Boate Kiss: 'São 4 réus, mas há mais envolvidos', diz defesa de sócio
Advogado de Elissandro Spohr questiona maquete que será usada em júri. Julgamento acontece no dia 1º de dezembro
Cidades|Fabíola Perez, do R7
O advogado de defesa do sócio da boate Kiss, Jader Marques, afirmou nesta sexta-feira (26) que, além dos quatro réus que serão julgados a partir do dia 1º de dezembro, no Tribunal do Júri, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, existem mais pessoas envolvidas no incêndio que matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos no dia 27 de setembro de 2013, em Santa Maria.
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"Hoje só há quatro pessoas respondendo, mas, desde o início, há mais pessoas envolvidas. A primeira boate foi aprovada pelos Bombeiros em 2009. A espuma foi colocada lá para matar? Alguém imaginou que elas matariam tanta gente?", disse. Marques. Segundo o advogado de Spohr, são pelo menos 28 envolvidos. "Todas as pessoas que desempenharam papeis fiscalizatórios e tinham o poder e o dever de impedir o funcionamento dessa boate."
Os advogados de defesa de Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, sócio da boate, apresentaram, durante coletiva de imprensa, elementos que serão utilizados no plenário do julgamento, dia 1º de dezembro, e comentaram o recurso da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) para a retirada do promotor Ricardo Lozza como testemunha.
A defesa do sócio da boate apresentou duas reconstituições virtuais durante a coletiva de imprensa. Na primeira, Marques questiona o modelo que será utilizado pelo Ministério Público, indicando eventuais divergências de medidas de degraus em relação à planta do estabelecimento e, na segunda, mostra as instalações da casa noturna em 2009.
O advogado de Spohr disse que quer provar com as apresentações, que serão levadas à júri, que em 2013 a boate era mais segura do que em 2009, quando o espaço passou a ser administado pelo sócio. "As obras realizadas para a transformação da boate em 2009 aumentaram porta por determinação dos Bombeiros", diz ele. A defesa alega ainda que, no prédio, uma das portas no interior do estabelecimento era fechada.
A defesa do sócio mostra também uma série de supostas irregularidades na casa noturna no ano de 2009. "Há uma parede entre o salão principal e o pub, uma dimunição das unidades de passagem e duas portas que geram nos ambientes uma situação de total isolamento", mostra na reconstituição virtual.
Marques argumenta ainda que em diversos ambientes, os antigos proprietários teriam instalado isopor no teto para isolamento acústico. "O isopor é correlato à espuma no que diz respeito ao teor inflamável. Os antigos proprietários não tinham a menor ideia de que o teto era totalmente inflamável", afirma. Segundo a defesa, os bombeiros teriam ido à boate em 2011 quando expediram um alvará de funcionamento. "Havia espuma antes de Kiko adquirir a boate. Eram espumas visíveis, no caixa tinham espumas visíveis."
O advogado sustenta ainda que duas portas internas foram criadas sob a gestão de Spohr e que ele chegou a pagar a verificação de extintores. "A boate tinha essas espumas, outras casas noturnas tinham essas espumas, pessoas comuns comprariam essas espumas para criar um ambinte com uma certa qualidade de som."
Defesa aponta irregularidades em maquete virtual
O advogado Jader Marques disse também que entrega na tarde desta sexta-feira (26) uma petição questionando "irregularidades" na reconstituição digital que será utilizada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul no dia do júri. "O conteúdo do software contém problemas técnicos", diz. "Ela peca nos centímetros de definição de elementos do interior da boate, que, para nós é muito importante."
Na sequência, o advogado apresentou outra maquete virtual que será utilizada pela defesa do réu no julgamento. "Ela atende as medidas propostas na planta da boate", diz. "Havia uma barra de ferro para que a pessoa fosse direcionada à fila até onde pegaria a comanda até a porta. Depois, havia um acesso ao espaço central. É importante que a gente enfrente a questão dessas barras", diz.
"Entrando no salão principal, temos os banheiro e a chapelaria e ao lado, as entradas para os outros salões." Em relação aos extintores, Marques afirma que, durante o júri, Spohr poderá comentar se os equipamentos estavam ou não nos locais corretos e prontos para o uso. O advogado diz ainda que havia luzes indicando a existência dos degraus. "Em linhas, a maquete mostra diferenças em relação às entradas, degraus, dimensões da saída e da entrada. Essa planta está de acordo com os laudos."
'Só ele não tem o direito de sofrer'
A defesa comentou ainda o vídeo publicado na internet em que Elissandro Spohr aparece chorando em uma viagem de carro de Porto Alegre a Santa Maria. "Não há nada a ser encoberto. Nos últimos nove anos, nos deparamos com pessoas que sofrem e que esse sofrimento é legítimo pela demora do processo. Nós, de maneira silenciosa, acompanhamos o sofrimento dessas pessoas", disse Marques.
O advogado disse ainda que recebeu questionamentos e comentários sobre os motivos que levaram à gravação de um vídeo com Spohr. "A cada notícia de incêndio, em qualquer parte do mundo, Sporh se sente abalado. O documentário é o registro de um sofrimento diário. Parece que o sofrimento dele não é legimitimando. Parece que ele não tem o direito de sofrer. Nós, que convivemos com ele, temos a impressão de que é alguém que está parado no tempo, naquele 27 de janeiro."
Marques garantiu ainda que o júri vai ocorrer no dia 1º de dezembro e que os familiares e sobreviventes da tragédia serão respeitados. "Ninguém quer atacar as pessoas, aos familiares sempre, aos familiares do meu cliente e de todos os quatro réus, aos réus e a todos aqueles que vão trabalhar."