Cidades Edu Lyra: 'Temos mais favelados do que gaúchos; isso precisa acabar'

Edu Lyra: 'Temos mais favelados do que gaúchos; isso precisa acabar'

O fundador da ONG Gerando Falcões planeja concluir projeto na favela paulista em um ano e meio e 'espalhar o modelo pelo país' 

  • Cidades | Eduardo Marini, do R7

Edu Lyra levou 150 pessoas para conhecer o projeto Favela Marte 3D

Edu Lyra levou 150 pessoas para conhecer o projeto Favela Marte 3D

DIVULGAÇÃO/LATAM

Eduardo Edu Lyra, 33 anos, nasceu e foi criado na favela Jardim Nova Cumbica, na periferia de Guarulhos, região metropolitana de São Paulo. "Como acontece com quase todo mundo nas favelas brasileiras, quando nasci a vida colocou no meu pescoço uma bomba-relógio armada para explodir a qualquer momento, mas consegui desarmá-la e me livrar da pobreza. Quero isso para os 16 milhões de favelados brasileiros." Nessa entrevista, ele dá mais detalhes do projeto Marte 3D, apresenta dados sobre a população favelada brasileira e reforça o otimismo em ver essas comunidades livres da pobreza. Acompanhe:

R7 - A favela Marte tem 673 moradores em 240 casas. Não é pouco para servir de protótipo e modelo na tarefa de eliminar a pobreza nas favelas brasileiras?

Edu Lyra - Não. Para muitos, o desconhecimento de dados sobre a realidade desse cenário impede a conclusão correta. O Brasil tem cerca de 16 milhões de favelados. O Rio Grande do Sul, um dos estados mais populosos do país, tem 11,3 milhões de habitantes. Temos mais favelados do que gaúchos, o que é um absurdo. Isso precisa acabar. Mas o que poucos sabem é que 80% deles, em torno de 13 milhões, vivem em favelas com até 500 casas, que poderiam perfeitamente receber ações baseadas na experiência da Marte 3D. O que aparece na tevê é a Rocinha, a Paraisópolis, e aí acham que é tudo daquele porte. Não é. De qualquer forma, temos experiências maiores, no mesmo caminho, em cidades do Nordeste e no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, uma favela imensa, com 1.700 famílias.

Como define o conceito do 3D – Digna, Digital e Desenvolvida?

É um laboratório de criação de protótipos e modelos de soluções e tecnologia para resolver o problema da pobreza nas favelas. No caso, esses três pontos abrangem o necessário para uma vida digna, com direitos respeitados.

Os moradores vão poder vender suas casas durante a implantação do projeto?

A prefeitura de São José do Rio Preto vai viabilizar a legalização do terreno, que ainda não é oficialmente dos moradores porque a favela começou com uma ocupação. Uma pesquisa recente nossa mostrou que mais de 97% dos moradores têm como sonho principal a casa com melhorias e devidamente registrada. Esse desejo é tão grande que muitos dizem nem saber mais o que sonhar se isso for realizado. As casas terão um financiamento com pagamento mínimo, uma fração do salário mínimo. Esse financiamento obviamente terá um prazo. Mas depois, com a casa quitada, registrada, legalizada, cada um poderá vender ou fazer dela o que quiser, com a liberdade de qualquer cidadão.

Seu trabalho, carisma e facilidade de comunicação geraram convites para disputar votos nas eleições. Pensa em entrar para a política?

Não. Estou feliz e realizado como empreendedor social.

Você morou por algumas semanas na Marte?

Sim, para entender o que os moradores efetivamente querem e precisam. Esse projeto é verdadeiramente montado de baixo para cima.

Sinceramente acredita ser possível eliminar a pobreza nas favelas brasileiras antes de Elon Musk chegar a Marte?

Claro. Falo com sinceridade. O R7 está convidado a voltar aqui em um ano e meio para ver o resultado. Depois vocês irão testemunhar a decolagem de tudo isso. Tâmu junto, rapaz. Vâmu que dá.

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