Quem é quem na operação da PF que investiga 'Abin paralela'; entenda o suposto esquema ilegal
Agentes realizaram buscas em endereços de Alexandre Ramagem e Carlos Bolsonaro, além de policiais federais e assessores
Brasília|Rafaela Soares, do R7, em Brasília
A Polícia Federal investiga, desde 2023, o suposto uso ilegal de uma ferramenta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar autoridades brasileiras, como os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Os agentes já fizeram buscas em endereços ligados ao deputado federal e ex-diretor-geral da agência, Alexandre Ramagem (PL-RJ), e do vereador e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Até agora, a investigação conseguiu indícios que milhares de pessoas foram vigiadas durante o período.
Confira abaixo quem é investigado por envolvimento com o suposto esquema e o papel de cada um
Alexandre Ramagem e policiais federais – Cúpula da ‘Abin Paralela’
A PF apontou a atuação de três núcleos de espionagem ilegal dentro da Abin. A chamada Cúpula, formada por delegados federais cedidos para a agência, exercendo funções de direção e utilizando o sistema First Mile para o suposto monitoramento ilegal, seria forma pelo deputado Alexandre Ramagem, que à época era diretor-geral da Abin, e o delegado da PF Carlos Afonso Gonçalves, ex-diretor do Departamento de Inteligência Estratégica.
Uma operação da PF realizou buscas em endereços ligados a Ramagem na última quinta-feira (25). O R7 apurou que, durante o cumprimento dos mandados, um notebook e um celular pertencem à Abin foram encontrados. Na mesma operação, sete policiais foram afastados das funções públicas.
Carlos Bolsonaro e o ‘núcleo político’
Na nova fase da operação, deflagrada nesta segunda-feira (29), os investigadores cumpriram nove mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao vereador e filho do ex-presidente e de outros três alvos. A etapa foca em tentar identificar "os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas". A corporação se refere ao grupo como "núcleo político" do esquema.
No endereço de um dos alvos, um militar cedido pra Abin na época do Ramagem, foi encontrado um computador que também pertence à Abin. A mulher do militar é servidora da agência.
First Mile - o programa ‘espião’
O uso irregular de um sistema da Abin para monitorar autoridades brasileiras, como os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes começou a ser investigado em 2023. De acordo com a apuração, o programa First Mile permitia o monitoramento de milhares de pessoas. Em outubro, a PF informou que foram feitos 30 mil acessos. Na semana passada, a corporação declarou que não era possível precisar esse número porque os dados estavam ainda em análise.
Segundo fontes da Abin ouvidas pela RECORD, o uso da ferramenta não é considerado crime em consultas feitas para dar andamento em investigações, por exemplo. Nesses casos, os agentes envolvidos na apuração ligam para as operadoras e pedem dados de algum suspeito.
Os interlocutores explicam que as investigações apuram se houve a existência de um grupo formado por pessoas, que não eram funcionários de carreira da Abin, que teriam utilizado a máquina pública com objetivos pessoais.
Segundo a Polícia Federal, para acionar o sistema de geolocalização e ter acesso às informações das pessoas, bastava digitar o número do celular. A aplicação também criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
Os monitorados ilegalmente
A investigação revelou que a Abin foi utilizada para monitorar ilegalmente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo fontes ligadas à PF, os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes estão na lista de suposta espionagem irregular.
O nome do ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (PSDB-RJ) também está entre os que teriam sido monitorados ilegalmente pela Abin.