Banco Central começa segunda fase do projeto do Drex, o real digital
A nova fase de teste da primeira moeda virtual brasileira deve durar até o fim do primeiro semestre de 2025
Economia|Do R7
O BC (Banco Central) começou a segunda fase do projeto-piloto da moeda digital brasileira, o Drex. Segundo a instituição, serão testadas a implementação de serviços financeiros, disponibilizados por meio de contratos inteligentes, criados e geridos por terceiros participantes da plataforma.
A primeira moeda digital do Brasil, equivalente ao dinheiro em circulação, está em teste. A nova fase deve durar até o fim do primeiro semestre de 2025. Em princípio, a previsão era lançar o real digital na virada de 2024 para 2025. Mas ainda não há uma data específica para entrar em vigor.
“Vamos avaliar os diferentes casos de uso, sempre levando em conta os requerimentos de privacidade exigidos pela legislação em vigor. Também iremos testar o uso de ativos não regulados pelo BC. Para isso, estamos trabalhando em conjunto com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, explicou Fabio Araújo, coordenador da iniciativa do Drex, em nota.
O BC divulgou a lista dos 13 temas selecionados para a segunda fase. Os assuntos foram escolhidos pelo Comitê Executivo de Gestão da iniciativa a partir de 42 propostas recebidas.
Os temas e seus desenvolvedores
1. Recebíveis: ABC e Inter
Nesse caso, a Distributed Ledger Technology (DLT – Tecnologia de Registro Distribuído) é utilizada para facilitar a movimentação de valores que as empresas tenham a receber por operações feitas entre o estabelecimento comercial e seus fornecedores com cartão de crédito – os recebíveis de cartão de crédito. Esse instrumento tende a facilitar a obtenção de crédito por pequenas empresas, seja pela redução de seu custo ou pela flexibilidade, para gestão de sua carteira de recebíveis.
2. Crédito em CDB: BB, Bradesco e Itaú
Em operações de capital de giro, empresas procuram o setor financeiro para fazer empréstimo e atender a necessidades de caixa de seu negócio. O uso de Certificados de Depósito Bancário (CDBs) como garantia (colateral) nessas operações reduz o custo do empréstimo e preserva a rentabilidade da aplicação. Esse instrumento pode ter papel relevante para pequenas e grandes empresas na gestão de sua vida financeira.
3. Crédito em títulos públicos: ABBC, ABC e MB
Similar ao modelo anterior, com a potencial popularização do uso de títulos públicos pelas pessoas como instrumento de poupança, esse caso de uso pode reduzir o custo de empréstimos para o consumo da população. Ao utilizar essa poupança como garantia no empréstimo, o cidadão poderá ter reduções substanciais no custo da operação, além disso, continuará com sua poupança sem a perda de rendimentos.
4. Financiamento de operações de comércio internacional (Trade Finance): Inter
Essa solução de financiamento comercial (trade finance) pode ser aplicada para mercadorias, como commodities agrícolas, em uma plataforma programável com a tokenização do documento de embarque da mercadoria, permitindo seu pagamento fracionado de maneira ágil. Pela interoperabilidade entre o Drex e uma plataforma de Central Bank Digital Currency (CBDC) de outro país, o caso de uso simplifica e reduz o custo de acesso ao mercado global, além de catalisar a inovação no comércio internacional brasileiro.
5. Otimização do mercado de câmbio: XP-Visa e NuBank
A proposta visa melhorar a eficiência, a transparência e os controles de risco do mercado de câmbio entre o real e outras moedas soberanas, tendo como objetivo a negociação 24 horas por dia e sete dias por semana. Além da oportunidade de redução de custo por meio de otimizações no fluxo, a tokenização de contratos de câmbio permitirá o registro e a garantia do cumprimento de todas as regras e condições da transação de compra e venda de moeda estrangeira.
6. Piscina de liquidez para negociação de títulos públicos: ABC, Inter e MB
Inspirado no modelo de finanças descentralizadas, o caso de uso propõe a criação de uma infraestrutura para operações de compra e venda de títulos públicos federais. Nessa solução, os processos de negociação, registro, liquidação, conciliação e custódia são realizados por meio de contratos inteligentes, de forma que possam ser executados automaticamente, simplificando o acesso da população a essa oportunidade de investimento e agilizando o uso de títulos públicos em outras operações.
7. Transações com Cédula de Crédito Bancário (CCB): ABBC
8. Transações com debêntures: B3 e BTG
Os casos de uso que se propõem a tratar de títulos de dívida, especificamente CCB e debêntures, permitem que sua negociação e liquidação sejam feitas de forma simplificada, automática e com custo reduzido. Tanto as CCB quanto as debêntures são ativos de ampla negociação, sendo comum em operações da maior parte das instituições financeiras. Sua inclusão no Drex trará maiores facilidades para a negociação desses ativos e para o acesso de empresas a essas formas de financiamento.
9. Transações com ativos do agronegócio: TecBan, MB e XP-Visa
10. Transações com créditos de descarbonização (CBIO): Santander
Consideradas as características do Brasil, o financiamento sustentável do agronegócio e as finanças verdes são temas da maior importância. Os casos de uso propostos visam melhorar os mecanismos de negociação e formação de preço desses ativos, dando as garantias necessárias para que se possa investir em projetos sustentáveis e de elevada produtividade.
11. Transações com automóveis: B3, BV e Santander
12. Transações com imóveis: BB, Caixa e SFCoop
Essa é uma das categorias de aplicação da DLT que tem maior apelo para a população, justamente por ajudar a resolver o problema da transferência de propriedades de valor elevado, como um imóvel ou um automóvel – um problema com o qual cada um de nós normalmente se depara ao menos uma vez. O uso da plataforma Drex elimina os riscos dessas transações de forma a torná-las mais simples e acessíveis.
13. Transações com ativos em redes públicas: MB
As redes DLT públicas são uma importante fonte de inovação para o ambiente de ativos digitais e tokenizados. Novos modelos de negócio e novas oportunidades para os participantes do mercado financeiro frequentemente se apresentam, a princípio, nesses ambientes. O caso de uso propõe a conexão da plataforma Drex a esses ambientes, permitindo que se discuta a melhor maneira de se desenhar um arcabouço regulatório robusto que permita que tais inovações cheguem de forma segura à população.
Participantes
Atualmente, o Piloto Drex conta com a participação de dezesseis consórcios ou empresas. São eles:
- ABBC – Banco Brasileiro de Crédito, Banco Ribeirão Preto, Banco Original, Banco ABC Brasil, Banco BS2 e Banco Seguro, ABBC, BBChain, Microsoft e BIP;
- ABC – Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Google;
- B3 – Banco B3, B3 e B3 Digitas;
- BB – Banco do Brasil;
- Bradesco – Bradesco, Nuclea e Setl;
- BTG – Banco BTG;
- BV – Banco BV;
- Caixa – Caixa, Elo e Microsoft;
- Inter – Banco Inter, Microsoft e 7Comm;
- Itaú – Itaú Unibanco;
- MB – MBPay, Cerc, Sinqia, Mastercard e Banco Genial;
- Nubank – NuBank;
- Santander – Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM;
- SFCoop – Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred;
- TecBan – Basa, TecBan, Pinbank, Dinamo, Cresol, Banco Arbi, Ntokens, Clear Sale, Foxbit, CPqD, AWS e Parfin; e
- XP-Visa – XP e Visa.
Ainda em 2024, o BC receberá novas propostas de candidatura de entidades interessadas em participar do Piloto Drex. Os selecionados deverão testar a implementação de contratos inteligentes até o fim do primeiro semestre de 2025.
Fonte: Banco Central