Megaoperação deve frear avanço do PCC nos estados, diz promotor
Ofensiva mira cúpula da facção e cumpre mandados em 14 estados
Correio do Povo|Do R7
Fragmentos de cartas apreendidos na rede de esgoto da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau foram utilizados nas investigações que possibilitaram deflagrar, na manhã desta quinta-feira, a Operação Echelon. A operação coordenada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo tem como objetivo atingir a estrutura que controla as ramificações interestaduais da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Na visão do promotor do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Lincoln Gakyia, a ofensiva deve frear avanço da facção.
Ao todo, os policiais estão cumprindo 59 mandados de busca e apreensão em 14 Estados. A Justiça decretou ainda prisão preventiva de 75 suspeitos, todos apontados como integrantes da facção. "A partir da apreensão de cartas na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau pelo setor de inteligência da administração penitenciária houve a instauração do inquérito policial para investigação", afirmou Gakyia.
A cúpula da facção está na mira da operação. "O foco dessa operação era identificar e prender os responsáveis pela célula Sintonia dos Estados, membros ligados à cúpula da facção, que estavam dentro da P2 e autores das cartas com ordens para o Resumo dos Estados", afirma Gakyia. O Resumo dos Estados, segundo o promotor, são membros da facção em presídios ou em liberdade.
Por muito tempo, as cartas dos membros da organização criminosa saiam dos presídios por meio de visitas familiares e por advogados. Porém, foram identificados fragmentos de correspondências na rede de esgoto do presídio. "Foram instaladas redinhas nos vasos sanitários que capturaram pedaços de papel picado", diz o promotor. Nesse momento, em junho do ano passado, começaram as investigações que deram origem à Operação Echelon.
Golpe no PCC
A operação, que conta com 300 policiais só no Estado de São Paulo tem como objetivo reduzir o crescimento da facção nos estados, diminuindo a capilaridade dos negócios do grupo. "São membros diretamente ligados à cúpula, que davam ordens na ausência dos líderes principais. Estamos atacando praticamento o nascedouro da organização", diz Gakyia.
O promotor responsável pelas investigações afirma que, apesar de ainda não ser possível mensurar o impacto da operação no tráfico de drogas impulsionado pela organização, o PCC deve levar tempo para reconstituir essa célula atingida pelas investigações. Ele também afirma que há indícios de que os ataques ocorridos recentemente em Minas Gerais e no Rio Grande do Norte foram orquestrados por membros do Resumo dos Estados.
"Essas ordens partem de São Paulo, onde está o núclelo decisório, e são difundidas até chegar aos outros estados", diz ele. "A facção perdeu pessoas com capacidade de dar ordens. Agora esses quadros terão de ser substituídos, o que significa que um elo da cadeia se rompe. A saída de drogas para países vizinhos certamente deverá ser afetada", afirma o promotor.
Nos últimos quatro anos, o total de integrantes do PCC espelhados fora de São Paulo cresceu seis vezes, passando de 3 mil para pouco mais de 20 mil em 2018. A facção, que em São Paulo conta com 10,9 mil integrantes, está presente ainda em cinco países da América do Sul: Bolívia, Colômbia, Guiana, Paraguai e Peru.