Entregadores farão greve nacional contra 'terrorismo dos apps' hoje
Por melhor remuneração em alta inflação e fim de bloqueios, trabalhadores bloquearão shoppings e mais estabelecimentos
Cidades|Guilherme Padin, do R7
Entregadores de aplicativo de todo o país farão uma paralisação de suas atividades neste sábado (11), demandando o aumento da remuneração pelas corridas, o fim dos bloqueios de contas e contra um sistema recente de agendamento de horários para o trabalho.
Começando às 10h, o ato contra o que chamam de “terrorismo dos apps” ocorrerá em várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Natal, Fortaleza, Goiânia, Salvador, Curitiba, Recife, João Pessoa, Boa Vista e Porto Alegre, e outros municípios de regiões metropolitanas e interior. O término dos atos está previsto para o fim da noite, entre 22h e 23h.
A estratégia dos motoboys e bikers desta vez será bloquear as entradas de estabelecimentos com maior volume de pedidos: shoppings, restaurantes e redes de fast food, entre outros.
“Além de corrermos muitos riscos, estamos recebendo muito mal e somos desrespeitados todos os dias pelos aplicativos. A gasolina cada vez mais cara e o custo de vida também. Enquanto isso, as taxas tão lá embaixo. Chega de pagar para trabalhar!”, diz o texto de um comunicado chamando à manifestação.
Os organizadores relataram que o protesto não é financiado ou sequer conta com participação de sindicatos ou outros grupos, mas articulado por eles próprios ao longo de três meses, em comunicação constante de profissionais de diversos estados e custeado a partir de vaquinhas dos ‘motocas’.
“São os motoboys unidos e revoltados contra a plataforma. Estivemos em vários estados alinhando tudo. Nós mesmos estamos organizando, sem ajuda política nem nada. Fazemos vaquinha online e vamos nos ajudando”, afirmou Nascimento, um dos organizadores, ao R7.
Demandas
O aumento do valor oferecido pelas corridas é motivo de protestos na categoria desde julho do ano passado, quando dois grandes atos nacionais aconteceram. A taxa mínima pedida pelos manifestantes é de R$ 10 até 5 km, e mais R$ 2 por quilômetro adicional.
Segundo os profissionais, a partir do início da pandemia de covid-19, com o aumento do desemprego e a consequente procura de outras pessoas pelo trabalho como entregador de aplicativo, a quantidade de trabalhadores sobre duas rodas subiu e o valor recebido pelas entregas baixou mesmo durante um período de alta inflação.
Leia também
Outra demanda recorrente é o fim dos bloqueios sem direito à defesa. Neste caso, eles alegam que os aplicativos bloqueiam as contas dos motoboys e bikers sem motivo aparente, impedindo-os de trabalhar.
Um caso frequentemente relatado são os golpes de usuários, quando um cliente recebe o pedido e afirma no aplicativo que não foi entregue. Segundo os entregadores, isso acarreta automaticamente no bloqueio de sua conta. As plataformas negam esse tipo de ação.
Os trabalhadores sugerem que o código de recebimento de pedido, medida anunciada recentemente por algumas plataformas, passe a ser aplicado em todas as entregas, o que evitaria os golpes.
Um sistema de agendamento de trabalho, recentemente criado pela iFood, ao qual os entregadores se opõem frontalmente e se referem como ‘laboratório’, também está na pauta do ato deste sábado. Os motoboys afirmam que, dentro desse método, só conseguem trabalhar aqueles que conseguirem agendar sua jornada com antecedência.
Posicionamentos
A reportagem procurou a Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia) e três empresas de aplicativo.
Em resposta, a Amobitec afirmou que não houve redução das taxas durante a atual crise pela qual passa o país, e citou medidas para ajudar os trabalhadores, como convênios em postos de combustível e parcerias com empresas para manutenção e peças das motocicletas, e ações como distribuição de kits de higiene e auxílio financeiro a entregadores que contraíram covid-19 – o que motoboys relataram não ter obtido em reportagem anterior.
A respeito dos bloqueios das contas nas plataformas, a associação ressalta que eles são feitos “apenas quando são identificadas reiteradas violações dos Termos de Uso dos aplicativos”, e destaca, ainda, que as empresas não têm interesse em ter os entregadores bloqueados.
A Rappi, por sua vez, assegurou que dialoga com seus entregadores e, a respeito das taxas de entrega, que o frete é calculado levando em conta diversas variáveis, como dia da semana, zona de entrega, distância percorrida e complexidade do pedido. Porém, não respondeu se avalia um aumento para os trabalhadores.
Acerca dos bloqueios, a empresa alega que possui um canal para que os profissionais contestem possíveis falhas. As descrições do caso, prints de chats e outras informações, prossegue a nota, devem ser enviados à Central de Ajuda, “que revisará a situação, revertendo eventuais bloqueios indevidos”.
A Uber Eats não atendeu aos questionamentos. A iFood afirmou que a Amobitec responderia pelas demandas.