Lula volta a criticar Campos Neto e diz que fará indicações ao STF 'sozinho'
Petista atacou a política monetária conduzida pelo presidente do BC e deu prazo para enviar o novo arcabouço fiscal ao Congresso
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar nesta terça-feira (21) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e disse que é "absurda" a manutenção da taxa de juros em 13,75%. O petista também atacou a privatização da Eletrobras e disse que fará indicações sozinho ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Procuradoria-Geral da República (PGR).
“A primeira coisa que acho absurda é a taxa de juros estar a 13,75% em um momento em que temos o juro [real] mais alto do mundo, em que não existe uma crise de demanda. Ainda temos 33 milhões de pessoas passando fome, desemprego crescendo, a massa salarial caindo. Então, não há nenhuma razão, nenhuma explicação, nenhuma lógica”, afirmou o petista em entrevista ao site Brasil 247.
O presidente defende o rebaixamento da taxa de juros à casa dos 8%. Lula também disse que Campos Neto não tem "compromisso com a lei que foi aprovada de autonomia do BC". Segundo ele, o presidente do BC não "se importa" com o controle da inflação e com o desemprego. "Vou continuar batendo", finalizou.
Confira os principais pontos da entrevista:
Indicações ao STF e PGR
Sobre as indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à PGR, Lula disse que fará a escolha sozinho e que não tem "compromisso oficial com ninguém".
"Não vou indicar um ministro por ser meu amigo. Não quero indicar para fazer coisa para mim. Quero indicar um ministro da Suprema Corte que seja uma figura competente do ponto de vista jurídico e que esse cidadão exista lá para que a Constituição da República seja respeitada. É isso", afirmou.
Sobre a indicação do novo procurador-geral da República, Lula disse que vai "ignorar" a lista tríplice. O mandato de Augusto Aras termina em setembro.
Novo arcabouço fiscal
Segundo o petista, o novo arcabouço fiscal — que deve substituir o teto de gastos — vai ser decidido após viagem à China. O presidente embarca para o país asiático no próximo sábado (25).
"É preciso discutir um pouco mais. A gente não tem que ter a pressa que algumas pessoas do setor financeiro querem", ressaltou. Havia expectativa da equipe econômica de anunciar a nova regra fiscal antes da viagem.
Lava Jato
Lula disse que a operação "quebrou" empresas de engenharia e que a força-tarefa deveria ter prendido empresários, mas mantendo o funcionamento das empresas.
"Muitos confessaram que fizeram bobagem, e se fizeram bobagem têm que pagar o preço de fazer bobagem. O que não dá é para um país do tamanho do Brasil, com as empresas de engenharia que tinha, ter de trazer empresas chinesas, espanholas para fazer uma obra qualquer."
Petrobras
Lula disse que o governo quer retomar o controle da Petrobras e da Eletrobras. Segundo o presidente, alguns absurdos na Petrobras não vão “ficar por isso mesmo”.
"A Petrobras não é apenas uma empresa de petróleo, é empresa de energia. Não pode ser empresa vendedora para ter lucro de R$ 200 bilhões para distribuir para acionistas, quando metade desse dinheiro podia ser investimento para pesquisar novas fontes de energia", disse.
"Estamos entrando na Justiça contra a votação sobre o peso da Petrobras na direção da empresa e nós entramos também na Justiça com relação ao preço pra ser vendido da Petrobras. O salário dos diretores aumentou de R$ 60 mil para R$ 360 mil por mês, um cidadão que está num conselho ganha R$ 200 mil para participar de uma reunião por mês. Esses absurdos, estamos vendo como mudar", comentou.
Eletrobras
Sobre a Eletrobras, Lula disse que a venda da estatal foi uma "loucura". "Venderam a Eletrobras parece que por R$ 36 bilhões, e esse dinheiro é utilizado pra pagar a dívida pública, não existem sinais de baixar o preço da energia e, mais grave ainda, fizeram loucura: embora o governo tenha 40% das ações, só participa da votação com 10%. Foi feito pra proibir a gente de tomar de volta. Espero que um dia, se tivermos condições, a gente volte a ser o dono."
Mal-estar com Márcio França
O presidente minimizou a saia justa com o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, quando ele anunciou um programa que pretende viabilizar passagens aéreas a R$ 200. Lula teve de chamar uma reunião ministerial e deu uma "bronca" nos titulares das pastas. O presidente reafirmou que qualquer proposta, independentemente da área, deve ter o aval do Palácio do Planalto.
Segundo o petista, o anúncio feito antes da hora é "vontade de trabalhar" do ministro.
Reforma do ensino médio
Lula informou que se reuniu com o ministro da Educação, Camilo Santana, e disse que o governo federal fará uma nova proposta para a construção de uma nova discussão sobre o ensino médio. "Não vai ser do jeito que está", enfatizou o petista. Entidades e grupos estudantis têm pedido a revogação da proposta, que entrou em vigor em 2023.
Militares
Lula citou os atos extremistas de 8 de janeiro e disse que há um esforço para "despolitizar" as Forças Armadas. "Nós vamos discutir com o Congresso Nacional e enviar um projeto de lei, dizendo que quem quiser ser candidato a alguma coisa que vá para a reserva. O que não pode é ficar utilizando as Forças Armadas para fazer política. As Forças Armadas têm que atender o presidente da República independentemente de qualquer partido", disse.
Vingança contra Sergio Moro
Lula relembrou os meses preso e disse que pensava em vingaça contra o ex-juiz e agora senador Sergio Moro (União-PR). "De vez em quando ia um procurador, de sábado ou de semana, para visitar, ver se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores, e perguntavam ‘tá tudo bem?’, e [eu respondia] ‘não tá tudo bem, só vai estar bem quando eu f… esse Moro'”, disse.
“‘Eu tô aqui para me vingar dessa gente’, eu falava todo dia que eles entravam lá, ‘se prepare que eu vou provar [inocência]'”, comentou.