Logo R7.com
Logo do PlayPlus
R7 Brasília

PEC que autoriza venda de plasma humano deve sofrer pressão de governistas em nova fase de debate

Matéria foi aprovada pela CCJ do Senado e ainda será analisada pelo plenário da Casa; governo pressiona contra a proposta

Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília

Artigo 199 da Constituição dispõe sobre o plasma
Artigo 199 da Constituição dispõe sobre o plasma

Ainda sem data para ser analisada no plenário do Senado, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza a comercialização de plasma humano pela iniciativa privada deve enfrentar mais uma rodada de resistência da ala governista. A matéria foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) com placar apertado, 15 votos favoráveis e 11 votos contrários, mas a tendência é que o texto da senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB) sofra alterações durante a discussão com os demais senadores. 

O ponto mais polêmico do projeto de emenda constitucional tem a ver com o fato de abrir o comércio do componente sanguíneo usado na fabricação de medicamentos. O texto da PEC altera o artigo 199 da Constituição, que dispõe sobre as condições e os requisitos para a coleta e o processamento de plasma, para permitir que isso seja feito pela iniciativa privada.

Compartilhe esta notícia no WhatsApp

Compartilhe esta notícia no Telegram


Inicialmente, o texto previa a remuneração de doadores de plasma, o que é proibido pela Constituição atualmente. Pelas leis atuais, não pode haver nenhum tipo de comercialização de órgãos, tecidos e substâncias humanas, e a coleta e o processamento de materiais sanguíneos estão sob a responsabilidade da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás).

Ao defender o texto, Daniella argumentou que a legislação brasileira sobre o assunto está atrasada, principalmente se comparada à de outros países, como Estados Unidos e Alemanha. Na tentativa de construir um acordo, a senadora apresentou um substitutivo que retirava a possibilidade de remuneração aos doadores de plasma, mas sem suprimir a palavra "comercialização" da emenda constitucional. No entanto, para governistas, o texto ainda abre margem para a venda de sangue por não proibir expressamente a prática.


A advogada especialista em direito médico Nycolle de Araújo Soares explica que, mesmo nos países em que a comercialização de plasma é liberada, existem questionamentos sobre a venda de sangue.

Em experiências em outros países%2C também há os questionamentos relacionados à venda ou à utilização desse mecanismo por parte da população mais pobre%2C para obter algum tipo de renda.

(Nycolle de Araújo Soares, advogada especialista em direito médico)

A especialista também destaca que o Brasil já tem uma estrutura importante relacionada à doação de sangue. "Não necessariamente a questão da doação é que precisa de alguma análise diferenciada, mas o reforço na estrutura da utilização desses recursos para não haver desperdício ou subutilização desses hemoderivados. A flexibilização [para a comercialização de sangue] é uma mudança que não necessariamente atende a necessidade que nós temos", completa.


O enfraquecimento da Hemobrás, inclusive, é outra preocupação dos críticos ao texto. Na sessão plenária desta terça (17), o senador Marcelo Castro (MDB-PI) levantou dúvida sobre a redação de um trecho da proposta que garante à iniciativa privada a atuação no mercado de manipulação de plasma humano.

Isso porque o parecer discutido na comissão previa que "a iniciativa privada poderá atuar" no mercado, em caráter complementar, mas a redação final do texto foi publicada com a expressão "atuará" no mercado. Na visão do senador, a forma escrita impõe a presença da iniciativa privada no setor.

Nós queremos a iniciativa privada também%2C paralelamente ao setor público%2C processando o plasma. Não há nenhuma discordância quanto a isso. A nossa discordância é que ela diz uma coisa%2C mas o que está escrito é outra. O que está escrito no texto está permitindo que o sangue humano%2C o plasma humano seja comercializado. Esse é o nosso ponto de discordância.

(senador Marcelo Castro (MDB-PI))

Hemobrás faz a gerência do plasma

Atualmente, a Hemobrás é a única gestora do plasma excedente do uso em transfusões no Brasil e mantém estoque do insumo para a fabricação de medicamentos hemoderivados.

Esses medicamentos são produzidos a partir do plasma humano obtido nas doações de sangue realizadas nos hemocentros brasileiros. Com esse plasma, a Hemobrás consegue fabricar produtos como albumina, imunoglobulina e os fatores VIII e IX da coagulação. Os suplementos são usados por pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) para o tratamento de hemofilia, doenças autoimunes, Aids e outras deficiências imunológicas ou infecciosas.

Ministra da Saúde é contra

Ao comentar a proposta, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse que o governo também vai trabalhar para evitar que o sangue humano se torne mercadoria.

O plasma é fundamental para o desenvolvimento de produtos usados para tratamento de doenças importantíssimas. Mas o sangue não pode ser comercializado de modo algum%2C não pode haver compensação aos doadores%2C e isso foi uma conquista da nossa Constituição.

(Nísia Trindade, ministra da Saúde)

Apesar de ter feito mudanças no texto, a relatora Daniella Ribeiro defende o fim do monopólio da Hemobrás por considerar que a empresa não consegue atender à demanda nacional.

"Quando a gente fala em abrir para a iniciativa privada, a gente está falando em baratear medicamentos para o SUS, porque, na hora em que entra a iniciativa privada, é óbvio que a concorrência vai baixar o medicamento, e o SUS vai comprar mais barato. A gente está ajudando o governo a comprar mais barato. Nós estamos ajudando o cidadão", afirmou.

"Derivados de sangue, que poderiam salvar vidas, vão para o lixo, porque não existe o aparelho, não existem as empresas que possam fazer a plasmaférese, para, assim, a gente ter o plasma suficiente para atender esses pacientes", completou.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.