Com menos clientes nas ruas, restaurantes self-service fecham as portas durante a pandemia
Setor depende fundamentalmente do movimento de trabalhadores em seu entorno. No entanto, com menos atividades em funcionamento e pessoas trabalhando de casa, clientela diminuiu consideravelmente
Folha Vitória|Do R7
Com as medidas de distanciamento social que começaram a ser adotadas após o início da pandemia do novo coronavírus, um setor que depende fundamentalmente do movimento de trabalhadores em seu entorno passou a viver sérias dificuldades, inclusive com grande número de fechamento de estabelecimentos. Trata-se dos restaurantes self-services.
Com menos pessoas nas ruas, a clientela diminuiu consideravelmente e, dessa forma, muitos tiveram dificuldades em manter as portas abertas. Foi o caso da dona de casa Andrea Silva e Souza, de 46 anos. Depois de 15 anos de funcionamento, ela decidiu encerrar as atividades do restaurante que tinha, no Centro de Vitória, e agora passa a maior parte do tempo pensando em como vai pagar as dívidas.
"É muito ruim você sempre ter tido a confiança das pessoas e, de repente, começar a receber telefonemas, pessoas até na sua própria casa, e-mails e WhatsApp sem parar, de cobranças. Coisas que eu nunca passei", lamentou.
O restaurante de Andrea foi fechado ainda no início da pandemia, um dia antes da primeira suspensão de atividades não essenciais no Espírito Santo. A dona de casa conta que chegou a dar férias coletivas e suspender contratos dos funcionários.
"Nosso público maior, cerca de 90%, era de servidores públicos. E aí, quando veio a pandemia, eles precisaram ficar em casa, trabalhando em home office, e eu não tinha cliente. Então eu não tinha condições de manter um restaurante com 100 lugares para atender 30, 20 pessoas por dia", conta.
O caso de Andrea não é exceção. O problema se repete em todo o país. Um levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostrou que aproximadamente 80 mil restaurantes self-services encerraram as atividades durante a pandemia, em todo o Brasil. Antes dela, havia cerca de 200 mil estabelecimentos desse tipo no país. A redução foi de 40%.
Considerando os demais restaurantes, lanchonetes e bares, havia 1 milhão de negócios do setor no Brasil até março de 2020, empregando 6 milhões de brasileiros. Cerca de 335 mil fecharam as portas em definitivo e mais de 1,3 milhão de empregos foram perdidos. O levantamento não apontou dados específicos de estabelecimentos fechados no Espírito Santo.
"De fato, é um segmento que depende muito das atividades em geral, porque é a comida do dia a dia. Como as atividades diminuíram muito, com os novos formatos de trabalho, o home office, e com a própria perda de poder aquisitivo da população, há essa mudança de hábitos, que impacta diretamente nesse hábito de almoçar todo dia nesse tipo de restaurante. Então realmente é uma operação que está muito prejudicada e precisa ser olhada com muito carinho", destacou o presidente do Sindicato dos Restaurantes, Bares e Similares do Espírito Santo (Sindbares-ES), Rodrigo Vervloet.
Andreia conta que chegou a desenvolver um quadro de depressão. Desmotivada pela pandemia, não pretende abrir outro restaurante. Enquanto ela não encontra outra atividade, a família de três pessoas vive exclusivamente da renda do marido.
"Foi algo que me traumatizou, foi um sonho que virou uma frustração, um pesadelo. Eu não tive estrutura. Fiquei muito sobrecarregada por tudo isso. E agora eu, sinceramente, não penso mesmo em voltar. De forma alguma".
Com informações da repórter Fernanda Batista, da TV Vitória/Record TV