Michelle Bolsonaro será chamada a depor na Polícia Federal sobre joias
A ex-primeira-dama é citada na investigação sobre o suposto desvio de presentes do acervo da Presidência da República
Brasília|Hellen Leite e Camila Costa, do R7, em Brasília
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro vai ser chamada a depor na Polícia Federal para explicar os supostos desvios de presentes do acervo da Presidência da República, confirmou ao R7 uma fonte na corporação. Em uma troca de mensagens descoberta pela PF, um dos assessores de Jair Bolsonaro (PL) relatou ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid que um dos kits de joias recebidos no Palácio do Planalto "sumiu" com a ex-primeira-dama.
"O que já foi já foi. Mas se esse aqui tiver ainda, a gente certinho pra não dar problema [sic]. Porque já sumiu um que foi com a dona Michelle; então pra não ter problema”, disse Marcelo Câmara em uma mensagem de áudio.
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Os assessores de Bolsonaro discutiam sobre o chamado "kit ouro rosé", composto de um relógio da marca Chopard, avaliado entre R$ 587 mil e R$ 685 mil, e outras joias. A PF alega que os itens foram desviados do acervo privado da Presidência para venda ilegal.
Segundo a corporação, as mensagens revelam que outros presentes recebidos por Jair Bolsonaro podem ter sido desviados e vendidos sem que fossem respeitadas as restrições legais.
Ao receber um presente de alto valor, como no caso das joias, o presidente deve fazer a entrega ao acervo oficial — ou seja, os bens são públicos. Ao conversar sobre esse tema, Cid pede a Câmara que ligue para Marcelo da Silva Vieira, que é o ex-chefe do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República.
"Mas liga pra ele. Ele tinha me falado, ele me garantiu que poderia, que o presidente poderia fazer o que quisesse, porque isso são itens personalíssimos [...]", diz Cid.
"Eu falei com ele [Bolsonaro] sobre isso, Cid. Aí ele me falou que tem esse entendimento, sim. Mas que o pessoal questiona, porque ele pode dar, pode fazer o que ele quiser. Mas tem que lançar na comissão, memória, entendeu? [...]", responde Câmara.
Deputado apresenta pedido para reter passaporte de Bolsonaro
O deputado Rogério Correia (PT-MG) apresentou nesta sexta-feira (11) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro um requerimento com pedido de retenção do passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro. O deputado fundamentou a solicitação nas investigações da Polícia Federal que indicam o uso do avião presidencial para levar joias, esculturas e objetos de valor, todos do patrimônio público.
Cid tentou leiloar presentes nos Estados Unidos
A investigação da Polícia Federal também mostra que Mauro Cid tentou leiloar parte das joias nos Estados Unidos. Segundo as mensagens interceptadas pela PF, ele negociou as peças do kit ouro rosé com leiloeiros em Miami e em Nova York. A empresa escolhida para intermediar os negócios foi a Fortuna Auctions.
O número de série do relógio anunciado no site é o mesmo registrado no acervo do ex-presidente, em 29 de novembro de 2022.
As joias foram enviadas aos Estados Unidos em dezembro de 2022 no avião da Presidência da República. Segundo a apuração da PF, as tratativas para a negociação dos itens começaram em 19 de dezembro de 2022.
Em 8 de fevereiro de 2023, o kit foi submetido a leilão, mas, segundo o relatório da PF, não foi vendido, "por circunstâncias alheias à vontade dos investigados". Logo após a tentativa frustrada, e com a divulgação da existência das joias pela imprensa, Cid teria organizado uma "operação de resgate" dos bens.
Nessa operação, as joias foram enviadas à cidade de Orlando, na Flórida, onde o ex-presidente da República estava morando na época. Bolsonaro deixou o Brasil em 30 de dezembro de 2022 e retornou ao país em 30 de março de 2023.
Segundo a PF, o fato de as joias não terem sido vendidas no leilão possibilitou ao ex-presidente devolver os bens à Receita Federal, em março deste ano, após a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nas mensagens, Mauro Cid e Marcelo Câmara lamentam o fato de o kit não poder ser vendido. "Só dá pena, porque estamos falando de US$ 120 mil", diz a mensagem. Câmara concorda, mas faz um alerta: "O problema é depois justificar para onde foi. De eu informar para a comissão da verdade. Rapidamente vai vazar". A resposta demonstra que o material não tinha sido registrado conforme a legislação.
Entenda a operação
A Polícia Federal cumpre nesta sexta-feira (11) quatro mandados de busca e apreensão, em uma operação de combate a crimes de peculato e lavagem de dinheiro ligados ao caso das joias recebidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro de Estados estrangeiros. Os investigados são suspeitos de ter vendido joias e presentes oficiais recebidos por ele.
De acordo com a PF, teria sido utilizada "a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado, por meio da venda desses itens no exterior".
As quantias obtidas com essas operações "ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados por meio de pessoas interpostas e sem usar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, a localização e a propriedade dos valores". A Polícia Federal não informou o lucro que os suspeitos teriam obtido com a venda das joias e dos presentes.