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19% das mulheres com diploma sofrem violência física em casa

Pesquisa mostra que violência doméstica independe de classe social e nível educacional

Cidades|Deborah Bresser, Do R7

Célia ficou quatro dias na UTI após agressão do marido
Célia ficou quatro dias na UTI após agressão do marido

A tragédia envolvendo a professora Célia Regina Pesquero, 49 anos, na última segunda-feira (17) em Osasco em São Paulo, chamou a atenção não apenas pelo extremo do caso — o marido se atirou da janela do 13º andar com o filho de seis anos — como também pela docente da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado em Quimica, ter sido vítima frequente de agressões pelo marido, a ponto de ter seu maxilar fraturado. Como uma mulher com alto grau de instrução e nível socioeconômico se sujeitou a violência doméstica de forma tão contundente e repetida? 

Para o professor da Faculdade de Sociologia da USP, Gustavo Venturi, um dos organizadores da pesquisa 'Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado" da Fundação Perseu Abramo, lançada no final de 2013, a violência contra a mulher permeia toda a sociedade, seja qual for o recorte, renda, cor, escolaridade, região, ou outro fator.

— A violência doméstica é bem “democrática” e não varia muito entre os segmentos. A pesquisa investigou 20 diferentes modalidades de violência, agrupadas por controle ou cerceamento, violência física, psíquico-verbal, sexual e assédio. Os números mostram que há uma variação muito pequena entre os segmentos. A violência física atinge 19% das mulheres com curso superior ou mais, contra 25% das que têm só o ensino fundamental. No entanto, as formas de controle ou cerceamento atingem 19% das mulheres com menor escolaridade, contra 27% das que possuem diploma superior. Já a violência psíquico-verbal é igual para todas, com 21%, e a sexual aponta uma diferença irrisória: 11% para quem tem ensino fundamental e 8% das diplomadas.

A comprovação de que a violência doméstica não vê diploma nem classe social atesta, na opinião do pesquisador, a complexidade da questão. E o que leva uma mulher agredida a suportar e continuar vivendo com o inimigo?


— Em muitos casos há uma dependência econômica, mas nem sempre. É preciso entender que houve algum momento em que naquela relação existia um laço afetivo, amoroso, sexual forte. Há um conjunto de fatores, independente da classe social. Na maior parte das vezes, a mulher opta por relevar, acredita que pode ser um fato isolado, justifica que o agressor estava bêbado, ou foi em um momento de raiva. Mas isso não é a causa da violência, é um facilitador para que a violência ocorra. Também há a questão dos filhos, tudo isso tende a se combina e faz com que algumas mulheres tolerem.

Um dado chamou a atenção dos estudiosos. Mulheres que relataram ter sofrido violência na infância se mostraram muito mais tolerantes com a agressão dos companheiros. Já os homens que apanharam quando crianças também surgiram em maior número entre aqueles que reconheceram ter batido em mulheres. Trata-se de um repertório de violência, que legitima a surra, o corretivo, como forma de colocar o outro na linha. São pessoas que cresceram acreditando que é legítimo resolver certos conflitos na porrada. Para Gustavo Venturi, há também uma questão cultural.

— É aquela história de que em briga de marido e mulher não se mete a colher. E as mulheres não encaram publicamente, pois acham que é um problema familiar, que tem de ser resolvido pelo casal. No entanto, os dados mostram que é uma questão epidêmica e social, que exige políticas públicas para combatê-la.

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