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Pelo “nome da família”, mulheres de classe alta deixam de denunciar estupros

BOs se concentram na periferia, mas classe alta enfrenta abusos em silêncio, diz especialista

Cidades|Giorgia Cavicchioli, do R7

Grupos feministas lutam pelo fim da Cultura do Estupro
Grupos feministas lutam pelo fim da Cultura do Estupro Grupos feministas lutam pelo fim da Cultura do Estupro

“Mapa do estupro” feito pelo R7 mostra que o registro dos casos de abuso sexual na capital paulista está concentrado nas regiões periféricas(ver mapa abaixo). Porém, esse não é um tipo de violência que está somente nas áreas mais pobres da cidade. Segundo Goretti Bussolo, do Instituto Todas Marias, que realiza um trabalho de apoio às mulheres vítimas de abusos, “é assustador o número de meninas que foram abusadas e não estão nessas estatísticas”.

— O número de meninas e meninos de classe alta é gigantesca. Mas eles não denunciam e a família esconde.

A subnotificação dos casos de estupros em classes altas se dá, segundo ela, porque a maioria deles acontece dentro da própria casa e existe um medo de “manchar o nome” da família.

— É o medo, a vergonha. A família não fica do lado. É rara a família que apoia a vítima. Existe a dúvida sobre “o que a sociedade vai pensar”.

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Goretti diz que ela está tratando de casos que envolvem pessoas da política, agentes de saúde, pessoas da imprensa e até defensores da lei. E existe um outro medo para algumas mulheres de classe alta que sofrem com os abusos: perder o padrão de vida que têm.

— Eu tenho argumentado muito sobre isso. Ela fala: “mas eu vou deixar tudo pra ele [com a separação]”? E eu digo: “depois você entra na Justiça”.

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Goretti também alerta para o problema que as trabalhadoras sofrem dentro da casa dos patrões. Ela mesma foi vítima de um estupro quando tinha 12 anos. Ela trabalhava como empregada doméstica e foi abusada por quatro homens em seu ambiente de trabalho.

Denúncia

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Nos últimos cinco anos, o número de registros de estupro em São Paulo teve uma queda de 14%. Em 2011, foram 2.418 denúncias e, em 2015, 2.087. Mas, é sabido que o número de vítimas é muito maior do que o oficial. De acordo com a psicóloga Letícia Bahia, há estimativas que apontam que apenas 35% das mulheres vítimas de estupro levam seus casos à polícia.

— É um problema muito difícil de diagnosticar. A gente sabe que esse número é muito grande e diz muito sobre o despreparo para acolher essas vítimas.

Além disso, existe a luta para que se mude a chamada “cultura do estupro” para que os casos não aconteçam mais. Segundo especialistas no assunto, punir os culpados é necessário, mas não suficiente. É preciso que se entenda que as mulheres devem ser tratadas de maneira igualitária aos homens. Sobre isso, Goretti diz: “pra que Justiça se eu já vou estar em um caixão”?

— O homem sai da cadeia e mata a esposa. [Os estupradores] precisam de tratamento e o que precisamos é tratar a causa. A minha briga é para que tenham políticas transformadoras. Nós [mulheres] não somos inferiores.

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