Sem moradia digna nem saneamento básico, com dificuldade para comprar alimentos e falta de acesso ao mínimo de estudo. Nenhum ser humano merece viver nessas condições, mas pesquisas revelam que o número de favelas vem crescendo exporadicamente no Brasil, e, com isso, o fim da extrema pobreza parece estar cada vez mais longe. Mas qual o papel da sociedade neste cenário? Especialistas entrevistados pelo R7 durante a Gramado Summit, realizada na quarta-feira (12), explicam que o combate a pobreza é possível com a colaboração da sociedade, dos governos e das instituições privadas. Nina Cardoso, fundadora do Instituto Ascendendo Mentes, e Carlos Jorge, líder da Gerando Falcões no Nordeste, ressaltaram que o primeiro passo para que a sociedade também trabalhe em ações contra a vulnerabilidade é "se livrar de todo o preconceito", além de apoiar projetos de incentivo ao estudo e ao desenvolvimento econômico e social dentro das comunidades. Para Nina, muitas pessoas acabam por não enxergar o potencial de moradores da favela justamente pelo preconceito. "Essas pessoas podem ser futuros empreendedores, empresários, jogadores de sucesso, trabalhadores competentes", conta a especialista. O Instituto Ascendendo Mentes é uma ONG (Organização Não Governamental) que tem a parceria da rede Gerando Falcões, com apoiadores no Brasil e no mundo. Com essa rede, o instituto, que age em comunidades do Rio Grande do Sul, conseguiu um espaço para executar os trabalhos, recebe ajuda financeira e tem parceria entre os projetos sociais. "O Edu Lyra [fundador da Gerando Falcões] sempre fala que a criança que nasce na favela já tem uma bomba-relógio no pescoço. Isso porque ela vive problemas muito além da fome e da pobreza; ela acaba com feridas na alma, cognitivas e de aprendizagem, fora que existe todo um sistema que quer mostrar a favela onde não é de merecimento dela", ressaltou Nina. Para Carlos, o preconceito contra as comunidades "está em processo de ruptura", graças a projetos como os organizados por essas ONGs, que levam ensino e tecnologia a esses locais e dão oportunidade a seus moradores. "Essas ações feitas por nós, pessoas, com a ajuda de doações, vem sido até um exemplo sobre como o governo deve agir. Agora, até os governos apoiam essa iniciativa", disse. Só entre 2010 e 2019, o número de favelas cresceu 108% no país, segundo a Gerando Falcões — o que, na época, representava o número de 15.151 pessoas que moravam em áreas que não haviam sido adaptadas para moradias. Destas, muitas em região de risco. Ainda de acordo com Carlos Jorge, atualmente o terceiro setor, que é feito de ONGs, entidades beneficentes, fundações e institutos, tem tido uma influência considerada grande para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. "As ações do terceiro setor refletem, atualmente 4,7% no PIB, com geração de empregos que chega a 7% no país. Essa dinâmica, além das tecnologias sociais e impacto positivo, leva qualificação profissional, geração de renda, microcrédito, e, enfim, o céu é o limite para a gente", pontuou. O líder regional da Gerando Falcões ainda ressaltou que faz diferença trabalhar por uma causa. "Pessoalmente, eu acho que a maior grandeza de trabalhar nesta rede é a visão estratégica. Nós temos um foco: colocar a pobreza do Brasil no museu. Vai virar história, mas não fará mais parte da realidade, e, se preciso, vamos entregar nossa vida por isso", completou Carlos Jorge. A Gramado Summit foi criada em 2017 pelo empreendedor Marcus Rossi. Com o passar dos anos, o evento começou a receber empresas maiores para a feira de negócios e também um público mais amplo para as discussões das palestras. Na edição de 2022, a Gramado Summit recebeu 6.000 pessoas de todos os estados brasileiros, além de mais de 300 expositores e 140 palestrantes. Já na de 2023, que se iniciou na manhã de quarta-feira (12), 10 mil pessoas participaram do evento, que tem foco no empreendedorismo, na inovação e na tecnologia e só termina na sexta-feira (14). Este é o primeiro ano em que a Gramado Summit tem um palco só para a discussão da situação nas favelas.*A jornalista viajou a convite da Gramado Summit