Metralhadoras idênticas às furtadas do Exército, em São Paulo, já foram usadas em assassinatos e roubos
Na semana passada, o Comando Militar do Sudeste descobriu que 21 armas de grosso calibre desapareceram de base em Barueri
Cidades|Letícia Dauer, do R7
O mesmo modelo das metralhadoras furtadas no Arsenal de Guerra do Exército, em Barueri, na Grande São Paulo, já foi utilizado em mega-assaltos a transportadoras de valores, em ataques a helicópteros da polícia e até mesmo em assassinatos no Brasil e em países vizinhos.
A arma de calibre .50, de uso exclusivo das Forças Armadas, é cobiçada por grandes facções criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), em razão do alto poder de destruição.
Esse tipo de armamento tem a capacidade de disparar cerca de 600 projéteis por minuto com alcance de aproximadamente 2 km. Também utilizado em cenários de guerra, esse modelo de metralhadora consegue derrubar aeronaves em baixa altitude e perfurar blindagens.
Assassinato do 'Rei da Fronteira'
Em 2016, o empresário e narcotraficante Jorge Rafaat Toumani, mais conhecido como "Rei da Fronteira", foi assassinado em uma emboscada em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com o Brasil.
Como Rafaat se deslocava em um carro blindado, uma metralhadora antiaérea foi utilizada em sua execução, arquitetada por membros do PCC. O empresário era responsável pelo controle da comercialização de drogas na região.
Após o assassinato do traficante, a facção criminosa de São Paulo deu início ao seu processo de expansão internacional do tráfico de drogas e dominou a rota localizada no sul do Brasil, mudando os rumos do crime organizado.
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Mega-assalto a Prosegur
O mega-assalto à sede da transportadora de valores Prosegur, em Ciudad del Este, no Paraguai, ocorreu no ano seguinte ao da morte de Rafaat e também foi planejado por integrantes do PCC com o uso de armas antiaéreas.
O prédio estava localizado a cerca de 4 km da ponte da Amizade, uma das entradas para o Brasil.
Era abril de 2017, cerca de 50 homens invadiram a empresa com metralhadoras .50, bombas, granadas e fuzis. Para executar o assalto, os criminosos ainda incendiaram carros e fizeram barricadas para desviar a atenção dos policiais.
Na época, a Prosegur afirmou que US$ 8 milhões foram levados da sede. Atualmente, o valor corresponde a cerca de R$ 40 milhões.
Traficantes derrubam helicóptero
Outro caso conhecido que envolve o mesmo modelo de metralhadora é o do helicóptero da Polícia Militar atingido por tiros de traficantes no morro do Macaco, na zona norte do Rio de Janeiro.
O episódio ocorreu em 2009 e é um exemplo de como o uso desse tipo de armamento pesado por organizações criminosas não é uma questão recente. No episódio, os tiros provocaram um incêndio na parte traseira da aeronave, que caiu de uma altura de 120 metros. Três policiais morreram.
Em junho deste ano, Fabiano Atanásio, conhecido como FB, foi condenado a 225 anos de prisão pela participação na ação que derrubou o helicóptero.
Também já foram julgados Magno Fernando Soeiro Tatagiba de Souza, o "Magno da Mangueira"; Leandro Domingos Berçot, conhecido como "Lacoste"; e Luiz Carlos Santino da Rocha, o "Playboy". Um quinto acusado, Michel Carmo de Carvalho, morreu antes do seu julgamento.
Ataque a aeronaves
Na semana passada, dois helicópteros das polícias Militar e Civil foram alvejados durante uma megaoperação na comunidade Vila Cruzeiro, localizada no complexo de favelas da Penha, no Rio.
Segundo informações da Record TV, a aeronave da PM foi atingida no para-brisa, enquanto a outra aeronave foi alvejada no tanque de combustível. Ambas foram retiradas de circulação por tempo indeterminado.
Para Roberto Uchôa, policial federal e membro do conselho do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), apesar de não haver confirmação do governo estadual, os helicópteros provavelmente foram atingidos por tiros de calibre .50 — arma com capacidade ofensiva para derrubá-los.
Furto das metralhadoras
Na semana passada, durante inspeção do Arsenal de Guerra de São Paulo, o Exército descobriu o furto de 21 metralhadoras, 13 de calibre .50 e 8 de calibre 7.62. Para especialistas ouvidos pelo R7, o desvio desse armamento representa risco à segurança nacional e ao setor privado, especialmente às transportadoras de valores.
Atualmente, o Comando Militar do Sudeste e uma equipe do Departamento de Ciência e Tecnologia enviada da sede, em Brasília, são os únicos a investigar o crime.
Como nenhum integrante do Exército procurou a Polícia Civil para registrar boletim de ocorrência, a SSPSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou que não participa das investigações.
Entretanto, a pasta disse, em nota, que "as polícias Civil e Militar empreendem maciços esforços no sentido da localização do material subtraído e da identificação e da prisão dos autores do crime".
Cerca de 160 militares também estão aquartelados em Barueri em razão das investigações. Na terça-feira (17), o Exército chegou a liberar 320 dos 480 funcionários que estavam retidos.
"O Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP) passou da situação do estado de prontidão para sobreaviso, o que significa uma redução do efetivo da tropa aquartelada. A investigação segue em curso e está sob sigilo", explicou a instituição.