Ações da Petrobras desabam 6,63% por temor de interferência federal
Depois de dizer que queria mudanças na estatal, o presidente Bolsonaro anunciou troca no comando da empresa
Economia|Do R7, com Reuters
Ameaças explícitas do presidente Jair Bolsonaro de troca no comando da Petrobras reavivaram o receio de ingerência do governo federal, derrubando as ações da estatal nesta sexta-feira (19).
O índice PETROBRAS PN desabou 6,63%, enquanto PETROBRAS ON perdeu 7,92%, com os receios de interferência na política de preços da estatal. Bolsonaro reafirmou nesta sexta que "que teremos mudança sim na Petrobras".
No fim do dia, o presidente anunciou a troca de comando na empresa. Em nota divulgada em rede social, o mandatário informou que Roberto Castello Branco será substituído pelo general Joaquim Silva e Luna, ex-diretor geral da usina Itaipu Binacional.
A indicação do nome de Silva e Luna precisa, no entanto, ter aprovação do conselho de administração da Petrobras. Bolsonaro não tem poder formal para demitir Castello Branco. A decisão cabe ao conselho, formado por membros indicados pelo governo, mas que atuam com independência. O conselho deve se reunir na terça-feira (23) e deve discutir a troca.
Ibovespa
Após ter chegado a flertar com as mínimas do mês, o Ibovespa recuperou-se parcialmente à tarde, antes de fechar em baixa de 0,64%, aos 118.430,53 pontos, com influência positiva de Wall Street e com a queda do dólar beneficiando algumas ações. Na semana encurtada pelo feriado prolongado de Carnaval, o índice teve perda acumulada de 0,83%.
A volatilidade criada com as declarações de Bolsonaro --as quais ele mesmo tentou relativizar, negando planos para interferir na política de preços da companhia-- fez o volume financeiro da sessão somar R$ 35,2 bilhões.
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Manifestações dúbias do presidente, que tenta também evitar ameaça de greve de caminhoneiros e a insatisfação popular com a escalada dos preços dos combustíveis, foram insuficientes para evitar uma derrocada das ações da petroleira, assim como de outras estatais federais, como Banco do Brasil e Eletrobras, e empresas de outros setores mais sujeitos a regulação do governo.
Para Leonardo Milane economista da VLG Investimentos, o episódio amplia o leque de preocupações do mercado em relação ao Brasil, num ambiente já tomado por um ambiente fiscal frágil e de dúvidas crescentes sobre o andamento de agendas reformistas no Congresso Nacional.
"A agenda política está se sobrepondo à econômica", disse ele, citando também itens como a possível aprovação de extensão do auxílio emergencial, que muitos temem que resultará na ruptura do teto para gastos públicos.
Um alívio parcial sobre o índice veio de ações que também têm forte peso na composição da carteira, caso de empresas ligadas a commodities metálicas.
Além disso, uma tentativa de recuperação em Wall Street e a queda do dólar contra o real estimularam compras pontuais na bolsa paulista, como de ações de companhias aéreas.