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Inflação pode subir em 0,2% com aumento do IOF, calculam analistas

A partir desta segunda-feira (20), a alíquota do IOF sofrerá aumento efetivo de 36%, na comparação com as taxas anteriores

Brasília|Bruna Lima e Alan Rios, do R7, em Brasília

Especialistas comentam impactos do aumento
Especialistas comentam impactos do aumento

O aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a partir desta segunda-feira (20), não apenas trará repercussão direta com empréstimos, linhas de crédito e financiamentos mais caros para consumidores e empresas como também tende a impactar no preço dos produtos e serviços. Analistas calculam que a mudança pode fazer a inflação subir em 0,2% ao ano.

De acordo com o decreto publicado na última sexta-feira (17), a alíquota diária do IOF para pessoas físicas passará de 0,0082% (3% anual) para 0,01118% (4,08% anual). Já para as empresas, a taxa de 0,0041% (1,5% anual) aumenta para 0,00559% (2,04% anual). Estas variações vão valer até o fim de dezembro. Ou seja, o custo médio do crédito vai subir tanto para empresas quanto para o consumidor comum, deixando empréstimos e financiamentos mais caros.

A estimativa do aumento de 0,2% da inflação ao ano é do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF). Segundo o presidente da entidade, César Bergo, o cálculo corresponde ao efetivo aumento de custos do IOF para as empresas tomadoras de crédito. "Assim, a tendência é que este custo seja repassado para os preços", afirmou, ao R7.

O percentual, no entanto, depende da propensão das empresas de repassarem um novo preço dos produtos a partir do aumento dos custos nas operações. Com isso, a queda do consumo também tende a influenciar nesta conta. "O impacto maior é na expectativa do mercado. Isto enseja fatores que são difíceis de mensurar neste momento", pondera Bergo, avaliando que este cenário pode ser ainda mais maléfico para a economia brasileira.


O especialista pontua que o país já enfrenta uma crise em razão da pandemia, com alta de juros, da inflação e do desemprego, além da queda nos investimentos. "Assim, essa decisão de aumentar impostos interfere nas expectativas futuras dos agentes econômicos que preferiram reduzir ainda mais os investimentos em razão da falta de perspectivas e, em consequência, haverá aumento do desemprego."

Auxílio Brasil


O próprio governo federal já mensurou o impacto deste aumento para todas as transações envolvendo crédito, para onde recai o IOF. O objetivo é arrecadar R$ 2,14 bilhões com o aumento da alíquota, dinheiro que será investido no Auxílio Brasil, o novo Bolsa Família. Ao passo que este dinheiro será repassado aos beneficiários do programa, também será retirado do setor produtivo e das famílias que usam crédito.

A compensação, no entanto, é vista como prejudicial para o desenvolvimento econômico, e a esperada alta da inflação também recairá sobre os próprios assistidos pelo auxílio social. "É certo que o crédito ficará mais caro, agravado com a alta dos juros, inflação, queda da renda. Fica mais difícil para os consumidores em geral e para as empresas, sobretudo as que dependem mais de crédito bancário, de pequeno e médio porte", destaca o consultor legislativo e economista Roberto Piscitelli.


Consumo

Piscitelli avalia como razoável a projeção de aumento de 0,2% anual na inflação em razão do IOF, mas pondera ser difícil separar cada causa. O especialista ressalta, ainda, o impacto do aumento dos juros, que vem ocorrendo desde o início do ano e tende a continuar subindo nos próximos meses. No início de 2021, a taxa ainda girava na mínima histórica de 2% ao ano e, atualmente, quase triplicou: está em 5,25%. A tendência é que chegue a 8% nos próximos meses.

"O aumento do imposto desestimula o consumo, que depende do crédito pessoal, mas afeta também as empresas, especialmente as pequenas e médias, que dependem mais do crédito bancário, em condições em geral mais onerosas, cujo custo tende a ser repassado aos consumidores. A receita superveniente serviria para bancar parte do novo auxílio social, até que se defina uma fonte de custeio permanente e consistente. À medida é inflacionária e recessiva", explica Piscitelli.

Para o economista da G2W Investimentos, Vitor Hugo Fonseca, há diferentes efeitos do aumento do IOF na prática. “Mensurar o impacto na economia e na inflação é difícil, até porque é algo novo. Mas é certo que você tem esse impacto dúbio, da família tendo mais capital e consumindo — e você teria um aumento em inflação —, e da empresa tendo um custo maior — mesmo que no curto prazo, na sua produção, e isso sendo repassado aos poucos para o consumidor. Então, sim, deve ter um aumento da inflação, só é difícil de mensurar isso”, avalia.

Por outro lado, o economista André Rehbein Sathler acredita que o aumento do IOF não vai aumentar a inflação. “Esse IOF vai afetar consumo, seja por via dos financiamentos, seja por via da redução da renda das pessoas que têm muitos empréstimos. Então vai ter um impacto direto sobre o consumo, tendendo a reduzir, o que na prática é um efeito anti-inflacionário, e também tem o impacto de afastar investimentos das empresas”.

Porém, o especialista pontua que algumas empresas que pegam empréstimos podem tentar repassar os efeitos do custo para o consumidor. “E esse efeito, sim, é inflacionário, mas, na minha visão, os dois outros efeitos serão bem maiores e, nesse momento, serão efeitos de deprimir o PIB, sem impacto na inflação”.

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