Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Notícias R7 – Brasil, mundo, saúde, política, empregos e mais

Amazônia corresponde a quase metade da área queimada no Brasil em 2022

Em um ano 16,3 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas no país, sendo 7,9 milhões apenas na floresta tropical

Cidades|Letícia Dauer, do R7

Mais de 7,9 milhões de hectares queimaram na Amazônia apenas de 2022
Mais de 7,9 milhões de hectares queimaram na Amazônia apenas de 2022

Mais de 16,3 milhões de hectares foram queimados no Brasil de janeiro a dezembro de 2022. A área é equivalente ao estado do Acre, de acordo com os dados do Monitor do Fogo do MapBiomas. Apenas a Amazônia teve 7,9 milhões de hectares atingidos pelo fogo, o que corresponde a 48,8% do total.

De acordo com Ane Alencar, diretora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e coordenadora do MapBiomas, as queimadas na Amazônia são fruto exclusivamente da ação humana. "O clima é determinante para que o fogo se espalhe ou não. Entretanto, se estiver seco e ninguém começar o fogo, não vai ter incêndio", explica.

O fogo é composto por uma tríade: material combustível em boa qualidade para queimar, clima propício e ignição do incêndio - seja provocado por fatores naturais ou humanos.

Com o clima quente e úmido, a região amazônica é um bioma sensível onde o fogo não faz parte da ecologia natural, como no Cerrado. A coordenadora do MapBiomas afirma que para um incêndio ter início nesse bioma são imprescindíveis as ações humanas relacionadas à agropecuária.


Para Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, "os números elevados relativos as queimadas na Amazônia em 2022 são reflexo direto da criminosa fragilização das políticas de controle ambiental durante o governo Bolsonaro. O desmantelamento das políticas públicas ganhou um impulso ainda maior durante o ano eleitoral".

Variação da área queimada

O Monitor do Fogo começou o mapeamento mensal do território brasileiro em 2019, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, período em que mais de 29 milhões de hectares foram consumidos pelas chamas.


Nesses quatro anos, a área atingida pelas queimadas na Amazônia apresentou variações. O recorde foi no primeiro ano da série com 8 milhões de hectares, enquanto o quarto lugar ficou com 2021 (5,3 milhões de hectares).

Segundo Ane Alencar, essas variações são provocadas apenas por fatores climáticos como a La Niña - fenômeno que provoca o resfriamento das águas do Oceano Pacífico e, em consequência, aumenta a umidade e as chuvas na Amazônia. Em contrapartida, durante esse período, o avanço das atividades agropecuárias, como o desmatamento e limpeza de pastos usando o fogo, não pararam. 


O ano de 2019 foi o mais seco da série histórica. "As pessoas se sentiam mais livres para usar o fogo. Houve aumento das queimadas para limpeza de pastagens e desmatamentos", conclui a pesquisadora.

Comparando os números de 2019 (8 milhões de hectares) e 2021 (5,3 milhões de hectares), registrou-se uma queda de 34% no número de queimadas. Entretanto, a diretora do Ipam reforça que a redução da área atingida pelo fogo não tem relação com o desaceleramento das atividades agropecuárias. 

Dois anos atrás, o bioma foi atingido pela La Niña, isto é, houve o aumento das chuvas e, proporcionalmente, a redução do período da seca. O clima mais úmido da floresta tropical conseguiu impedir a queima de cerca de 2,7 milhões de hectares. 

Leia também

Analisando os dados do mapeamento do MapBiomas, no ano passado, as queimadas na Amazônia voltaram a crescer em 50%, atingindo áreas equivalentes aos estados do Rio Grande do Norte (5,2 milhões de hectares) e Alagoas (2,7 milhões de hectares). 

"O desmatamento explodiu, principalmente, no 2° semestre de 2022 devido à aproximação das eleições presidenciais e a especulações sobre o próximo governo. Muitas pessoas tinham receio que a próxima gestão fosse mais preocupada com a questão do meio ambiente", justifica a Ane Alencar.

Ao longo do ano passado os estados mais afetados pelas queimadas são, justamente, aqueles que pertencem a região amazônica e que sofrem com as intensas atividades de expansão do agronegócio: Mato Grosso (3,6 milhões de hectares), Pará (2,8 milhões de hectares) e Tocantins (2,2 milhões de hectares).

Meses mais secos

Os meses em que o país mais sofre com as queimadas são agosto, setembro e outubro devido ao início da estação seca. A queda da quantidade de chuva é o cenário ideal para o aumento das queimadas.

Em 2022, por exemplo, 74% do total da área atingida pelo fogo foram consumidas somente nesse período, sendo o ápice das queimadas em setembro, de acordo com os dados de monitoramento do MapBiomas:

Agosto: 2,9 milhões de hectares

Setembro: 5,8 milhões de hectares

Outubro: 3,4 milhões de hectares

No caso da Amazônia, as queimadas costumam se concentrar de junho a setembro. Entretanto, segundo Ane Alencar, como esse bioma é latitudinal - de grande extensão -, alguns estados sofrem mais em outras épocas do ano. "As queimadas vão subindo até chegar em Roraima no começo do ano", explica. 

Queimadas aumentaram 90% em dezembro de 2022

Apenas em dezembro - após o anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente - o Monitor do Fogo registrou um salto de 90% na área queimada em relação ao mesmo mês de 2021: 332 mil hectares, ou 157 mil hectares a mais que no ano anterior. Desse total, 71% ocorreram na Amazônia, com 234.723 mil hectares. Em relação a novembro de 2022, o crescimento foi de 101%.

Os três estados com maior extensão queimada em dezembro de 2022 pertencem à Amazônia Legal: Maranhão (126 mil hectares), Pará (98 mil hectares) e Roraima (22 mil hectares). Eles respondem juntos por 57% da área queimada total no período. 

"A questão do fogo está relacionada com controle das atividades que usam o fogo como o desmatamento, a pastagem, a expansão da pecuária. Se o governo estimula essas atividades, está estimulando o uso do fogo. É fundamental que existam políticas públicas que sejam implementadas e incentivadas para reduzir o uso do fogo na região, além da conscientização", conclui a coordenadora do MapBiomas.

Com o início do governo Lula, Suely Araújo está mais esperançosa em relação ao enfrentamento do desmatamento e dos incêndios florestais com a retomada do Fundo Amazônia e do plano de ação para prevenção e controle da região.

"Esperamos que em 2023 haja priorização efetiva das medidas de prevenção. Não se pode esperar o fogo chegar para agir. É muito importante que o novo governo tenha atenção para isso", finazaliza a especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.