Brasil teria de investir R$ 242 bi em reformas de casas para garantir acesso ao saneamento
Maioria dos lares que precisa de reparos é de famílias pobres ou da classe de renda média baixa, diz levantamento
Economia|Beatriz Oliveira*, do R7, em Brasília
Para adequar todas as casas do país a uma infraestrutura que garanta o acesso ao saneamento básico, são necessários R$ 242,5 bilhões em investimentos, segundo uma pesquisa divulgada pelo Instituto Trata Brasil nesta terça-feira (3). De acordo com o levantamento, cerca de 75% desse valor (quase R$ 182 bilhões) teriam de ser usados nas reformas de lares de famílias com rendas mais baixas ou médias, de até R$ 5.724 por mês.
Leia mais
O levantamento alerta para a necessidade de implementação de políticas públicas que possam auxiliar as famílias, em especial as mais pobres, a fazer as reformas necessárias nos seus lares a fim de que possam ter acesso a serviços como água tratada, tubulação para distribuição de água dentro da residência e coleta de esgoto.
Segundo a pesquisa, o valor de R$ 242,5 bilhões estimado para a readequação das casas do país exigiria, por exemplo, um gasto anual de pelo menos R$ 24,3 bilhões por ano até 2033. O Trata Brasil frisa que esse montante é bastante superior ao que as famílias brasileiras gastaram em 2018 com reformas dentro de casa: R$ 13 bilhões (valores a preços de 2023).
“Precisamos de políticas públicas que também pensem esse lado do saneamento básico. Sem essa etapa não adianta o município ter oferta de água, coleta e tratamento de esgoto se isso não chega na casa do cidadão. Por impactar mais as pessoas com menor renda, como visto no estudo, sem um olhar adequado do governo para essa questão não conseguiremos universalizar de fato o saneamento até 2033″, diz a presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto.
Segundo ela, além de iniciativas do poder público como subsídios e políticas de crédito que possibilitem que esses gastos estejam encaixados no orçamento das famílias, faltam investimentos do setor privado para garantir a produção dos materiais necessários e mão de obra qualificada.
“Não basta apenas pensar em ter saneamento básico passando na via na frente de casa. A infraestrutura de dentro das casas também deve ser adequada para que as pessoas possam viver com dignidade, viver com melhor saúde, qualidade de vida e ter condições de exercer as atividades no dia a dia”, diz.
Famílias sem acesso a serviços de saneamento básico
Cerca de 37,5% da população brasileira não têm acesso à rede de esgoto, segundo o Censo Demográfico de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Considerando os lares de famílias com renda mensal de até R$ 1.908, são 22,2 milhões de casas no país sem acesso à água tratada, sem canalização, com indisponibilidade de reservatório, com insuficiência de banheiro ou com falta de coleta de esgoto.
Pretto explica que existem locais que até têm abastecimento de água, mas não há sistema de canos para recebê-la. Por vezes, as casas não têm banheiro, nem reservatório de água. A falta dessa canalização pode acarretar prejuízos até para o corpo.
“Quando a gente não tem acesso à água, seja porque não tem a rede passando na rua ou porque a gente não tem a canalização, as pessoas estão tomando uma água provavelmente fora dos padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde, o que acaba acometendo uma série de doenças de veiculação hídrica”, alerta.
Gastos por região
O estudo informa que a região em que as famílias mais gastam com reformas dentro de casa para se adequar à estrutura de saneamento é o Sul, com uma média de R$ 1.678,74 por ano. Quem lidera na região é Santa Catarina. Em 2018, as residências no estado gastaram, em média, R$ 2.254,56.
A região gasta mais com reformas devido ao valor da renda ser mais alto do que em outros locais, explica Pretto. “A renda média da região Sul também é maior, e isso faz com que esse tipo de obra pese menos no bolso do cidadão. Isso acaba impulsionando mais esse tipo de obra dentro das casas”, diz.
Segundo levantamento do Trata Brasil, divulgado em julho, se o Brasil continuar no mesmo ritmo, só deve atingir a universalização dos serviços de esgoto em 2070.
*Sob supervisão de Augusto Fernandes