Informe da Abin revela que Exército organizou trânsito para dar 'fluidez' a caravanas pró-Bolsonaro no DF
Mensagem foi repassada dois dias antes da invasão dos prédios dos Três Poderes, quando o movimento começou a se intensificar
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
Um informe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) revela que o Exército organizou um esquema especial de trânsito com o objetivo de "garantir maior fluidez" aos ônibus de caravanas com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que chegavam a Brasília rumo ao acampamento montado em frente ao quartel-general (QG). A mensagem foi enviada dois dias antes da invasão das sedes dos Três Poderes, justamente quando houve uma intensificação no número de manifestantes para participaram dos protestos organizados pelas redes sociais.
"Todos os acessos à Av. do Exército estão bloqueados. Perguntados sobre o motivo, militares responsáveis pelo balizamento de trânsito em dois pontos de acessos distintos deram a mesma resposta: a restrição destina-se a garantir maior fluidez aos ônibus de caravanas que estariam para chegar no QGEx", diz o informe.
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O R7 teve acesso à mensagem, que foi enviada pelo ex-secretário de Planejamento e Gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Leonardo Singer ao então diretor-adjunto da agência Saulo Cunha. A informação é referente a um levantamento das 14h45 do dia 6 de janeiro e, naquele momento, a percepção era a de que ainda não havia um aumento no número de pessoas acampadas. "Contudo, foram observados manifestantes chegando ao acampamento trazendo água e comida", completa.
A informação deve ser alvo de questionamentos ao general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), no depoimento que ele dará à CPMI do 8 de Janeiro marcado para esta quinta-feira (14). Ele será questionado pela atuação no comando das tropas no monitoramento do acampamento em frente ao quartel-general.
Dutra é suspeito de ter barrado o desmonte da mobilização pela Polícia Militar do DF após os atos extremistas do 8 de Janeiro. Em depoimento à CPI na Câmara Legislativa, Dutra disse que o Exército sempre teve a intenção de "desmotivar" o acampamento, mas que ele não era ilegal.
Também à CPI dos deputados distritais, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres afirmou que "a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal por mais de duas vezes tentou tirar aqueles manifestantes e contou com a negativa do Exército". "O Exército nunca permitiu que se tomasse alguma medida em relação àquelas pessoas enquanto elas estavam ali acampadas", disse, em 10 de agosto.
Questionado sobre o informe trocado entre os ex-Abin, o Centro de Comunicação Social do Exército informou "que aguarda as apurações de todos os fatos pelas autoridades competentes" e que "não se manifesta sobre processos investigativos conduzidos por outros órgãos".
Blindagem
As conversas foram obtidas pelo R7 e fazem parte do rol de documentos sigilosos da CPMI que apura os ataques do 8 de Janeiro. Nelas, Singer e Cunha também discutem estratégias para "blindar" a Abin das consequências dos atos.
Singer também informou a seu superior sobre a necessidade de alertar o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, general Gonçalves Dias, sobre a existência de um infiltrado que teria facilitado o acesso de extremistas a armas guardadas no Palácio do Planalto durante as invasões.