Luz mais cara: mudanças climáticas já afetam cotidiano de moradores da Amazônia Legal
Um terço da população da região sente impactos diretos do clima; povos tradicionais são os mais vulneráveis
Cidades|Luiza Marinho*, do R7, em Brasília

Uma pesquisa inédita revelou que os efeitos das mudanças climáticas já fazem parte do dia a dia de quem vive na Amazônia Legal.
A análise “Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal” foi realizada pela Umane e pela Vital Strategies, com apoio do Instituto Devive e apontou que 32% dos moradores da região afirmam ter sido diretamente afetados pelo aquecimento global.
Entre os povos e comunidades tradicionais, como indígenas, ribeirinhos, seringueiros e quilombolas, o índice sobe para 42,2%.
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Entre maio e julho de 2025, o levantamento, disponível no Observatório da Saúde Pública, ouviu 4.037 pessoas dos nove estados da Amazônia Legal — Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Impactos no cotidiano
A pesquisa mostra que o aumento da temperatura e de eventos extremos tem consequências diretas na vida das pessoas. Mais de 80% dos entrevistados relataram alta na conta de energia elétrica (83,4%) e aumento das temperaturas médias (82,4%).
Outros problemas também foram citados, como poluição do ar (75%), desastres ambientais (74,4%) e alta no preço dos alimentos (73%).
Cerca de dois terços da população afirmaram ter enfrentado ondas de calor intensas nos últimos dois anos. Além disso, mais de 58% dos moradores já vivenciaram períodos de seca prolongada e relataram incêndios florestais com fumaça intensa.
“Essas podem parecer porcentagens pequenas, mas, ao entendermos que representam em torno de 5 milhões de pessoas, fica evidente o grande impacto que essas mudanças climáticas representam no dia a dia das pessoas, dificultando o acesso a itens básicos”, explica Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies e responsável técnica pela pesquisa.
Entre os povos e comunidades tradicionais, a piora da qualidade da água (24,1%) e os problemas na produção de alimentos (21,4%) foram mais citados que entre os demais moradores.
‘Ansiedade climática’
O estudo também indica mudanças de comportamento diante da crise climática. Mais da metade da população (53,3%) reduziu práticas que acredita agravar o problema, e 64% afirmam separar o lixo para reciclagem. Entre povos tradicionais, o número é ainda maior (70,1%).
O levantamento também reforça a necessidade de integrar saúde e meio ambiente nas políticas públicas.
“O estudo mostra que a crise climática não é apenas uma questão ambiental, mas um desafio para a saúde pública. Identificamos que um terço dos moradores da Amazônia Legal já sofreu impactos diretos do clima e que a maioria depende exclusivamente do SUS para atendimento”, afirma Pedro de Paula, diretor executivo da Vital Strategies Brasil.
Para os especialistas, é essencial que as esferas nacionais, municipais e estaduais priorizem responder de forma mais efetiva aos desafios trazidos pelas mudanças climáticas na região.
“É preciso superar a falta de recursos e promover uma atuação conjunta entre diferentes pastas, especialmente nas áreas de saúde, meio ambiente e assistência social, levando em conta a vulnerabilidade da Amazônia Legal. A chamada ‘ansiedade climática’ também tem afetado a saúde mental das pessoas, e isso precisa entrar na pauta das políticas públicas em níveis estadual e municipal, com fiscalização e envolvimento de setores que já atuam em saúde e educação”, finaliza Luciana.
Os dados passaram por ajustes estatísticos com base no Censo 2022 e na Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, garantindo resultados confiáveis e comparáveis.
*Sob supervisão de Leonardo Meireles
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