Flávio diz que Jair Bolsonaro precisa escolher novo líder neste ano
Filho do presidente, senador admite que Fernando Bezerra ficou chateado por não ter tido apoio do mandatário na indicação ao TCU
Brasília|Sarah Teófilo, do R7, em Brasília
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou nesta quinta-feira (16) que o mandatário deveria escolher ainda neste ano o novo líder do governo na Casa. A seleção vai ser feita após a saída do então líder do governo na Casa, o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), que deixou o cargo depois de sofrer uma derrota esmagadora na eleição do Senado no processo de escolha do novo ministro do TCU (Tribunal de Contas da União). Bezerra não teve apoio do governo e levo apenas sete votos, enquanto o vencedor, Antonio Anastasia (PSD-MG), teve 52.
"Não conversei com o presidente ainda. Mas, para mim, na minha opinião, tem que decidir logo para o líder ter tempo de trabalhar e reorganizar a base aqui", afirmou Flávio ao R7. "Na minha opinião, tinha que decidir hoje", completou.
Para o senador, a decisão precisa ser tomada ainda neste ano para que o próximo líder possa atuar de forma intensa durante o recesso parlamentar, ouvindo as demandas e recompondo a base. "Tem que ter um bom trânsito com todos os senadores, não só aliados, e autonomia para resolver as coisas dentro do governo", disse o senador, ao avaliar o perfil ideal do próximo líder. Bezerra era um líder com bom trânsito na Casa e que ajudava na articulação do governo com o MDB, maior bancada do Senado.
A vaga do TCU é do Senado e foi aberta com a nomeação de Raimundo Carreiro para embaixador do Brasil em Portugal. Nos bastidores, o que se fala é que Bezerra ficou profundamente descontente com a falta de apoio do governo na indicação ao cargo de ministro, enquanto ele atuou em prol do Executivo na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19 e na aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios.
O senador Flávio Bolsonaro chegou a atuar em prol de Bezerra no começo das articulações, e pediu votos para o então líder. No decorrer do processo, entretanto, ele recuou. Ao R7, Flávio afirmou que não se trata de recuo, mas que parou de pedir votos porque a orientação do presidente era de neutralidade e que a decisão caberia ao Senado. "Por isso que o pessoal perdeu a referência aqui. Eu só desci para o plenário para votar, votei e fui embora. Ninguém fala que eu estava articulando nada. Eu não falei com ninguém o dia inteiro", defendeu.
O senador admite que Bezerra ficou chateado com a situação. "Com certeza, ficou chateado. Ele esperava o apoio do presidente, e o presidente, na condição dele, avaliou que a vaga era de indicação do Senado e entendeu que seria melhor não se meter. (Bezerra) estava esperando um apoio mais ostensivo do presidente, mas tem que pensar no day after (no dia seguinte) e não só nessa votação", afirmou.
Apesar disso, ele acredita que o governo não perdeu um aliado. "Não sei, acho que não (perdeu um aliado). É possível conversar. O Fernando é uma pessoa centrada, competente, sabe que não teve interferência do governo de nenhum lado. Foi uma questão de conjuntura que não tem a ver com o governo", ressaltou, frisando que a situação não pegou mal ao governo, justamente porque não teve articulação alguma do Palácio do Planalto. "Quem mandava mensagens para ele (Bolsonaro), ele dizia 'estou neutro'", frisou o senador.
Flávio defendeu que, se o governo decidisse apoiar, causaria um 'racha' no Senado. "O que adianta fazer um ministro do TCU, o governo se intrometendo e perder a base ou dividir a base no Senado? Foi uma decisão do Senado, acertadamente. Porque se ele (Bolsonaro) elege o Bezerra, os outros iriam ficar chateados. Se ele não elege, ia ser derrota para o presidente e iria desagradar do mesmo jeito. Ele preferiu ficar neutro", reiterou.
Sobre o cenário da derrota, o senador avalia que os colegas da Casa decidiram dar um 'voto útil' no Anastasia, para evitar que houvesse um vitória da senador Kátia Abreu (PP-TO), que estava com o apoio do senador Renan Calheiros (MDB-AL).
"Por mais que a Kátia seja uma pessoa com autonomia, capacitada, que não é refém de dinheiro, acho que isso foi usado como argumento aqui. O pessoal ficou com medo de dividir votos entre o Fernando e o Anastasia, e acabar fortalecendo o grupo do Renan. E acabaram dando um voto útil no Anastasia. A minha leitura foi essa", explicou, afirmando que ninguém esperava que Bezerra tivesse apenas sete votos.