Investigação aponta ligação do youtuber Klebim com bicheiro
A relação entre eles está na mira de investigações da Polícia Civil; defesa do influenciador nega envolvimento
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
Uma possível ligação do youtuber Kleber Rodrigues de Moraes, o Klebim, suspeito de integrar uma associação criminosa interestadual que pratica jogo de azar e lavagem de dinheiro, com José Olímpio de Queiroga Neto, apontado por investigações policiais como um dos maiores bicheiros do Distrito Federal, está na mira da Polícia Civil do DF.
Olímpio é braço direito de outro bicheiro famoso: Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, condenado pelos crimes de contrabando de máquinas caça-níqueis, peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha. A defesa de Klebim nega o envolvimento do youtuber com os bicheiros.
Investigações conduzidas pela polícia mostram que, logo após ter sido solto, em março do ano passado, Klebim foi contratado para ser garoto-propaganda de uma plataforma de sorteios de propriedade de Olímpio. Nessa época, o youtuber já havia sido denunciado pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A investigação revelou que a plataforma funciona vendendo números da sorte, franqueando ao comprador o acesso a cursos e notícias. Até dezembro, três carros haviam sido sorteados no site, um deles entregue ao vencedor por Klebim, em novembro de 2022.
A empresa tem licença para realizar sorteios, no entanto, a polícia verificou que a marca pertence a José Olímpio e é administrada por uma sobrinha dele, via procuração. Segundo a investigação, em seis meses, a empresa movimentou R$ 9 milhões, valor incompatível com o faturamento declarado. Isso acendeu um lerta na polícia, que constatou que a empresa tem parte da renda na informalidade e que os recursos são provenientes de atividade não declarada.
Ao R7, a defesa de Klebim classificou a ligação do youtuber com os bicheiros de "absurda". Segundo o advogado do influenciador, o contrato com a plataforma de sorteios foi firmado para promover a divulgação da plataforma, mas Klebim não tem ligação pessoal com José Olímpio nem tem controle das transações contábeis da empresa.
O R7 tenta contato com José Olímpio. O espaço segue aberto.
Ligação entre José Olímpio e Carlinhos Cachoeira
Segundo investigações, no grupo de pessoas próximas a Carlinhos Cachoeira, José Olímpio era um dos homens com maior prestígio. Cachoeira teria confiado a ele o gerenciamento de casas de jogos de azar, instaladas principalmente nas cidades do Entorno de Brasília. Além de organizar a operacionalização do esquema, Olímpio era responsável por cuidar dos investimentos de Cachoeira.
Dos acusados de envolvimento no esquema de exploração de jogos ilegais e corrupção em Goiás e no Distrito Federal, sob o comando de Cachoeira, apenas um, o corretor de imóveis Francisco Marcelo de Sousa Queiroga, irmão de José Olímpio, confessou participação, e informou que prestava conta e repassava 60% do faturamento a Olímpio.
Cachoeira foi preso pela primeira vez em 29 de fevereiro de 2012, na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), por comandar um esquema de jogos de azar em Goiás e no Distrito Federal, com envolvimento de políticos.
Ele foi condenado a 39 anos de prisão nesse processo por peculato, corrupção ativa, violação de sigilo e formação de quadrilha. No entanto, quatro dias depois conseguiu um habeas corpus e foi solto.
Leia também: Polícia Federal faz megaoperação contra exploração do jogo ilegal no Rio
Voltou a ser preso em junho de 2016 no condomínio em Goiânia (GO), na Operação Saqueador, deflagrada pela PF e pelo Ministério Público Federal (MPF). A ação apurava lavagem de dinheiro e desvio de verbas em obras públicas. A investigação apontou um esquema que desviou R$ 370 milhões de cofres públicos.
Segundo o MPF, na época, Cachoeira era responsável por criar empresas e contratos fictícios com a construtora Delta. O valor era sacado e usado para pagamento de propinas. Após a prisão, ele foi levado para o Rio de Janeiro, onde ficou por pouco mais de um mês.
O bicheiro ainda chegou a ser preso outras duas vezes, em 2017 e em 2018. A última prisão foi por corrupção e fraude em licitação da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj).
Prisão de Klebim
Klebim foi preso na Operação Huracán, da Polícia Civil, em março de 2022. Segundo as investigações, o influenciador integrava uma associação criminosa interestadual que praticava jogo de azar e lavagem de dinheiro. Como tem milhões de seguidores nas redes sociais, Klebim conseguia vender facilmente os bilhetes e arrecadava valores astronômicos.
As rifas eram negociadas por meio de plafaformas digitais, e o dinheiro caía diretamente na conta das empresas de fachada, segundo a polícia. Os valores eram utilizados para comprar novos veículos, registrados em nome de testas de ferro.
O esquema, de acordo com a investigação, "era altamente lucrativo", e apurou-se que foram movimentados R$ 20 milhões em dois anos. Com autorização judicial, foram apreendidos durante a operação veículos de luxo, entre eles um Lamborghini Huracán e uma Ferrari 458 Spider, avaliados, cada um, em R$ 3 milhões. Também foi sequestrada uma mansão no Park Way e determinado o sequestro de R$ 10 milhões das contas dos investigados.