Apoiar projetos e extinguir preconceito: especialistas explicam como ajudar no combate à pobreza
Número de favelas vem crescendo no Brasil, assim como o de crianças e adultos em situação de vulnerabilidade. Ações podem mudar esse cenário
Cidades|Isabelle Amaral, do R7, enviada a Gramado (RS)*
Sem moradia digna nem saneamento básico, com dificuldade para comprar alimentos e falta de acesso ao mínimo de estudo. Nenhum ser humano merece viver nessas condições, mas pesquisas revelam que o número de favelas vem crescendo exporadicamente no Brasil, e, com isso, o fim da extrema pobreza parece estar cada vez mais longe. Mas qual o papel da sociedade neste cenário?
Especialistas entrevistados pelo R7 durante a Gramado Summit, realizada na quarta-feira (12), explicam que o combate a pobreza é possível com a colaboração da sociedade, dos governos e das instituições privadas.
Nina Cardoso, fundadora do Instituto Ascendendo Mentes, e Carlos Jorge, líder da Gerando Falcões no Nordeste, ressaltaram que o primeiro passo para que a sociedade também trabalhe em ações contra a vulnerabilidade é "se livrar de todo o preconceito", além de apoiar projetos de incentivo ao estudo e ao desenvolvimento econômico e social dentro das comunidades.
Para Nina, muitas pessoas acabam por não enxergar o potencial de moradores da favela justamente pelo preconceito. "Essas pessoas podem ser futuros empreendedores, empresários, jogadores de sucesso, trabalhadores competentes", conta a especialista.
O Instituto Ascendendo Mentes é uma ONG (Organização Não Governamental) que tem a parceria da rede Gerando Falcões, com apoiadores no Brasil e no mundo. Com essa rede, o instituto, que age em comunidades do Rio Grande do Sul, conseguiu um espaço para executar os trabalhos, recebe ajuda financeira e tem parceria entre os projetos sociais.
"O Edu Lyra [fundador da Gerando Falcões] sempre fala que a criança que nasce na favela já tem uma bomba-relógio no pescoço. Isso porque ela vive problemas muito além da fome e da pobreza; ela acaba com feridas na alma, cognitivas e de aprendizagem, fora que existe todo um sistema que quer mostrar a favela onde não é de merecimento dela", ressaltou Nina.
Para Carlos, o preconceito contra as comunidades "está em processo de ruptura", graças a projetos como os organizados por essas ONGs, que levam ensino e tecnologia a esses locais e dão oportunidade a seus moradores. "Essas ações feitas por nós, pessoas, com a ajuda de doações, vem sido até um exemplo sobre como o governo deve agir. Agora, até os governos apoiam essa iniciativa", disse.
Só entre 2010 e 2019, o número de favelas cresceu 108% no país, segundo a Gerando Falcões — o que, na época, representava o número de 15.151 pessoas que moravam em áreas que não haviam sido adaptadas para moradias. Destas, muitas em região de risco.
Influência do terceiro setor no PIB Brasileiro
Ainda de acordo com Carlos Jorge, atualmente o terceiro setor, que é feito de ONGs, entidades beneficentes, fundações e institutos, tem tido uma influência considerada grande para o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
"As ações do terceiro setor refletem, atualmente 4,7% no PIB, com geração de empregos que chega a 7% no país. Essa dinâmica, além das tecnologias sociais e impacto positivo, leva qualificação profissional, geração de renda, microcrédito, e, enfim, o céu é o limite para a gente", pontuou.
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O líder regional da Gerando Falcões ainda ressaltou que faz diferença trabalhar por uma causa. "Pessoalmente, eu acho que a maior grandeza de trabalhar nesta rede é a visão estratégica. Nós temos um foco: colocar a pobreza do Brasil no museu. Vai virar história, mas não fará mais parte da realidade, e, se preciso, vamos entregar nossa vida por isso", completou Carlos Jorge.
Sobre a Gramado Summit
A Gramado Summit foi criada em 2017 pelo empreendedor Marcus Rossi. Com o passar dos anos, o evento começou a receber empresas maiores para a feira de negócios e também um público mais amplo para as discussões das palestras.
Na edição de 2022, a Gramado Summit recebeu 6.000 pessoas de todos os estados brasileiros, além de mais de 300 expositores e 140 palestrantes. Já na de 2023, que se iniciou na manhã de quarta-feira (12), 10 mil pessoas participaram do evento, que tem foco no empreendedorismo, na inovação e na tecnologia e só termina na sexta-feira (14). Este é o primeiro ano em que a Gramado Summit tem um palco só para a discussão da situação nas favelas.
*A jornalista viajou a convite da Gramado Summit