Vídeo: mulher de 93 anos que perdeu tudo no RS recupera coroa de rainha da 3ª idade
Marina, que teve que sair de casa em um barco para dar à luz em 1965, enfrenta 3ª enchente; ela conta que esta foi a pior
Cidades|Bruna Lima, do R7 Brasília, enviada especial ao Rio Grande do Sul e Carlos Eduardo Bafutto, do R7, em Brasília
A moradora do município de Canoas (RS) Marina Alves dos Passos, 93 anos, foi uma das milhares de vítimas que perderam tudo na enchente que deixou o Rio Grande do Sul em estado de calamidade. Nessa segunda-feira (27), uma recordação foi encontrada na casa dela: a coroa e a faixa que recebeu como rainha da terceira idade do grupo Princesa Isabel. Marina participa do grupo de mulheres idosas há mais de 30 anos. Ela é a mais velha da turma e conta que ganhou a faixa e coroa há 14 anos. Antes disso, ela foi eleita princesa da terceira idade duas vezes. O momento em que os itens foram entregues a ela, de surpresa, foi registrado pelo R7 (veja o vídeo abaixo).
Ao R7, Marina contou que passou por três inundações e, na segunda delas, teve que sair de casa de barco para dar à luz sua filha Denise Passos Dornelles, 58 anos. Viúva há 23 anos, Denise está hospedada com a mãe e os filhos na casa da cunhada. Todos os dias ela chega até a beira do alagamento e observa a própria casa de longe. A água que chegou até o forro no período mais crítico da enchente desceu até o nível do joelho, mas ela ainda não teve coragem de ir até lá. Denise tem problema de coração e teme não aguentar ver o estado da casa. “Vai dar um choque muito grande [ver o que sobrou da casa]. Não dá nem para imaginar, eu perdi tudo, a gente perdeu tudo.”
Os filhos dela conseguiram entrar na residência e recuperar, entre outras coisas, a lembrança da avó Marina. Eles também conseguiram pegar itens como uma coleção de moedas antigas do filho Rafael Passos. “Há moedas até do século 19″, conta. Além disso, quando a água subiu, Rafael deixou o computador em uma parte alta do segundo andar da casa e conseguiu recuperá-lo agora ao voltar ao local. “Molhou um pouco, mas parece que dá para consertar”, disse.
Nada que estava no pátio externo da casa foi furtado. A família temia ter a casa saqueada enquanto estava longe do local. “Tem gente se aproveitando da situação para furtar as casas”, comenta. Uma bicicleta também foi recuperada. Mas isso foi tudo o que a família conseguiu reaver.
Marina afirma que perdeu tudo o que tinha. “Minhas roupas, minhas coisas”, lamenta. “Nunca tinha pensado na minha vida ver isso”, diz ela, mostrando seu bairro arrasado pela inundação. Ela conta que saiu aos prantos de casa. “Chorando e falando no meu papel de casamento, que ficou na água”. Apesar de ser viúva, ela ainda guardava o documento.
A filha Denise diz que a enchente vai ficar para sempre na memória. “Nunca mais vou me esquecer do que a gente viveu lá para sair de casa, que teve que ser de barco só com a roupa do corpo.”