".
"Temos 225 pessoas presas ou menores e crianças apreendidos. Isso em dez dias. Dá uma média de mais de 20 por dia. Isso mostra que estamos diante de uma epidemia", afirmou o ministro durante reunião realizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a presença de governadores, prefeitos, ministros e parlamentares no Palácio do Planalto.
Veja os números:
• 225 pessoas presas (ou menores e crianças apreendidos)
• 694 intimações de adolescentes suspeitos
• 155 buscas e apreensões realizadas
• 1.595 boletins de ocorrência registrados
• 1.224 casos em investigação em todo o país
• 756 remoções ou suspensões de perfis nas redes
• 100 pedidos de preservação de conteúdos para investigações
• Mais de 7.400 denúncias recebidas
• Mais de 377 solicitações de cadastro para novas investigações
A reunião de Lula com os ministros ocorre 13 dias após o ataque que matou quatro crianças numa creche particular em Blumenau (SC).
Dino afirmou que o fluxo "terrível" dos discursos de ódio na internet não será combatido individualmente, mas sim de forma coletiva. "Como ministro da Justiça, minha primeira palavra é de que todos estejamos juntos mobilizando as nossas sociedades, dentro dos estados e municípios, com campanhas publicitárias, e que envolvam as famílias, o núcleo básico de estruturação de uma cultura da paz e dos direitos humanos", disse.
A reportagem verificou que o governo quer reforçar a necessidade de firmar parcerias com todos os entes federativos para políticas de prevenção e enfrentamento à violência nas escolas, com estratégias de promoção de paz nas instituições educacionais e de combate aos discursos de ódio, inclusive na internet.
"É falsa a ideia de que fiscalizar e regular a internet é contrária à liberdade de expressão. A verdade é diametralmente oposta. Só é possível preservar a liberdade de expressão regulando-a para que não seja exercida de modo abusivo", afirmou Dino.
Ataque em Santa Catarina
Em 5 de abril de 2023, um homem de 25 anos invadiu o Centro de Educação Infantil Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), e agrediu com uma machadinha oito alunos. Bernardo Cunha Machado, de 5 anos, Bernardo Pabest da Cunha, de 4, Enzo Marchesin, de 4, e Larissa Maia Toldo, de 7, não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Quatro crianças foram internadas e receberam alta.
O prefeito da cidade, Mário Hildebrandt, revelou que todas as vítimas eram filhos únicos. Nos dias subsequentes ao ataque, amigos e familiares das vítimas e moradores de Blumenau fizeram uma vigília em frente ao local do crime. As pessoas acenderam velas e levaram flores para homenagear as vítimas. Por causa dos assassinatos, a prefeitura decretou luto de 30 dias.
Morte de professora em escola de SP
Em 27 de março, um adolescente de 13 anos atacou e feriu com uma faca quatro professores e dois alunos na Escola Estadual Thomázia Montoro, localizada na zona oeste de São Paulo. O ataque ocorreu por volta das 7h30, quando as aulas já tinham começado.
A professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, não resistiu aos ferimentos e morreu. Ela era funcionária aposentada do Instituto Adolfo Lutz e, desde 2013, passou a se dedicar ao ensino de crianças.
Segundo levantamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Brasil registrou ao menos 22 ataques de violência extrema em 23 escolas desde 2002. O número é mais alarmante se considerado um recorte recente: mais de um terço desses registros (nove) ocorreu desde junho do ano passado.