'Estamos mais perto da Justiça', diz ministra irmã de Marielle após prisão de mandantes do crime
Anielle Franco elogiou investigação pelas redes sociais; irmãos Brazão e delegado do RJ foram presos neste domingo (24)
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
A ministra da Igualdade Racial e irmã da vereadora Marielle Franco, Anielle Franco, afirmou que a prisão dos mandantes do assassinato é um "grande passo para perto da Justiça". Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão foram presos na manhã deste domingo (24) em uma operação da Polícia Federal que contou com a participação da Procuradoria-Geral da República e do Ministério Público do Rio de Janeiro.
"Só Deus sabe o quanto sonhamos com esse dia! Hoje é mais um grande passo para conseguirmos as respostas que tanto nos perguntamos nos últimos anos: quem mandou matar a Mari e por quê? Agradeço o empenho da PF, do governo federal, do MP federal e estadual e do ministro Alexandre de Moraes. Estamos mais perto da Justiça! Grande dia!", escreveu Anielle pelas redes sociais.
Também foram cumpridos 12 mandados de busca e, além dos irmãos, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, o delegado Rivaldo Barbosa, foi preso. Os mandados, cumpridos no Rio, foram expedidos pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados em março de 2018, na área central do Rio de Janeiro. A família de Marielle elogiou a operação da Polícia Federal e pediu que as apurações continuem, porque "ainda há muita coisa a ser investigada".
"É importante não perdermos de vista que até o momento ninguém foi efetivamente responsabilizado por esse crime, entre os apontados como executores e mandantes. Todas as prisões são preventivas e ainda há muita coisa a ser investigada e elucidada, principalmente sobre o esclarecimento das motivações. Mas, os esforços coordenados das autoridades são uma centelha de esperança", escreveram os parentes em nota divulgada nas redes sociais.
Quem são os irmãos Brazão
João Francisco Inácio Brazão, conhecido como Chiquinho, é deputado federal do União Brasil pelo Rio de Janeiro. Assim como Marielle, ele era vereador do município quando o assassinato ocorreu. O envolvimento do parlamentar fez com que as investigações fossem ao STF, já que Chiquinho tem foro privilegiado. A relatoria do processo foi distribuída por sorteio ao ministro Alexandre de Moraes, da Primeira Turma, por se tratar de uma ação criminal.
Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson, o ex-policial militar Ronnie Lessa afirmou aos investigadores, em delação premiada, que Domingos teria encomendado o crime.
Lessa teria afirmado que o crime seria uma vingança contra o ex-deputado estadual Marcelo Freixo e a ex-assessora dele, Marielle Franco. Os três, segundo os investigadores, travavam disputas na área política do estado.
Os embates teriam começado em 2008, quando Freixo presidiu a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das milícias na Assembleia Legislativa do Estado e citou Brazão, então deputado estadual, como um dos envolvidos com grupos paramilitares.
Nos anos seguintes, a relação teria piorado. Nomeado conselheiro do Tribunal de Contas do estado em 2015, com a oposição de Freixo, Brazão foi preso e afastado temporariamente do cargo dois anos depois por suspeita de corrupção. No entanto, foi reconduzido em 2021. Aliados políticos de Brazão também foram presos.
A Polícia Federal já havia divulgado que as investigações seriam concluídas até o fim de março. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) ficou responsável por analisar o caso porque é a corte responsável por julgar governadores, desembargadores e integrantes dos tribunais de contas dos estados.
A motivação do crime teria sido um embate entre Marielle Franco e Chiquinho Brazão em torno de um projeto de lei, de autoria de Brazão, que regularizava terrenos dominados pela milícia. Marielle era contra o projeto e considerada o principal ponto de resistência dentro da Câmara de Vereadores.
A lei foi aprovada, mas vetada pelo então prefeito Marcelo Crivella. O veto foi derrubado pelos parlamentares, o que motivou o MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) a entrar com uma ação no TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro). O tribunal declarou a lei inconstitucional por "usurpar a função do chefe do Executivo e ferir a constituição do estado do Rio de Janeiro."