Ex-prefeito de Santa Maria depõe sobre a Kiss: 'Cidade traumatizada'
Cezar Schirmer disse que, à época, evitou dar entrevistas e debater a tragédia que deixou 242 vítimas e mais de 600 feridos
Cidades|Fabíola Perez, do R7, em Porto Alegre (RS)
O ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer é o primeiro a depor, nesta quarta-feira (8), no Tribunal do Júri do caso da boate Kiss. O julgamento completa uma semana com um dos depoimentos mais aguardados. Schirmer disse que, à época, evitou dar entrevistas e debater a tragédia que deixou 242 vítimas e mais de 600 feridos com autoridades. “Era prefeito de uma cidade traumatizada, com tantas vítimas, pessoas sobreviventes que precisavam de amparo. Uma cidade emocionalmente abalada, e eu estava no 27º dia do meu mandato."
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“Me autoimpus a tarefa de amparar todos os sobreviventes e as pessoas, familiares ou não, que precisavam de um cuidado psicossocial. Alugamos uma casa, contratamos 42 profissionais de saúde, assistentes sociais e enfermeiras que precisavam do amparo que precisassem. Uma cidade nessas circunstâncias, imagine o prefeito começar a debater com jornalistas, promotores. Me autoimpus um silêncio”, disse ao juiz Orlando Faccini Neto.
Durante seu depoimento, o ex-prefeito criticou o inquérito realizado pela polícia. “Era notório e notável a má vontade da polícia. O inquérito foi feito pela imprensa, e não por uma investigação sóbria feita pela polícia. De muitos pontos de vista, esse inquérito foi uma investigação medíocre e espetaculosa. Esse inquérito levou 55 dias, como quem diz ‘vamos fazer correndo’. Havia uma disputa entre o MP e a polícia no sentido de investigação”, afirmou ele ao chamar o documento de “espetaculoso”.
O ex-prefeito, que atualmente é secretário de Planejamento e Assuntos Estratégicos de Porto Alegre, disse que foi acusado de omissão pelo incêndio na boate, em janeiro de 2013. "Não tem nenhum fundamento, tenho 49 anos de vida pública, limpa, nunca fui processado. Houve uma indicação da polícia ao MP no sentido de que eu deveria ser processado. Não havia nenhum fundamento.”
O dia da tragédia
O depoimento de Schirmer começou às 9h13. Ele relatou como foi informado da tragédia. “Estava em casa dormindo com a minha esposa, por volta de 3h45 ou 4h, me ligou o subchefe de gabinete e me disse que estava ocorrendo um incêndio na boate Kiss. Eu não sabia detalhes. Depois me ligou a chefe de gabinete, Magali, e disse que tinha duas vítimas. Eu disse 'vou me arrumar e vou para aí'. Disse que estaria lá umas 5h.”
O ex-prefeito afirmou que, ao chegar à boate, se deparou com um ambiente de tristeza e que logo as dimensões aparentaram ser maiores do que as que haviam sido informadas a ele por telefone. “Quando eu cheguei lá, havia um ambiente de muita tristeza, um ambiente muito difícil, encontrei a minha chefe de gabinete e vi que o incêndio tinha dimensões maiores, liguei para alguns secretários e pedi que a prefeitura se ativasse para ver o que seria possível fazer naquele momento”, declarou.
“Nesse momento a dimensão da tragédia tinha uma dimensão maior do que se imaginava. Voltei para minha casa, tomei banho e me arrumei. Já tínhamos decidido que o velório seria em um complexo esportivo, grande e bem localizado. Eram muitos velórios ao mesmo tempo, no mesmo espaço e no mesmo ginásio, no maior deles, o Farrezão."