Relatório da PF aponta que Marcos do Val tentava causar intrigas entre autoridades para ganhar prestígio
Segundo a corporação, o senador parecia usar prints de conversas com altas autoridades para colocá-las umas contra as outras
Brasília|Gabriela Coelho, do R7, em Brasília
O relatório da análise do celular do senador Marcos do Val (Podemos-ES) feita pela Polícia Federal revelou que houve tratativas do senador, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e de Daniel Silveira para um possível golpe. No entanto, não houve confirmação de que o ex-presidente tenha participado do trato.
Em nota, a assessoria do senador afirma que Marcos do Val tem "apreço pela democracia e repúdio a quaisquer aventuras antidemocráticas. Em toda a sua trajetória pública, antes mesmo de ingressar na arena política, Marcos do Val jamais endossou quaisquer discursos que pregassem a ruptura democrática, nem deu apoio a quaisquer movimentos nesse sentido".
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O relatório mostrou que Marcos do Val manteve conversas com o ex-deputado Daniel Silveira e que o senador, com sua "atuação de caráter absolutamente ambíguo", parecia "valer-se de prints de conversas com as mais altas autoridades da República para, colocando-as umas contra as outras, angariar prestígio pessoal e político”.
O R7 teve acesso ao documento, que está sob sigilo. Segundo a Polícia Federal, as investigações revelaram que, após a cooptação de Marcos do Val por Daniel Silveira, de fato o senador esteve no estacionamento que dá acesso aos palácios do Jaburu e da Alvorada e que não há mensagens trocadas entre Do Val e Jair Bolsonaro acerca de nenhuns detalhes da tal “missão”. Todas as informações eram expostas apenas por Silveira.
De acordo com as mensagens, Marcos do Val teria encaminhado a Bolsonaro um "print" de uma mensagem enviada ao ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro disse à PF que achou a mensagem "sem nexo" e que respondeu: “Coisa de maluco”.
Segundo a PF, a expressão "coisa de maluco" revela a possibilidade de que Daniel Silveira, "para
conferir importância e credibilidade inexistentes à sua malfadada orquestração de um golpe de Estado, estivesse se utilizando do nome de Jair Bolsonaro".
Em uma outra conversa, Bolsonaro enviou a Do Val uma lista de nomes — dele, de filhos e aliados — que poderiam ser cassados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Não acredito!!! Qual foi o argumento?", disse Do Val. E Bolsonaro respondeu: "Atos antidemocráticos".
Em fevereiro deste ano, o senador disse ao ex-presidente que uma revista o procurou para uma reportagem sobre a reunião que tiveram com Silveira em dezembro. O senador disse que acredita ter sido o ministro da Justiça, Flávio Dino, que tenha autorizado “algum policial federal a fazer o vazamento”.
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-presidente Jair Bolsonaro disse que não participou do plano para gravar o ministro do Alexandre de Moraes. Bolsonaro foi ouvido nesta quarta-feira (12) no inquérito que envolve o senador Marcos do Val. O ex-presidente afirmou que participou do encontro com Do Val e Daniel Silveira, em dezembro de 2022, no Palácio da Alvorada, e que a reunião durou 20 minutos.