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Aprender idiomas na infância desenvolve importantes habilidades cognitivas

Aprender idiomas na infância tem despertado crescente interesse em função dos impactos positivos no desenvolvimento cognitivo e nas...

Folha Vitória

Folha Vitória|Do R7

Foto: Divulgação/DINO

O dicionário lisboeta Priberam define bilinguismo como a situação de uma comunidade em que são faladas duas línguas ou o domínio de duas línguas por parte de um falante. 

Assim, bilinguismo individual se refere à habilidade de uma pessoa falar e compreender dois idiomas. Neste contexto, trata-se de indivíduos que cresceram ou foram expostos a dois idiomas desde cedo preferencialmente na infância e têm fluência em ambos.

Ellen Bialystok professora de psicologia da York University de Toronto, Canadá no livro Bilingualism in Development: Language, Literacy, and Cognition (Bilinguismo em desenvolvimento: linguagem, alfabetização e cognição) aborda os benefícios cognitivos, linguísticos e acadêmicos do bilinguismo na infância e busca evidências de que o desenvolvimento de dois idiomas na infância acaba sendo um evento profundo com impactos durante toda a vida do indivíduo.


Os principais benefícios propagados pela literatura científica sobre os benefícios do aprender idiomas na educação infantil são: controle inibitório; capacidade de análise e síntese; habilidade de foco e atenção; maiores chances de fluência e ampliação da memória.

Controle inibitório ou autocontrole mental


O controle inibitório pode ser definido como um "freio mental" que ajuda a resistir a tentações, adiar recompensas imediatas e evitar ações impulsivas. É a capacidade de controlar ou inibir respostas impulsivas, distrações ou comportamentos inadequados, permitindo a concentração em tarefas específicas para a tomada de decisões mais assertivas.

Outro estudo de Ellen Bialystok em parceria com Michelle Martin Rhee The development of two types of inhibitory control in monolingual and bilingual children (O desenvolvimento de dois tipos de controle inibitório em crianças monolíngues e bilíngues), explora o controle inibitório em crianças bilíngues.


O estudo identificou que crianças bilíngues apresentam habilidades superiores de controle inibitório comparativamente às crianças monolíngues.

Capacidade de análise e síntese

O estudo The Effects of Bilingualism on Theory of Mind Development (Os efeitos do bilinguismo no desenvolvimento da teoria da mente) realizado por Angeline S. Lillard, investigou os efeitos do bilinguismo no desenvolvimento da teoria da mente em crianças. A teoria da mente refere-se à capacidade de compreender as perspectivas e os estados mentais de outras pessoas.

Neste estudo, os bilíngues tiveram desempenho significativamente melhor do que os grupos monolíngues. As possíveis explicações para essa evidência de uma vantagem bilíngue em capacidade de análise e síntese são: maior controle inibitório e maior capacidade de comunicação.

Habilidade de foco e atenção

Roberto Filippi, Dean D’Souza e Peter Bright na pesquisa A developmental approach to bilingual research: the effects of multi-language experience from early infancy to old age(Uma abordagem de desenvolvimento para a pesquisa bilíngue: os efeitos da experiência multilíngue desde a primeira infância até a velhice) usando uma convergência de métodos de neuroimagem e comportamentais, ao longo de toda a vida, examinaram os efeitos do bilinguismo no desenvolvimento da atenção em diferentes idades. Os resultados destacaram que as crianças bilíngues geralmente mostram uma melhora na capacidade de foco e atenção seletiva.

Crianças têm maiores chances de obter fluência rápida

Ellen Bialystok em Second-Language Acquisition and Bilingualism at an Early Age and the Impact on Early Cognitive Development (Aquisição de um segundo idioma e bilinguismo em uma idade precoce e o impacto no desenvolvimento cognitivo inicial), investigou o desenvolvimento vocabular de crianças bilíngues em seu segundo idioma. Os resultados sugeriram que o bilinguismo precoce estava associado a uma maior probabilidade de fluência no segundo idioma até os 6 anos de idade.

Ellen Bialystok relata que “O bilinguismo é uma força positiva que aprimora o desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças, melhorando o acesso à alfabetização se os dois sistemas de escrita corresponderem e o desenvolvimento de processos executivos gerais para todas as crianças bilíngues que resolvem uma ampla gama de problemas não verbais que exigem atenção e controle. Essas habilidades de controle executivo estão no centro do pensamento inteligente”.

Ampliação da memória e da reserva cognitiva

Tom A. Schweizer, Jenna Ware, Corinne E. Fischer, Fergus I.M. Craik e Ellen Bialystok no estudo Bilingualism as a contributor to cognitive reserve: evidence from brain atrophy in Alzheimer's disease (O bilinguismo como contribuinte para a reserva cognitiva: evidências da atrofia cerebral na doença de Alzheimer), examinaram os efeitos do bilinguismo na reserva cognitiva em pacientes com doença de Alzheimer.

Os resultados indicaram que os indivíduos bilíngues apresentaram menos atrofia cerebral e menor piora cognitiva comparativamente aos monolíngues, sugerindo uma associação entre o bilinguismo e uma maior reserva cognitiva, incluindo a memória.

Grande parte da pesquisa sobre o retardo do início dos sintomas da doença de Alzheimer concentrou-se na farmacoterapia, mas também se reconheceu que os fatores ambientais desempenham um papel significativo. O bilinguismo pode ser um fator que contribui para a "reserva cognitiva" e, portanto, para o atraso no início dos sintomas.

Diferenciais competitivos de ser bilíngue

O professor e economista Diercio Ferreira, autor do livro Seu futuro no mercado financeiro: CPA 20 Certificação profissional ANBIMA descomplicada, relata que "falar mais que um idioma, seja um curso de inglês ou espanhol ainda é um grande diferencial competitivo no mercado de trabalho. A fluência ajuda a ter comunicação eficaz, oportunidades de carreiras internacionais, acesso a uma variedade de informações que podem não estar disponíveis em apenas um idioma, adaptabilidade cultural e competitividade no mercado de trabalho".

O professor Diercio Ferreira entende que "idealmente, o aprendizado de um segundo idioma deve começar desde a infância, quando o cérebro está mais suscetível a absorver e assimilar novos idiomas de forma natural. No entanto, pelas vantagens pessoais e profissionais nunca é tarde para iniciar o aprendizado de uma nova língua, e adultos também podem se beneficiar enormemente do bilinguismo".

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