Bolsa fecha em queda e dólar sobe no dia após vitória de Bolsonaro
Analistas explicam que cenário até a posse do futuro presidente ainda deverá ser de oscilações no mercado financeiro
Economia|Fernando Mellis, do R7
No dia seguinte à vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno da eleição presidencial, o mercado financeiro teve um comportamento diferente do que havia sido visto durante a campanha. A bolsa de valores operou no vermelho na maior parte do pregão e o dólar registrou alta nesta segunda-feira (29) — após abrir em forte queda.
Ao fim do pregão, o dólar fechou em alta de 1,39%, cotado a R$ R$ 3,70. Já o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, caiu - 2,43%
O crescimento do ainda candidato do PSL nas pesquisas e a consequente ida para o segundo turno fizeram com que o Ibovespa registrasse sucessivas altas nas últimas semanas.
O Ibovespa saiu do patamar de 78 mil pontos em 1º de outubro para 85 mil pontos no dia 26.
O dólar, que chegou a ser cotado a R$ 4,19 no dia 13 de setembro, caiu para R$ 3,76 no dia 8 de outubro, logo após o primeiro turno.
A moeda norte-americana permaneceu nesse patamar durante a campanha do segundo turno e registrou ainda mais queda em relação ao real, atingindo R$ 3,65 na última sexta-feira (26).
Para o analista-chefe da Rico Investimentos, Roberto Indech, a vitória de Jair Bolsonaro já havia sido precificada desde o primeiro turno.
"O mercado não colocava na conta a possibilidade de o Fernando Haddad vencer esta eleição."
O chefe de análise da Toro Investimentos, Rafael Panonko, classifica o comportamento do mercado hoje como "normal". Segundo ele, a tendência de alta se mantém, mas os investidores aproveitaram o dia para realizar lucros.
"A partir de agora o mercado vai ficar de olho na velocidade que o futuro governo conseguirá aprovar as propostas que anunciou na campanha. A sinalização foi de uma agenda que agrada ao mercado, com a reforma da Previdência, controle dos gastos públicos, uma possível reforma tributária, privatizações de estatais que não são estratégicas", avalia.
O economista da Rico observa que poderá haver grandes oscilações no dólar e na bolsa nas semanas seguintes por questões internas em torno da transição do governo.
"O mercado vai começar a cobrar agora medidas econômicas, principalmente a reforma da Previdência, o que virá, o que será... isso poderá movimentar o dólar. Além disso, aguarda-se também o anúncio da equipe econômica, a manutenção ou não do presidente do Banco Central, outros temas como a reforma tributária e o mercado internacional", explica.
Indech avalia como "um processo natural" a incerteza que ainda pode haver em relação aos investidores, já que os anúncios serão feitos até o fim do ano.
No entanto, ele aponta como crucial um consenso no núcleo mais próximo de Bolsonaro em torno da reforma da Previdência.
"A gente precisa de um pouco mais de tempo para a formalização das ideias e propostas. Dentro do núcleo duro da equipe do Bolsonaro, há vertentes de pensamentos diferentes sobre a reforma da Previdência. Há militares, Paulo Guedes [futuro ministro da Fazenda], Onyx Lorenzoni [futuro ministro da Casa Civil]... será necessário fazer uma costura", diz.
Panonko também considera que o período até a posse pode ser de oscilações, especialmente se houver problemas de comunicação da nova equipe.
"Vai ter momento de oscilação um pouco mais forte, porque o mercado fica olhando para a expectativa. Às vezes, uma frase mal colocada gera um pessimismo. Mas a tendência é de alta. Isso só muda se esse discurso de reforma for por água abaixo e não conseguir aprovar essas pautas."