Agressores de mulheres usam redes sociais para se esconder
Gazeta Digital|Do R7
Sites para quem está a procura de um relacionamento ganham cada vez mais espaço na internet e estão na moda. Conhecer pessoas pelas redes sociais pode dar certo, mas é um risco. Quando se trata do mundo online é preciso ainda mais cautela que pessoalmente, já que essa nova forma de se relacionar tem sido muito utilizada para prática de vários tipos de crimes, entre eles, as diversas práticas de violência contra a mulher. Especialistas em violência doméstica enfatizam que agressores passam outra imagem e criminosos, geralmente, usam perfis falsos.
No último fim de semana o caso da empresária e paisagista Elaine Caparróz, agredida durante 4 horas no Rio de Janeiro, volta a chamar a atenção para os riscos. Na madrugada de sábado (16), a empresária de 55 anos foi agredida durante 4 horas em sua casa após se encontrar com um homem que havia conhecido há alguns meses em um site de relacionamento. Esse seria o primeiro encontro deles na residência dela. A polícia considerou o crime como violência doméstica e familiar, por razões de condição de sexo feminino. O suspeito, identificado como Vinícius Batista Serra, 27, foi preso em flagrante após vizinhos acionarem PMs. Ele alega ter sofrido um surto psicótico.
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Defensora pública do Núcleo de Defesa da Mulher em Mato Grosso, Rosana Leite afirma que muitos agressores alegam surto psicótico, ou outros problemas mentais, para justificar seus crimes, como ocorre no caso citado. Porém, ela explica que existem vários meios da polícia e a justiça identificarem a verdade. No caso de dizer que foi surto, segundo ela, a justiça determina a realização de um exame de sanidade mental. Em regra, o exame de sanidade mental aponta perfeito estado mental. Poucos casos constatam realmente a doença.
Rosana afirma que as mulheres precisam ficar atentas aos sinais que podem apontar para um homem violento. Eles apresentam sinais, que podem ser aferidos pela fala e atitudes.
Uma fala mais impositiva, preconceituosa, machista e exagerada. Piadinhas e até mesmo por meio do contato físico é possível, segundo especialistas, diagnosticar um homem que é propenso à violência.
Segundo a defensora pública, é necessário anteceder aos relacionamentos abusivos, identificando e desviando deles, pois os feminicídios precedem de delitos menos graves, como os citados. Conforme ela, o grande perigo das redes sociais é justamente a possibilidade que esses agressores têm de mascarar algumas atitudes agressivas e demonstrarem ser o que não são. Os agressores sabem que são violentos. Assim, eles tentam esconder das mulheres no início essas características.
Foi justamente essa máscara que fez com que a contadora N.A.F, 33, marcasse um encontro com um desses agressores. Ela conta que conheceu o homem em um aplicativo de relacionamento e, após um mês de conversas e telefonemas, decidiram marcar o primeiro encontro, que ainda demorou algumas semanas para acontecer já que ele morava no interior do Estado e ela em Cuiabá. Ele sempre era muito atencioso em nossas conversas e demonstrava ser muito respeitoso.
Quando enfim ocorreu o encontro, eles se apaixonaram e decidiram começar um relacionamento. No entanto, N. conta que começou a perceber um ciúme excessivo da parte dele. Ele ficava monitorando pelas redes sociais e até por whatsapp tudo que eu fazia.
Segundo ela, essa mania foi por diversas vezes motivo de discussões no relacionamento, que durou seis meses. Terminou
quando eu descobri que ele já havia batido em uma ex-namorada por ciúmes.
O delegado Cláudio Álvares Santana, da Delegacia da Mulher de Várzea Grande, lembra que quando se conhece alguém pela internet não se sabe realmente quem está do outro lado. Muitos criminosos utilizam perfis falsos para atrair as vítimas. Na delegacia, conta que já atendeu diversos casos em que pessoas foram vítimas de crimes relacionados ao uso das redes, entre eles pedofilia, estupro, estelionato, espancamento e roubo.
A máxima válida para conhecer pessoas, de forma online, segundo o delegado, é sempre confiar, desconfiando, ter o pé atrás. Na grande maioria dos atendimentos feitos nesses casos, o delegado conta que os perfis são falsos. É necessário ficar atento.
Outra dica do delegado é sempre marcar encontros em lugares públicos, como shoppings, restaurantes, praças, e sempre que possível levar uma pessoa junto. Outra alerta que pode ajudar é quando decidirem que é hora de um encontro, use a sinceridade e fale que você irá pesquisar o histórico da pessoa. Pergunte o nome completo, a idade, a cidade em que vive.
Tomando alguns desses cuidados, a jornalista Eliane Amorim, 32, conheceu o seu namorado por meio de um aplicativo de namoro. Ela conta que teve receio de se relacionar justamente por medo da máscaras, mas que tomou alguns cuidados e tudo deu certo. No início nossos encontros eram sempre em locais público.
Logo quando os dois começaram a demonstrar interesse em algo mais sério, ela fez questão de conhecer seus amigos e sua família. Nós levamos meses para ficarmos sozinhos só eu e ele. Era sempre no meio de mais pessoas, como no shopping, por exemplo.
Quando enfim ela foi conhecer a família dele, ela levou junto seu irmão. Pensei, tem que ir alguém porque vai que esse cara é um mentiroso e me leva para outro lugar. Tem muito doido por aí, da risadas ao contar.
Depois de quase quatro meses de conhecimento e observações, foi que ela enfim decidiu que ele era normal. Nesse tempo u já conhecia família, amigos, colegas de trabalho e estava tudo tranquilo.
Se liga
Psicóloga comportamental, Neide Miranda destaca que muitas pessoas encontram a alma gêmea por meio da internet, que isso é possível. Mas também há muitas pessoas que vivem traumas e violência por meio das redes sociais. Eu atendo mulheres que por carência acabam optando por esse meio para conhecer pessoas e, muitas vezes, se frustram.
Ela alerta para o cuidado necessário, tanto físico como emocional. Segundo ela o ideal é sempre um relacionamento de corpo presente, para que ambos possam se conhecer melhor e assim decidirem sobre a vida a dois, lembrando sempre que não existe príncipe encantado. A internet é um meio, mas quem a utiliza precisa ser inteligente para entender que relacionamento é além.
A dica dela é ter cautela e expertise para não cair em uma cilada.