Greta: Posição de líderes brasileiros sobre Amazônia é vergonhosa
Em debate no Senado, ativista afirmou que governo brasileiro alimenta crise climática e que mundo não pode perder a Amazônia
Brasília|Isabella Macedo, do R7, em Brasília
A ativista sueca Greta Thunberg disse nesta sexta-feira (10), em audiência pública realizada pelo Senado, que é prioridade a necessidade de preservar a Amazônia, que chamou de “pulmão do mundo”, apelido que tem descrito a floresta internacionalmente ao longo dos anos. “O mundo não pode se dar ao luxo de perder a Amazônia, porque se a perdermos, provavelmente perderemos todas as chances de cumprir o Acordo de Paris e isso será uma sentença de morte para diversas pessoas em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil”.
“Vocês têm uma responsabilidade histórica e uma oportunidade de liderar o caminho, mas para isso vocês devem se unir em torno da ciência e dar a administração da terra de volta aos povos indígenas da Amazônia”, completou a sueca, de apenas 18 anos.
A ativista afirmou ainda que o mundo – especialmente o Brasil – tem dizimado povos indígenas por proteger a biodiversidade. Sem citar o nome do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a ativista pelo clima disse também que é vergonhoso como o país tem tratado a natureza e seus povos indígenas.
“O que os líderes brasileiros têm feito recentemente é absolutamente vergonhoso, especialmente à luz de como trata e vem tratando os povos indígenas e a natureza. O Brasil não começou essa crise [climática], mas seus líderes estão colocando combustível no fogo”, disse Greta.
O Senado realizou nesta manhã uma sessão de debates para discutir o Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o relatório, divulgado em agosto, a temperatura do planeta seguirá aumentando até, pelo menos, meados deste século.
“Até o fim do século 21, poderá ocorrer um aquecimento global acima de 1,5 °C e 2 °C, a menos que haja reduções profundas nas emissões de CO2 e outros gases de efeito estufa nas próximas décadas”, aponta a ONU, que também destacou a influência humana na aceleração do ritmo do aquecimento do planeta.
Greta também afirmou que projetos em discussão no Congresso Nacional são mortíferos aos povos indígenas. “Os recentes projetos de lei no Brasil são mais uma sentença de morte aos direitos dos indígenas, à biodiversidade e às futuras condições de vida no planeta Terra, já que acelerariam ainda mais as já desastrosas condições dentro e fora da Floresta Amazônica”.
A ativista participou por vídeoconferência e completou sua fala apontando que o Brasil tem despertado preocupação na comunidade internacional, que tem prestado ainda mais atenção ao andamento de políticas ambientais no País. “Pessoas ao redor do mundo inteiro estão observando vocês neste momento. Vocês irão tomar atitudes para ajudar a evitar os piores impactos da crise climática e ecológica? Vão apoiar os povos indígenas que vivem na Amazônia a cuidar dos pulmões do mundo? E vão estar do lado certo da história?”, finalizou a sueca de 18 anos.
Um dos projetos que causa preocupação em organizações pelos direitos indígenas e entidades de proteção à natureza, por exemplo, foi apelidado de “PL da Grilagem”, e foi aprovado na Câmara no início de agosto. O PL 2633/2020 tem por objetivo regularizar ocupações em terras da União, legalizando inclusive ocupações de grileiros de terras.
O Instituto Socioambiental (ISA) afirmou em nota, após a aprovação na Câmara, que o texto tem potencial de se tornar ainda mais nefasto para o meio ambiente e populações tradicionais. ”O texto aprovado permite a entrega de títulos de propriedade aos desmatadores e invasores sem checar se os danos ambientais que causaram foram recuperados. É um cheque em branco e um incentivo à criminalidade", afirmou à época Juliana de Paula Batista, advogada do ISA. O projeto ainda precisa ser votado pelo Senado.