PF vai investigar infecção por HIV em pacientes transplantados no Rio de Janeiro
Seis pessoas contraíram o vírus depois que receberam órgãos infectados de dois doadores
A Polícia Federal vai investigar o caso de pacientes transplantados contaminados com HIV no Rio de Janeiro, segundo apurou o R7. Seis pessoas testaram positivo para o vírus após terem recebido órgãos doados na rede estadual do Rio Janeiro que estavam infectados. Os órgãos contaminados foram doados por duas pessoas.
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Nesta sexta-feira (11), o Ministério da Saúde determinou a instalação de uma auditoria urgente no sistema de transplantes do Rio de Janeiro pelo Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde). A pasta disse que quer a apuração de “eventuais irregularidades” na contratação do laboratório PCS LAB Saleme para fazer os testes em órgãos doados para transplante.
A Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro interditou o laboratório. Os testes dos órgãos doados aos pacientes que contraíram HIV estavam sob a responsabilidade da empresa privada, contratada em dezembro do ano passado de forma emergencial em razão de o Hemorio (Instituto Estadual de Hematologia) estar sobrecarregado à época.
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“O Ministério da Saúde, diante da notificação de eventos adversos graves, relacionados à transmissão do HIV por meio de transplantes de órgãos no estado do Rio de Janeiro, manifesta seu irrestrito apoio aos pacientes e suas famílias. A situação está sendo tratada com extrema seriedade, visando cuidar dos pacientes e suas famílias e preservar a confiança da população nesse serviço essencial”, escreveu a pasta.
Segundo o governo do estado, o laboratório particular, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Agora, os exames passaram a ser feitos pelo Hemorio.
A Secretaria de Saúde fluminense considerou o caso “inadmissível” e afirmou ter criado uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados, além de tomar medidas para garantir a segurança dos transplantados.
Laboratório diz que vai apurar caso
O PCS LAB Saleme emitiu um comunicado em que afirma que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso. “Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969″, disse o laboratório.
O laboratório disse que “informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado”.
“Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, afirmou a empresa.
“O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso”, concluiu o laboratório.
Investigação no RJ
A Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro informou ter aberto uma sindicância para identificar e punir os responsáveis. Além disso, declarou que está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
“Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”, destacou a secretaria, em nota.
Uma investigação foi aberta pela Polícia Civil. A Decon (Delegacia do Consumidor), que tem entre as atribuições a apuração de casos de saúde pública, realiza diligências.
O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) também abriu sindicância. “A situação é gravíssima e o Cremerj reafirma seu compromisso de apurar os fatos com todo o rigor. A segurança dos pacientes é fundamental para garantir o bom exercício da medicina no estado do Rio de Janeiro e supostas falhas desse tipo são inaceitáveis”, afirmou o presidente do Cremerj, Walter Palis.