Mensagens e ‘plano homicida’ marcam 1º dia de julgamento de ‘operadores’ da trama golpista
PGR expõe interferência eleitoral e plano violento enquanto defesas tentam afastar réus da trama; julgamento segue na semana que vem
Brasília|Luiza Marinho*, do R7, em Brasília
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A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) iniciou na terça-feira (9) o julgamento do núcleo 2 da trama golpista, grupo apontado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como responsável por operar a gestão do plano, desde o monitoramento de autoridades até o direcionamento de operações policiais nas eleições de 2022.
Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o conjunto de provas demonstra uma “ação incessante, coordenada e crescente” para interferir no pleito e criar condições para impedir a posse de Lula.
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O núcleo, de acordo com a PGR, atuava como centro operacional das etapas mais estratégicas da trama: elaborou a “minuta do golpe”, mapeou regiões eleitorais consideradas “desfavoráveis”, usou grupos de mensagens para coordenar ações policiais e chegou a planejar o assassinato de autoridades por meio do plano “Punhal Verde e Amarelo”.
A próxima sessão está marcada para terça-feira (16) da semana que vem.
Veja quem são os integrantes do grupo
- Fernando de Sousa Oliveira – delegado da Polícia Federal
- Filipe Garcia Martins Pereira – ex-assessor internacional da Presidência
- Marcelo Costa Câmara – coronel da reserva e ex-assessor da Presidência
- Marília Ferreira de Alencar – delegada e ex-diretora de Inteligência da PF
- Mário Fernandes – general da reserva
- Silvinei Vasques – ex-diretor-geral da PRF
Fernando de Sousa
Delegado da Polícia Federal e ex-diretor de Operações do Ministério da Justiça, Fernando de Sousa Oliveira é acusado pela PGR de produzir relatórios de inteligência usados para montar operações da PRF (Polícia Rodviária Federal) que dificultariam o voto de eleitores do Nordeste no segundo turno.
A defesa buscou desconstruir o vínculo entre os relatórios e as ações da PRF, argumentando que Oliveira não tinha comando sobre a corporação e nem poder para liberar recursos extras usados nas blitze.
O criminalista Guilherme de Mattos Fontes destacou que três pedidos de verbas suplementares feitos pela PRF foram negados por Oliveira e que a liberação final ocorreu sem seu conhecimento:
“A liberação de verbas, que aconteceu à revelia de Fernando, sem o seu conhecimento, foi o que permitiu que a Polícia Rodoviária Federal colocasse mais homens na rua”, afirmou o advogado.
Filipe Garcia
Garcia é apontado como um dos responsáveis por apresentar a Bolsonaro uma versão da minuta do golpe, o ex-assessor internacional Filipe Martins tenta se afastar da autoria do documento.
Segundo delação de Mauro Cid, Martins entregou ao então presidente um rascunho de decreto que previa prisão de autoridades e convocação de novas eleições.
A defesa, porém, sustenta que o assessor era uma figura secundária e sem influência decisiva no governo.
O advogado Jeffrey Chiquini adotou uma estratégia agressiva ao apontar Cid como verdadeiro criador da minuta. Ele afirmou que o ex-ajudante de ordens usou seu cliente como “bode expiatório” para reduzir a própria responsabilidade:
“Mauro Cid criou a minuta golpista. A minuta é dele. Ele escreveu a minuta do golpe. Ele apresentou aos comandantes. Mauro Cid criou Filipe Martins para jogar essa responsabilidade”, cravou Chiquini.
Segundo o defensor, Martins atuava apenas como um “tradutor” no governo, sem contato direto ou peso hierárquico diante das Forças Armadas.
Marília Alencar
Apontada pela PGR como responsável por um projeto de inteligência que filtrou regiões eleitorais com forte votação em Lula, Marília é acusada de usar análises internas para orientar a atuação da PRF.
Uma testemunha afirmou ter ficado “perplexa” com as solicitações, pois a função do setor era proteger o processo eleitoral — não direcionar operações.
A defesa, porém, tenta dissociar as análises do contexto golpista. “As mensagens nao dao uma certeza que era sobre aquilo [tentativa de golpe] que ela estava falando. isso nao é uma prova definitiva”, disse Eugênio Aragão, seu advogado.
Marcelo Câmara
O coronel da reserva e ex-assessor da Presidência, Marcelo Câmara, é acusado de monitorar autoridades como Alexandre de Moraes para os preparativos do plano.
O advogado Eduardo Kuntz buscou afastá-lo da articulação. “Não participou e qualquer reunião e não sabia que os outros se encontravam para gerir tal plano. Ele não usava redes sociais, bem como não incentivou qualquer ato antidemocrático”, afirmou.
A estratégia do advogado foi reforçar que Câmara era subordinado às demandas administrativas de Mauro Cid, descrito como “autor intelectual” de pedidos de informações.
Kuntz chegou a pedir desculpas ao ministro Alexandre de Moraes pelo uso do codinome “professora”, afirmando que não havia intenção criminosa.
Mário Fernandes
Considerado pela PGR o elo com setores mais violentos da organização, o general Mário Fernandes admitiu em juízo ter redigido o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa assassinato de autoridades.
Seu advogado, Marcos Vinícius Figueiredo, iniciou sua defesa lamentando a resposta de Moraes frente à questão de ordem levantada por ele para que o ministro Luiz Fux participasse do julgamento e recuou do termo “plano”.
“Não houve plano nenhum. A PF qualifica como plano porque foi o evento que gerou a prisão dele. Agora, ali não era um plano. Se tratava de um arquivo encontrado no HD dele. Uma análise de consequências e efeitos colaterais”, disse.
Ele argumenta que não havia estratégia para tomada do poder e que o material não configuraria ação golpista.
Silvinei Vasques
Ex-diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques é apontado como responsável por articular fiscalizações intensificadas no Nordeste, região de maior apoio a Lula.
Relatórios anexados ao processo mostram discrepâncias entre o planejamento inicial e um documento produzido dias antes do segundo turno, com reforço de postos e apreensões.
A delação de Mauro Cid também o coloca próximo a Bolsonaro. Segundo a PGR, Silvinei teria buscado, desde o início da gestão, aproximar a PRF do então presidente, atuando “fora de suas atribuições”.
Eduardo Pedro Nostrani “A atuação da PRF se baseia em dados técnicos e não em preferência eleitoral”, disse o advogado Eduardo Pedro Nostrani ao defender Vasques.
Grupo de mensagens
Um dos pontos centrais da acusação é o grupo de mensagens utilizado para troca de informações entre Marília Alencar e Fernando Oliveira.
Embora apresentado pelos investigados como um espaço informal, Gonet afirmou que as conversas revelam intenção de direcionar operações da PRF no segundo turno, concentrando ações em cidades onde Lula teve mais de 75% dos votos.
Segundo o procurador, o grupo não era um canal trivial. “O grupo ‘Em Off’ não era apenas um espaço para amenidades, mas sim utilizado para aplicar as ações da organização criminosa”, disse.
Em outra mensagem, Fernando teria afirmado que faltavam “cinco milhões de votos” para alterar o resultado da eleição.
A PGR também associa esses réus a uma postura “passiva e permissiva” durante os ataques de 8 de janeiro, contribuindo para que a violência prosperasse e alimentasse o cenário de caos buscado para justificar medidas de exceção.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles
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