UnB teve 436 estudantes indígenas matriculados desde 2006
Ano marcou a implantação do vestibular para grupos originários; foram 77 os que se formaram no período; hoje há 229 estudantes
Brasília|Jessica Moura, do R7, em Brasília
Desde 2006, quando realizou o primeiro vestibular voltado especificamente para indígenas, a UnB (Universidade de Brasília) matriculou 436 estudantes dos povos originários. Ao todo, 77 já se formaram pela instituição, especialmente em medicina e nutrição. Outros 68 se tornaram mestres e doutores.
Atualmente, 229 estudantes indígenas de 40 povos estão inscritos em 61 cursos de graduação, a maior parte deles em medicina, enfermagem, engenharia florestal e saúde coletiva. Na pós-graduação, são 33 representantes. Hoje a universidade tem melhores condições para acolher esse grupo étnico, ao contrário do que se via 16 anos atrás, quando a UnB não estava adaptada, em razão das diferenças de língua, metodologia de ensino e dificuldades econômicas.
Nesta terça-feira (19), Dia de Luta e Resistência dos Povos Indígenas, a instituição comemorou o avanço na presença de integrantes de alunos vindos dos povos originários na universidade – embora a permanência desses estudantes no ensino superior ainda seja um desafio.
Ampliação de acesso
Hoje professor na UnB, José dos Santos Luciano, 57 anos, o Gersem Baniwa, fez mestrado em antropologia na instituição em 2003, antes mesmo do vestibular específico para o grupo étnico. "Nesse período quase não havia indígenas na Universidade de Brasília. Eu era praticamente o único e completamente despercebido, ninguém dava visibilidade a isso", lembra.
Para Baniwa, a cara do corpo discente só começou a mudar em 2007, depois do primeiro vestibular indígena. Mesmo com a ampliação do acesso, ele afirma que o conhecimento indígena é pouco aproveitado na bibliografia dos cursos.
"Eu acho que a universidade ainda precisa dar espaço para aproveitar melhor esses saberes indígenas nos próprios currículos, nos programas, conteúdos, disciplinas, metodologias, e enriquecer seu escopo teórico e metodológico”, pondera.
Primeira professora indígena
A primeira professora indígena da UnB foi Altaci Rubim, hoje com 46 anos, pertencente ao povo cocama, do Alto Solimões, no Amazonas. Ela veio para Brasília em 2012, para cursar o doutorado em linguística.
“Na aldeia, a gente é escolhido para ser professor. A gente não escolhe, a gente é escolhido em assembleia”, explica Altaci.
Ela era formada em pedagogia pela UEA (Universidade do Estado do Amazonas) e fez mestrado em antropologia pela federal de seu estado de origem. Depois da defesa da tese, Altaci voltou ao Amazonas, onde atuou como gerente de educação escolar indígena na Prefeitura de Manaus. Em 2019, ela retornou ao departamento de letras da UnB.
Políticas
Uma das políticas para ampliar o acesso dos indígenas à universidade são as cotas. Na pós-graduação, há reserva de uma vaga a mais no mestrado e doutorado para esses candidatos. O próximo edital para o vestibular indígena está marcado para 20 de junho, e as provas estão previstas para agosto.
Uma vez dentro da universidade, os estudantes podem pleitear o auxílio socioeconômico por três meses, de R$ 465. Outra opção era a Bolsa Permanência, paga pelo Ministério da Educação, no valor de R$ 900, mas desde 2019 esses estudantes não recebem o benefício.
Em 2014, foi inaugurada a Maloca, uma área de convivência dos povos indígenas na instituição. O espaço serve como local de estudo e de encontro, e sedia a Coordenação Indígena (Coquei) e a Associação dos Acadêmicos Indígenas.
Indígenas no DF
Segundo dados do IBGE, há 6.128 indígenas na capital federal. Entre os espaços para esse grupo étnico, há o Recanto dos Encantados, em Sobradinho, e o Santuário dos Pajés, no Noroeste, território de 32 hectares ocupado por quatro etnias.
A comunidade instalada naquele local é descendente de indígenas que vieram para o DF em 1957 e participaram da construção da capital. De acordo com a Funai, a definição sobre a demarcação da terra indígena ainda está em estudo.