A possibilidade de retorno do horário de verão não é bem avaliada por cientistas, que alertam que adiantar os relógios em uma hora traz riscos à saúde como distúrbios do sono, aumento de eventos cardiovasculares adversos, transtornos mentais e cognitivos, além de um crescimento do número de acidentes de trânsito e no local de trabalho. O tema segue indefinido no governo e está na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda não bateu o martelo.Professores de diversas universidades federais e estaduais do país assinaram um manifesto nos últimos dias em que afirmam que “os malefícios à saúde provocados por essa mudança superam os supostos benefícios econômicos esperados, sendo crucial a abolição definitiva do horário de verão”.“Para preservar a saúde e o bem-estar da população, recomenda-se a adoção do horário padrão durante todo o ano, sem ajustes sazonais (horário de verão). Isso evitaria os efeitos negativos promovidos pelo horário de verão e promoveria um maior alinhamento entre os nossos ritmos biológicos e os horários social e ambiental, contribuindo para uma sociedade mais saudável e segura”, diz o documento.Segundo o manifesto, a mudança repentina no “horário social” interfere na sincronização do corpo com o ciclo natural, forçando o organismo a se reajustar.“Ao longo da evolução, os seres vivos sobreviveram e se adaptaram, não apenas ao ambiente físico, mas ao temporal também. A espécie humana é diurna e, em tese, fica em atividade durante o dia e repousa à noite. No momento em que muda o fuso horário, isso gera dessincronização do organismo”, disse ao R7 a professora da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) Claudia Moreno, que assinou o manifesto.“O meu organismo está recebendo uma dica ambiental que é dia, mas meu relógio social diz que está começando a noite, então se torna conflitante e eu tenho que me ajustar nessa situação. É muito importante para o ritmo biológico poder receber luz durante o dia, porque regula ritmo, horário e afins. No horário de verão, as pessoas acordam e ainda está escuro, demora para clarear. Daí vão ficar mais sonolentas”, completou.O horário de verão foi implementado no Brasil com o objetivo de reduzir o consumo de energia elétrica, a partir do melhor aproveitamento da luz natural com o adiantamento dos relógios. Como nos últimos anos houve mudanças no hábito dos brasileiros, deslocando o maior consumo para o período da tarde, a medida deixou de produzir os resultados esperados e perdeu a razão de ser aplicada no país.A medida foi implementada no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Os estados das regiões Norte e Nordeste ficaram de fora do horário de verão. Isso porque a medida era mais eficaz nas áreas mais distantes da Linha do Equador, onde há uma diferença significativa na luminosidade entre o verão e o inverno. A discussão pela retomada da medida ocorreu recentemente, após recomendação do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) ao Ministério de Minas e Energia.Se adotado no cenário atual, o horário de verão pode contribuir para a maior eficiência do Sistema Interligado Nacional no atendimento à ponta de carga no horário noturno, em especial entre 18h e 20h, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrica). “É nesse período que o sistema precisa lidar com os desafios da saída da geração solar centralizada e da micro e mini geração distribuída e do aumento da demanda por energia”, disse o órgão, acrescentando que a aplicação da medida pode trazer redução de até 2,9% da demanda e economia no custo da operação próximo a R$ 400 milhões entre outubro e fevereiro.