'Um desafio nós mulheres assumirmos posição de comando'
Gazeta Digital|Do R7
Responsável por casos emblemáticos ao longo dos 5 anos como delegada, Jannira Laranjeira Siqueira Campos Moura, 41, vive em um cotidiano intenso em meio às investigações e no combate ao crime. Sem deixar a feminilidade de lado, a mulher destaca a importância de estar dentro do ambiente policial, por muitas vezes masculinizado. “É um desafio nós mulheres assumirmos posição de comando em uma sociedade ainda machista, onde as ordens emanadas de um homem são mais valorizadas do que a de mulheres”, pontuou.
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“Mas nós temos que encarar esse desafio e enfrentarmos de maneira dócil, sem agressividade. Esse é o diferencial da mulher, nós quanto gestoras, delegada de polícia, a gente procura desvendar o crime, combater a criminalidade, nos relacionarmos dentro do serviço com nossos colegas homens, de maneira educada e respeitosa, nos fazendo compreender a cada comando, decisão, necessidade”, completou durante entrevista ao #GD.
Atualmente lotada na Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), Jannira é responsável por mais um caso recente de violência doméstica contra Larícia Melhoranca Reyes, que resultou no assassinato de seu namorado, Roberto Lemos dos Santos, 50, provocado pelo ex-marido da mulher, José Antônio de Assis, 50, preso preventivamente pelo homicídio do homem e sequestro da mulher. “Essa mulher viveu horrores na mão deste homem”, afirmou a delegada ao relembrar o caso.
Jannira diz que ao se deparar com casos envolvendo crimes contra a vida da mulher toma inspiração para se fortalecer no combate à violência e enfrentamento a condutas machista, possessiva e dominadora. Para isso, a delegada busca contato direto com a vítima, e também com os filhos, com intuito de oferecer apoio, opções de tratamento e fortalecer a mulher, seja psicológica, emocional ou financeiramente.
“A gente (mulher) acaba tendo mais força pra gente falar e orientar essas mulheres. Nós mulheres (policiais) atendermos esses tipos de ocorrência é um diferencial porque a gente consegue repassar isso para elas e também ouvi-las”, defende Laranjeira.
A delegada frisa a importância de ganhar espaço desde dentro de casa, entre pais, maridos, irmãos, tios e filhos, para mostrar a necessidade de a mulher ter voz ativa e ser respeitada, seja em casa, no trabalho ou na rua. “É importante que nós tenhamos em mente que a oportunidade que nos é dada em cada amanhecer é uma oportunidade de vida ”, encorajou Jannira.
Vida pessoal
Cuiabana de tchapa e cruz, Jannira Laranjeira se formou em direito aos 22 anos. Em 2006 se casou com um policial federal. Dedicada ao trabalho em busca de uma carreira que lhe proporcionasse maior estabilidade, a mulher recorreu ao procedimento de congelamento de óvulos. Ela atuou como advogada em Cuiabá e também como procuradora na Procuradoria do Conselho Federal de Economia, em Brasília
Em 2013, quando retornou para a Capital mato-grossense já aprovada para o concurso de delegada, Jannira conseguiu engravidar após várias tentativas com a fertilização in vitro, porém sofreu aborto espontâneo aos dois meses de gestação. “Sofri muito com aquela perda. Mas as coisas de Deus são preparadas de formas totalmente diferente do que muitas vezes desejamos”, lembra. Quase dois meses depois, Jannira recebeu a notícia da nomeação para o cargo de delegada em Cuiabá. Dias antes da posse, Laranjeira quebrou o pé, mas se fez presente em uma cadeira de rodas como a única mulher da turma de delegados empossados em 2014.
Naquele mesmo ano, ela conseguiu engravidar e ter uma menina, hoje com 3 anos de idade. “Sempre tive vontade de ser mãe. Foi um período de muita emoção”, conta que nesse período atuava na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf). Por ter filha única, a delegada diz que tenta educar de forma não “estragar” a menina. “A gente cria o adolescente de amanhã, o adulto de amanhã. Então a responsabilidade tem que ter desde agora”’, pontua.
Sobre a segurança, a delegada afirma que toma cuidados básicos de atenção e, que por conta da profissão, os familiares são bem orientados quanto a segurança pessoal. “A gente acaba ficando psica (sic) com certas condutas. Então, sempre mantemos a guarda e ficamos sempre atentos”, diz. Jannira também orienta às mulheres a terem mais cuidados ao saírem de carro, como evitar falar ao celular, demorar a entrar ou sair do carro.
A delegada também pontua que manter a vaidade é a essência da mulher. Faz parte do nosso ego. Gosto de me cuidar desde sempre, colocar unhas, cílios, maquiar, usar acessórios. Hoje com a correria de uma operação perdi o brinco, mas faz parte. Esse também é um diferencial da mulher. Além do cuidar de casa, de filho, organizar o dia e dividir as atribuições com o marido, ter tempo para si. Ainda tive tempo de participar de um almoço dedicado às mulheres delegadas”, finalizou Jannira.