Mauro Cid colocou parte de joias em leilão nos Estados Unidos, mas lote não teve comprador; vídeo
Kit registrado no acervo pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro e posto em leilão foi avaliado entre R$ 587 mil e R$ 685 mil
Brasília|Hellen Leite, Bruna Lima e Rafaela Soares, do R7, em Brasília
Um dos kits de joias recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro do governo da Arábia Saudita foi posto em leilão em um site nos Estados Unidos (veja imagens abaixo). A investigação da Polícia Federal encontrou o chamado Kit Rosé, um conjunto de itens masculinos da marca Chopard que contém uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um item religioso árabe (masbaha) e um relógio, recebidos em outubro de 2021 pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. O kit posto em leilão foi avaliado entre R$ 587 mil e R$ 685 mil.
Segundo as mensagens interceptadas pela Polícia Federal, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, negociou as peças com leiloeiros em Miami e Nova York. A empresa escolhida para intermediar os negócios foi a Fortuna Auctions.
O número de série do relógio anunciado no site é o mesmo registrado no acervo privado do ex-presidente, recebido em 29 de novembro de 2022.
As joias foram enviadas aos Estados Unidos em dezembro de 2022, por meio do avião da Presidência da República. Segundo a apuração da PF, as tratativas para a negociação dos itens começaram em 19 de dezembro de 2022.
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No dia 8 de fevereiro de 2023, o kit foi submetido a leilão, mas, segundo o relatório da PF, não foi vendido "por circunstâncias alheias à vontade dos investigados". Logo após a tentativa frustrada, e com a divulgação da existência das joias pela imprensa, Cid organizou uma "operação de resgate" dos bens.
Nessa operação, as joias foram enviadas à cidade de Orlando, na Flórida, onde o ex-presidente da República estava morando na época. Bolsonaro deixou o Brasil no dia 30 de dezembro de 2022 e retornou ao país em 30 de março de 2023.
A operação de resgate dos bens teve a participação de outro assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, e do segundo-tenente Osmar Crivelatti, um dos homens de confiança da família Bolsonaro.
Segundo a PF, o fato de as joias não terem sido vendidas no leilão permitiu ao ex-presidente que devolvesse os bens à Receita Federal, em março deste ano, após a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nas mensagens, Mauro Cid e Marcelo Câmara lamentam o fato de o kit não poder ser vendido. "Só dá pena porque estamos falando de 120 mil dólares", diz a mensagem. Marcelo concorda, mas faz um alerta: "O problema é depois justificar para onde foi. De eu informar para a comissão da verdade. Rapidamente vai vazar". A resposta demonstra que o material não tinha sido devidamente registrado conforme a legislação.
Entenda a operação
A Polícia Federal cumpre nesta sexta-feira (11) quatro mandados de busca e apreensão em uma operação de combate a crimes de peculato e lavagem de dinheiro ligados ao caso das joias recebidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro de governos estrangeiros. Os investigados são suspeitos de vender joias e presentes oficiais recebidos pelo ex-presidente.
De acordo com a PF, eles teriam utilizado "a estrutura do Estado brasileiro para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado, por meio da venda desses itens no exterior".
As quantias obtidas com essas operações "ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados por meio de pessoas interpostas e sem usar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, a localização e a propriedade dos valores". A Polícia Federal não informou o valor que os suspeitos teriam obtido com a venda das joias e dos presentes.