Suspeito de assassinar namorada passará por audiência de custódia
Giovanna Peters foi morta pelo namorado no último domingo, e polícia identificou inconsistências na confissão do acusado
Brasília|Jéssica Moura, do R7, em Brasília
Depois de ser preso em flagrante pelo assassinato da namorada, Giovanna Peters, Leandro de Araújo Marques vai passar por uma audiência de custódia neste sábado (4). O jovem, de 22 anos, foi detido após confessar ter degolado a garota, de 20, na casa dele. Agora, um juiz vai avaliar a legalidade da prisão. A Polícia Civil identificou inúmeras inconsistências no depoimento do acusado e, diante delas, ele admitiu o crime.
As investigações do caso começaram nessa quarta-feira (1º), depois que a família da vítima registrou o desaparecimento na 23ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Sul). Os parentes de Giovanna informaram à polícia que Leandro buscou Giovanna em casa no último domingo, em Samambaia, e o casal foi junto para a residência dele, em Ceilândia.
Ela avisou a família que dormiria no local e retornaria no dia seguinte, o que não aconteceu. Na segunda-feira (29), por volta das 8h40, a mãe da jovem enviou uma mensagem para ela. Giovanna teria respondido que chamaria um motorista por aplicativo e voltaria para casa na hora do almoço. Ao longo daquele dia, o celular dela continuou com sinal.
Sem notícias da jovem até o dia seguinte, a família decidiu procurar a polícia. "A primeira coisa que chamou atenção era que não tinha mensagem dele para a família, e já era quinta-feira", ressaltou o delegado que investiga o caso, Vander Braga, após o boletim de ocorrência. A atitude inerte do namorado inspirou suspeitas na polícia.
"Durante as diligências, descobrimos que ele estava trabalhando em uma chácara em Goiás. Entramos em contato, ele disse que não tinha como vir. O convenci a mandar a localização, fomos até ele e o levamos para a delegacia", relata. Mas o depoimento prestado por Leandro tinha suspeitas que foram confrontadas com os indícios colhidos durante a investigação.
Mentiras
Ao ser abordado na chácara onde trabalhava, Leandro usava casaco com capuz, apesar do dia quente. "Estranhei e pedi para ele tirar a camisa", conta Braga. "Foi então que detectei lesões de auto-defesa da vítima". Leandro tinha arranhões no pescoço, feito por unhas e machucados na barba.
Ele disse aos policiais que, na segunda-feira, por volta das 10h, um carro Ônix de cor prata teria apanhado Giovanna e a levado embora. No celular dele, os agentes identificaram duas mensagens para o número da namorada. Por volta das 14h, ele perguntou se ela havia chegado bem em casa. À noite, questionou por quê ela não respondia à mensagem dele.
No entanto, o delegado disse que "foi fácil" saber que era mentira. "Fizemos o protocolo de praxe e conseguimos a informação que nenhum carro por aplicativo foi solicitado para o endereço dele".
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Em seguida, durante a madrugada, por volta da 1h30 desta sexta-feira (3), os policiais foram à casa de Leandro. "A primeira coisa que encontrei foi uma camisa com manchas de sangue no cesto do banheiro", lembra o delegado. Havia ainda manchas na porta da sala e na cadeira.
"Uma que chamou mais atenção estava no pé do portal da sala, que indicava arrastamento. Solicitei a perícia na hora". O material biológico chegou a ser coletado para ser analisado em laboratório e apontar se o sangue pertence à Giovanna.
Confissão
Munido dessas informações, o delegado conversou com o pai de Leandro e os advogados dele que estavam no local para alertá-los que Leandro seria apontado como autor do crime. "Então, ele confessou", lembra o delegado. Na versão apresentada por Leandro, ele e Giovanna saíram da casa dele durante a noite para usar drogas.
Quando retornaram para casa, por volta de meia-noite, os dois tiveram uma discussão motivada por ciúmes. Em meio à briga dentro do quarto dele, havia uma faca embaixo da cama. Leandro diz que Giovanna teria tentado atacá-lo com a arma e, por isso, ele pegou um facão na cozinha para se defender.
Como o facão estava cego, não teria provocado cortes. Com isso, ele teria tomado a faca de Giovanna e enfim, a degolou. Para o delegado, o suspeito tenta emplacar a versão de legítima defesa.
"Ele tinha muito ciúme dela, ja tinha iniciado uma discussão. Como estavam sob efeito de drogas, para chegar ao que aconteceu é uma vírgula", frisou o delegado.
Investigação
De acordo com a investigação, no dia seguinte, pela manhã, Leandro foi até a oficina de um amigo, em Samambaia, onde pegou um carro emprestado e só devolveu no fim do dia. "Usou o veículo para desovar o corpo", afirmou Braga. Giovanna, já sem vida, foi deixada dentro de um buraco em um matagal, atrás da antiga Academia de Polícia Civil, em Taguatinga. Ela estava coberta de pedras.
A polícia chegou até o corpo com as indicações de Leandro, que passou a colaborar com a investigação depois de confessar o crime. O facão foi localizado junto ao cadáver. O celular da vítima e a faca usada no crime teriam sido descartados em um córrego. O laudo com as lesões sofridas por Giovanna deve ficar pronto em até duas semanas.
"Nesses dias todos, ele manteve conversas com familiares dela, que não sabia de nada, não tinham brigado, não sabia o porquê dela sumir", pontuou Vander Braga. O delegado informou ainda que também achou no celular do suspeito mensagens em que ele dizia que queria sair de Brasília, mas desistiu de fugir de imediato porque pensou que não seria descoberto.
Prisão
Agora, preso em flagrante, Leandro vai responder por homicídio qualificado por motivo fútil e ocultação de cadáver. Se for condenado, pode pegar uma pena de até 30 anos.
Histórico
O casal estava junto há três anos. Nesse período, outras situações de agressão já tinham ocorrido. Em uma delas, Leandro chegou a arremessar um celular contra Giovanna, que ficou ferida na cabeça. Contudo, ela ou a família nunca registraram queixa na polícia.
Além disso, Leandro tinha passagens quando era menor de idade crimes análogos ao roubo e porte e uso de drogas.