Lula defende proibição de celulares nas salas de aula
Ministério da Educação elabora projeto de lei para ser avaliado pelo Congresso Nacional
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira (24) a proibição de celulares dentro das salas de aula das escolas brasileiras. A afirmação foi feita para outros líderes de Estado em Nova York, nos Estados Unidos, durante fórum em defesa da democracia organizado por Lula em parceria com o presidente espanhol, Pedro Sánchez. O encontro ocorreu às margens da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), cuja abertura nesta terça (24) contou com discurso do petista.
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“Estamos, inclusive, discutindo um projeto de lei em que vamos tentar não permitir celular na sala de aula. Vai ser uma coisa difícil. Tenho dito que talvez eu seja o presidente que vai ter passeata de menino de 6, 7, 8 anos contra o presidente Lula porque ele quer um celular. Hoje estamos vendo as mães, quando uma criança chora, em vez de fazer um carinho, pega e dá um tablet, um celular, para ela fazer qualquer coisa. Estamos percebendo a gravidade que isso pode representar”, alertou Lula.
Como o R7 mostrou na última sexta (20), o MEC (Ministério da Educação) trabalha uma proposta para proibir o uso de telefones celulares nas salas de aula das escolas do país. Sem apontar mais detalhes, a pasta federal informou à reportagem, em nota, que o tema será tratado por meio de um projeto de lei. A expectativa do ministério é enviar o texto ao Legislativo no próximo mês. Informações sobre os ambientes das escolas com banimento aos aparelhos e quais instituições seriam abrangidas — de ensino fundamental e médio, por exemplo —, ainda não foram apresentadas pela pasta.
A declaração de Lula em defesa da medida foi feita no encerramento do fórum. O brasileiro comentava a popularização das apostas online entre os brasileiros. “O que estamos vendo no Brasil é o jogo, aquele pela televisão, o jogo de apostas. O Brasil sempre foi contra cassino e qualquer tipo de jogo de azar. Hoje, através de um celular, o jogo está dentro das casas das famílias, dentro da sala. Estamos percebendo no Brasil o endividamento das pessoas mais pobres, tentando ganhar dinheiro fazendo aposta. Esse é um problema que vamos ter que regular, senão, daqui a pouco, vamos ter cassinos funcionando dentro da cozinha de cada casa”, observou.
O petista aproveitou para defender novamente a regulação das plataformas digitais, como ponto de partida para tratar dos demais temas, inclusive em âmbito global. “Eu, sinceramente, acho que temos que fazer um debate muito transparente com a sociedade, ouvir os especialistas, os cientistas, as pessoas que entendem. Mas, nós precisamos [discutir e regular] a nível universal, não é solução para um só país, seja na ONU, no G20, no G7. Porque, de repente, você tem um cidadão que se transformou no mais rico do mundo, que ousa desafiar a constituição dos países que não concordam com ele. Onde vamos parar? Como a democracia vai se sustentar?”, questionou Lula, em referência ao bilionário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter).
Recentemente, devido ao descumprimento de ordens da Justiça do Brasil e após longo período de embates públicos do bilionário com o sistema judiciário brasileiro — em especial o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes — o X foi suspenso do Brasil.
Celulares nas salas de aula
O estudo TIC Educação 2023, divulgado no mês passado, aponta que 64% das escolas de ensino fundamental e médio do Brasil já implementaram restrições aos aparelhos. Entre os colégios que atendem crianças menores, a proibição dos dispositivos aumentou de 32% em 2020 para 42% no ano passado.
Ainda segundo o levantamento, a extinção dos aparelhos em escolas de ensino médio existe em apenas 8% das instituições pesquisadas. A pesquisa foi feita em 3 mil escolas públicas e particulares de todo o país.
As restrições de acesso não abrangem o uso de tecnologias nas salas de aula — 92% dos colégios de ensino fundamental e médio têm internet, proporção que era de 82% há três anos. A tendência, inclusive, é de crescimento da presença de rede em escolas com maiores dificuldades de conectividade. Nas instituições rurais, a taxa passou de 52%, em 2020, para 81%, em 2023; nas cidades, número cresceu de 71% para 89%.
Há, ainda, colégios que restringem o uso do celular e limitam o acesso à internet de estudantes. Das escolas de ensino fundamental e médio com wi-fi, 58% tem redes com senhas, resultado que foi de 48% em 2020. Em 26% dessas instituições, a conexão é livre para os alunos, dado que ficou em 35% há três anos.
Apoio às restrições
A limitação do uso do celular dentro da sala de aula tem o apoio de mais de 70% dos pais, segundo pesquisa de agosto do Instituto Real Time Big Data para o Fala Brasil. As entrevistas foram feitas em todo o Brasil. Apenas 24% pensam que o celular pode fazer parte da vida escolar dos estudantes. Em relação ao potencial educativo dos aparelhos nas aulas, 30% afirmaram que pode ser uma ferramenta útil; entre os jovens pais (18 a 24 anos), esse percentual sobe para 40%.
O estudo mostra, ainda, que 72% acreditam que o uso do celular distrai os alunos e apenas 19% concordam com a proibição total do aparelho nas instituições educacionais. Quase 80% conversam com os filhos sobre o uso consciente do dispositivo nas escolas; entretanto, cerca de 40% não controlam quanto tempo as crianças passam em frente às telas.
A especialista consultada afirma que é importante estabelecer limites rigorosos para evitar problemas como dificuldades na aprendizagem e questões sociais entre crianças devido ao excesso no uso das telas. Ao todo, 72% dos pesquisados já participaram de reuniões escolares discutindo a presença do celular nas aulas e 87% consideram essencial ensinar aos alunos sobre seu uso seguro na escola. A responsabilidade pela orientação cabe tanto à escola quanto aos pais.