‘É difícil pensar no daqui para frente’, diz homem que perdeu tudo em enchente no RS
Gaúchos atingidos pelas enchentes relatam a dificuldade de recomeçar a vida depois da tragédia
Cidades|Bruna Lima, do R7, enviada especial a São Leopoldo
“Viva o Rio Grande do Sul!” A voz de Francisco Ferreira, 69 anos, cantando a canção tradicional “Querência Amada”, de Teixeirinha, soa em um dos 88 abrigos montados em São Leopoldo, um dos municípios afetados pelas enchentes no estado. Enquanto Francisco canta, alguns dos que tiveram de deixar para trás as casas e todos os bens se reúnem, entram no coro. É um instante de leveza em meio à tragédia vivida nos últimos dias. Segundo o boletim mais recente da Defesa Civil, da manhã deste domingo (12), são 143 mortos e 125 desaparecidos por causa das chuvas. Ao menos 2 milhões de gaúchos foram atingidos.
“A música não vai amenizar a dor de ninguém aqui. Não vai comprar móveis, nada, mas 10 minutos de alegria já fazem a diferença para muita gente. Inclusive, para mim”, diz Francisco ao R7.
Francisco é músico e trabalha com manutenção e fabricação de violões. A casa dele ficou inundada. A água danificou todo o material de trabalho e ele diz que não há como recuperar. “Não tem mais como fazer. As ferramentas, as coisas se acabaram.” Ele conta que o imóvel é alugado. “Tenho que voltar, colocar as coisas para fora, porque a casa não é minha.”
O músico diz que é difícil pensar no que será a vida depois da tragédia. “Eu comigo mesmo cheguei até aqui. Aí, vem a água e acaba levando as coisas. Fica difícil recomeçar dessa idade, com problemas de saúde. Sem condições de trabalhar. A fabricação e a manutenção de violões era uma válvula de escape, que hoje não funciona mais”, explica. “Daqui para frente, talvez eu consiga só sobreviver. De que forma, eu não sei, mas vou tentar.”
Importância dos abrigos
Francisco agradece pelo abrigo que os acolheu. “Isso aqui, na verdade, foi a melhor coisa que teve em São Leopoldo. Aqui temos onde ficar. Lá não temos mais casa, temos o problema da água. Aqui tem água só o quanto a gente quiser beber.
“Guerra contra a natureza”
“Em toda minha carreira, nunca vi nada igual. É, literalmente, uma guerra contra a natureza.” É assim que o voluntário do Grad (Grupo de Resposta a Animais em Desastre) Ernesto Aparecido Júnior descreve a situação vivida pelo estado.
O voluntário é morador de Várzea Paulista (SP), onde atua como servidor da Defesa Civil Municipal. Ele, que faz parte do grupo desde 2011, calcula ter resgatado, apenas no município de Eldorado do Sul, mais de 130 animais, mas as equipes do Grad têm trabalhado em todo o estado (veja o relato completo no vídeo abaixo).
Aparecido, que já atuou em outros desastres naturais, considera a situação enfrentada pelo Rio Grande do Sul sem precedentes. Apesar disso, ele elogia a logística das autoridades locais, que tem permitido a chegada de mantimentos e equipamentos necessários para a atuação dos voluntários.
Ele pede ajuda de mais gente na área. “Estou vendo que a logística está sendo bem eficaz. Os mantimentos e insumos estão chegando para a gente realizar nosso trabalho, mas acredito que todo mundo tem que se unir um pouco mais, abraçar mais essa causa. Nós, que estamos vivendo em campo, estamos vendo a necessidade. Precisa de mais gente aqui. É um trabalho que vai demorar bastante”, afirma.