Após recorde de importação, CNA descarta falta de fertilizantes
Entidade avalia que insumo importado passa por crise de preço, mas não dificuldade de abastecimento
Economia|Do R7
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) não trabalha com cenário de desabastecimento de fertilizantes no país. Ao longo de 2021, o agronegócio do Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes, recorde histórico, de acordo com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
O diretor técnico adjunto da CNA, Reginaldo Minaré, afirma que a entidade monitora o conflito entre Rússia e Ucrânia e acredita que a tensão deve se arrefecer. Ele explica que no ano passado houve uma crise de preços, mas não dificuldade de abastecimento, e que neste ano isso também deverá se repetir. "Teremos abastecimento, mas com os preços de insumos mais elevados", avalia Minaré.
Isso ocorre por causa de fatores como a desvalorização do real, o desajuste na cadeia de transporte internacional e a crise relacionada ao preço do gás e do petróleo. "Boa parte do custo de transporte marítimo internacional é creditado ao petróleo. E o gás é a matéria prima essencial para a produção dos fertilizantes nitrogenados", explica.
Esse contexto contribuiu para aumentar os preços dos produtos, o que resultou no ano passado uma safra cara e que, provavelmente, neste ano também irá se repetir. O Brasil importa grande parte dos fertilizantes e pesticidas utilizados pela agricultura. A importação de fertilizantes equivale a uma média de 85% dos insumos utilizados no país.
A CNA também avalia que houve um arrefecimento no cenário de tensão entre a Rússia e a Ucrânia, crise que poderia comprometer o fornecimento, já que a Rússia e o país vizinho, a Belarus, são importantes exportadores de insumo estratégico para a produção de alimentos.
Os principais fornecedores do cloreto de potássio são Belorus (18%), Rússia (26%), Israel (11%) e Canadá (32%). Já o fosfato vem do Marrocos, Rússia, Estados Unidos e China. E os nitrogenados têm a Rússia, China, Nigéria, Catar e Argélia como principais fornecedores. Ou seja, a Rússia fornece os três tipos.
"Um conflito poderia dificultar o cenário, porque, dependendo da intensidade, a gente não sabe como essa cadeia de abastecimento vai funcionar. Mas, com esse arrefecimento, acreditamos que não teremos dificuldade, por isso não estamos trabalhando com cenário de falta", afirma.
Com essa perspectiva, os preços continuarão num patamar elevado, até porque o petróleo mantém alta, com aumento do brent de mais de 20% neste início de 2022. O dólar, mesmo tendo registrado mínima de fechamento desde setembro de 2021, a R$ 5,18, nesta terça-feira (15), segue desvalorizado.
Minaré ressalta que o impacto para a agricultura é o aumento do custo de produção, que significa redução de renda do agricultor e aumento de preços dos alimentos. Nesse contexto, o governo está trabalhando um plano nacional de fertilizantes, que deve ser apresentado neste semestre.
Para Minaré, incentivar a produção doméstica é uma ação importante, criando um ambiente de negócios favoráveis aos empreendimentos, com o cuidado de não adotar como método a tributação dos fertilizantes importados. “Seria muito prejudicial para a agricultura. A tributação da importação poderia reduzir a competitividade do setor e até inviabilizar a produção agrícola em algumas regiões.”
Minaré considera positiva a visita de Jair Bolsona à Rússia, principalmente se ele conseguir trazer a garantia de fornecimento. "Como o Brasil é um grande comerciante desse universo do agronegócio, vendendo grãos, comprando fertilizantes e defensores, o país tem de dialogar com todos os parceiros comerciais, seja com Estados Unidos, China e Rússia. É importante essa viagem e que ele traga essa mensagem de tranquilidade na região e garantia de fornecimento como sempre ocorreu", conlui.