Descoberto pigmento que mata bactérias
Violaceína pode afetar o crescimento de células tumorais
Folha Vitória|Do R7
A todo momento, cientistas ao redor do mundo descobrem moléculas com atividade biológica. Mas nem sempre as pesquisas se aprofundam, ficando algumas moléculas com potencial de virar fármacos esquecidas pelo caminho. Um grupo de pesquisadores da USP e da Unicamp acaba de resgatar a violaceína desse limbo. Ao analisar o pigmento, que tinha sua ação bactericida conhecida há mais de 70 anos, finalmente descreveram o mecanismo que a faz mortal para bactérias: a desintegração da membrana celular.
A descoberta tem implicações diversas. Se a violaceína é capaz de atacar a membrana celular, semelhante nas células de muitos seres vivos, ela também é nociva a outros microorganismos, e pode afetar o crescimento de células tumorais, como explica Frederico J. Gueiros-Filho, professor do Instituto de Química (IQ) da USP e um dos líderes do estudo publicado na revista ACS Infectious Diseases.
É claro que isso não nos deixa perto da cura do câncer, ou de um novo superantibiótico. Mas sem estudos básicos como esse, pesquisas aplicadas não podem nem dar os primeiros passos. “Temos inúmeras moléculas com atividade biológica relatada na literatura científica, mas o desenvolvimento até se chegar a um fármaco dificilmente acontecerá antes que se saiba como elas atuam”, diz Frederico.
A molécula
A violaceína é produzida por bactérias ambientais inofensivas ao ser humano, especialmente a Chromobacterium violaceum. O pigmento tem múltiplas atividades biológicas, sendo um potente antibacteriano, inclusive contra bactérias persistentes, que ficam em estado dormente como estratégia de resistência a antibióticos que dependem da atividade metabólica. Essas bactérias formam biofilmes para sobreviver em ambientes hostis. É o caso do Staphylococcus aureus, capaz de causar desde infecções simples, como acnes e furúnculos, até mais graves, como pneumonia e meningite.
Ela também age contra fungos, protozoários, vírus e células tumorais, além de ser antioxidante. A pesquisa então é uma nova contribuição aos estudos que descreviam essas atividades, mas que não identificavam o alvo nem o modo de ação do produto.
* Com informações da Universidade de São Paulo