14% dos estagiários do país têm mais de 30 anos
Gazeta Digital|Do R7
A matrícula no curso de direito, em 2015, foi o recomeço na vida de André Ítalo Mauro, 58 anos, que viu a necessidade de mudar de área aos 48 anos.
Formado em educação física, ele tinha uma escolinha de futebol em um terreno particular e precisou se desfazer do negócio quando o dono anunciou a venda.
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Por não contar com um capital para assumir tal investimento, teve de fechar as portas e começar a trabalhar para outras pessoas.
“Foi uma fase muito difícil, passei a ser assalariado, ter de trabalhar o dia todo em pé dando aula, sem a mesma disposição de quando era jovem. Afinal, trabalhar aos 48 anos sentado é uma coisa, na área de educação física a exigência é muito maior”, diz.
Mauro chegou a tentar a trabalhar como taxista, foi assaltado duas vezes e desistiu da profissão. Nesse período, enquanto atuou como motorista de aplicativo, começou a estudar para prestar concurso público e recuperar a sua estabilidade financeira.
Em uma escola de curso preparatório, passou a ter acesso a aulas sobre direito e se encantou pela disciplina.
Resolveu prestar Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), teve boa classificação e conseguiu uma bolsa integral para cursar direito na Faculdade Anhanguera.
Hoje ele está terminando a graduação, se preparando para prestar o Exame de Ordem, conquistou uma vaga de estágio na Defensoria Pública do Estado de São Paulo e está muito feliz com esse “novo começo”.
“Passei por uma fase muito difícil quando precisei fechar o meu negócio. Fiquei triste, vi meu casamento acabar, mas sou muito feliz hoje porque sei que a advocacia não vai exigir muito da minha parte física. Eu posso ficar velhinho que os ensinamentos estarão na minha cabeça e eu poderei continuar atuando. Adoro o que eu faço! ”
Além da defensoria, Mauro também faz trabalho voluntário na faculdade uma vez por semana, no período da tarde, e atende clientes fixos para viagens executivas para complementar a renda.
“Unimos todas as economias da família, compramos um carro de luxo e estou trabalhando com viagens agendadas na parte da tarde. ”
Quanto ao casamento, Mauro diz que hoje namora com a ex-mulher. “Estamos namorando e muito felizes. ”
Brasil tem 28 mil estagiários com mais de 30 anos
A história de Mauro não é um caso isolado no mundo dos estágios. Segundo dados do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), dos 200 mil estagiários com contratos administrados por ele em todo o país, cerca de 14% (28 mil) têm acima de 30 anos.
“A expectativa é que esse número cresça ainda mais. Atualmente temos 2,4 milhões de estudantes com mais de 30 anos matriculados nas universidades. São pessoas que não tiveram oportunidade de estudar antes e estão retomando agora. Certamente existe a possibilidade de inserção desse público no mercado de trabalho”, diz Rafael Castro, consultor de atendimento do CIEE.
É o caso de Juscilene Silva Duras de Oliveira, 43 anos, que desde maio é estagiária da Papelaria Lado a Lado em Perdizes, na zona oeste da capital de São Paulo.
“Trabalhei durante muito tempo como atendente em um restaurante. Quando consegui, voltei a estudar para ter uma oportunidade profissional melhor. Pensei que seria muito difícil conseguir uma vaga de estágio, mas fui chamada para esse trabalho logo após fazer a inscrição. ”
As empresárias Daniela Camargos e Patrícia De Marco, responsáveis pela contratação de Juscilene, dizem que a seleção de pessoas mais maduras é uma prática na papelaria.
“Quando fomos selecionar a Juscilene, vieram candidatas mais novas, mas optamos por ela por causa da nossa experiência. Já tivemos funcionários mais novos e percebemos que eles não tinham o mesmo comprometimento”, conta Daniela.
Daniela afirma que desde que ela e a Patrícia compraram a papelaria, há três anos, elas mantêm esse padrão. “Nossa gerente, que acompanha a loja desde a sua abertura, há 17 anos, tem 75 anos e não a trocamos por nada”, comenta a empresária.
Estudante adora tirar dúvidas com mais novos
Dürre chegou a começar o curso de administração de empresas aos 20 e poucos anos, mas precisou interromper. Depois disso, só conseguiu retomar os estudos no ano passado.
“Estava trabalhando numa área totalmente diferente, mas sempre quis atuar em propaganda e publicidade. Para mim é uma realização estar aqui. ”
O estagiário afirma que não sofreu nenhum preconceito ou contratempo por ser o mais velho da turma.
“A responsabilidade e o engajamento são os mesmos no estágio do que quando eu era um profissional em outra área. Me sinto mais diferenciado por ser mais maduro, mas, às vezes, sou até mais moleque do que os demais”, revela.
Ele afirma, que não hesita em tirar dúvidas com os demais estagiários. "Sempre pergunto porque é um processo importante do aprendizado."
Dürre diz que a troca não mudou muito sua vida financeiramente. “Troquei seis por meia dúzia. O que conta mais é que aqui eu estou fazendo o que eu gosto e tenho mais perspectiva de vida, já que a empresa oferece plano de carreira. ”