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Prejuízo do Brasil com chuvas em um mês é suficiente para construir 17 piscinões, aponta estudo

Catástrofes causaram rombo diário de R$ 30 milhões em dezembro; prejuízo total foi de mais de R$ 931,4 milhões

Cidades|Isabelle Amaral, do R7

MG é o estado com maior número de mortes por catástrofes ambientais em dezembro
MG é o estado com maior número de mortes por catástrofes ambientais em dezembro

Desastres naturais não escolhem dia nem hora para ocorrer, mas, segundo especialistas entrevistados pelo R7, são previsíveis e, consequentemente, podem ser evitados. Só entre 1° e 31 de dezembro de 2022, o Brasil teve um prejuízo de R$ 931,4 milhões, o que corresponde a R$ 30 milhões por dia somente com as destruições causadas pela chuva. Esse valor, se convertido para investimentos contra esse tipo de calamidade, seria o suficiente para construir cerca de 17 piscinões, mostra estudo da CNM (Confederação Nacional dos Municípios).

Segundo o levantamento, nesse recorte, o governo federal pagou R$ 74,5 milhões para ações de proteção e defesa civil nos municípios afetados. Com isso, o valor corresponde a apenas 8,1% do que as cidades realmente precisam para fazer os trabalhos e as reparações causados por essas destruições.

A cada ano, o Brasil e o mundo têm sofrido com tragédias causadas pelo excesso de chuvas, tempestades, ciclones e tornados, que deixam rastros de destruição e morte por onde passam. Só em dezembro, no país, esses fenômenos provocaram a morte de 33 pessoas, além das 15.652 desabrigadas e 72.353 desalojadas.

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O cenário, de acordo com a coordenadora de incidência política na Habitat Brasil, Raquel Ludemir, revela que essas catástrofes não são "simplesmente" ambientais, mas socioambientais, porque "acontecem todos os anos e, muitas das vezes, em lugares que já foram afetados antes, e os efeitos disso têm um perfil econômico muito expressivo: a população mais empobrecida do país", ressalta.


A coordenadora, que é doutora e mestra em desenvolvimento urbano, exemplifica as consequências sofridas por pessoas que perderam tudo devido aos estragos causados pela chuva em Pernambuco. "Cada família recebe R$ 1.500 de auxílio emergencial, mas é necessário ressaltar que elas perderam tudo. Então, esse valor dá para comprar um fogão e uma cama de segunda mão, mas roupas, móveis, comida e geladeira não. Fora o aluguel que precisam pagar por conta das casas interditadas", diz.

Além dos danos urbanos e coletivos, a maioria também perde bens que não são materiais, como parentes que acabam tendo a vida levada nesses desatres, "o que pode afetar profundamente o psicológico das pessoas que ficaram". "Como é que você calcula os danos não materiais de uma morte?", questiona Raquel.


Essas circunstâncias, ainda segundo a especialista, "não são novidade nem coincidência". Para ela, o local de moradia da maioria das vítimas hoje ainda é definido pelas questões de raça, classe e gênero.

Qual é a solução para minimizar os prejuízos e as consequências dessas catástrofes?

Para minimizar os danos causados por desastres naturais, é necessário, seguno a CNM, que os órgãos públicos criem ações de gestão de risco, prevenção, preparação, reabilitação e reconstrução de áreas destruídas. Mas por onde começar?


Como medida urgente, Raquel aponta as questões de moradia. "Ninguém mora em regiões de risco porque quer. Essas pessoas não têm alternativa." Apesar disso, reconhece que as políticas de moradias adequadas para todos têm um processo lento; então, o ideal seria que essas regiões pudessem receber prioritariamente os investimentos.

A coordenadora do Habit ainda afirma que, apesar de ser uma alternativa, os investimentos também ocorrem em "processo lento", e lamenta o fato de que tragédias causadas pela natureza ainda serão vistas por muitos anos.

As possíveis soluções, em curto prazo, segundo Raquel, é que a população tenha em mente a necessidade dessa reparação e passe a cobrar o governo por "medidas de emergência e realizações de comitês de gestão de risco".

Prevenção

Para o engenheiro civil e especialista em geotecnia Luciano Machado, é possível prever, por meio de mecanismos de medição de solo e previsão do tempo, quais os locais que podem ser mais afetados pela chuva. Com os resultados disso, as autoridades podem criar operações para a realização de manutenções, obras e, em determinados casos, evacuação de áreas que estejam "no limite".

Cratera que se abriu na marginal Tietê
Cratera que se abriu na marginal Tietê

Uma ação preventiva, citada por Machado, foi a ocorrida na marginal Tietê, quando três faixas da pista acabaram se abrindo e formaram uma cratera. "Como a movimentação do solo foi detectada, houve tempo suficiente para fazer o isolamento da área e evitar acidentes. Apesar do cenário de caos no trânsito de São Paulo, o ocorrido poderia ter sido bem pior se tivéssemos mortos e feridos", ressalta.

Em Araraquara, no interior de São Paulo, uma cratera também se abriu em uma avenida após o temporal que caiu no município às vesperas da virada de ano. Entretanto, não houve um aviso da situação do solo, e cinco pessoas da mesma família morreram: a mãe, os filhos gêmeos e o casal de cunhados.

Para o especialista, que é sócio da MMF Projetos, as autoridades públicas deixam para agir sempre "quando a tragédia já aconteceu". "O ideal é começar a prevenir tudo isso por meio de projetos, obras de infraestrutura e, de preferência, antecipadamente, como em épocas de estiagem", cita.

MG lidera posição com maior número de mortos em dezembro por catástrofes ambientais; SP vem na sequência

O estado de Minas Gerais teve 14 mortes por catástrofes ambientais só entre 1° e 31 de dezembro e lidera a posição. São Paulo vem na sequência, com 6.

Em relação ao número de desabrigados, a Bahia teve 11.473 moradores que perderam os lares, e é o estado que mais sofreu com as chuvas no período, com mais de R$ 254,8 milhões em prejuízos.

Ainda em relação ao número de desabrigados, Santa Catarina fica em segunda posição, com 2.694 pessoas que também tiveram a casa destruída pela chuva intensa e precisaram de apoio de alguma forma. Foram R$ 182,2 milhões em prejuízos, segundo o levantamento da CNM.

"A gestão de risco somente será viável quando todos participarem, e isso demanda uma mudança cultural. Cada um de nós, em nosso dia a dia, tem a obrigação de exercer atitudes que reduzam riscos e vulnerabilidades; é indispensável que isso se torne algo natural para jovens, crianças e adultos", afirmou o órgão na conclusão do estudo.

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