Concurseiros mudam rotina de estudos durante isolamento social
Quem tem filhos, divide o tempo das leituras e exercícios com o home office e as aulas on-line dos pequenos. Quem não tem, pode se dedicar mais
Economia|Márcia Rodrigues, do R7
A pandemia do coronavírus também vem afetando a vida dos concurseiros, conhecidos por manterem uma rotina de estudos intensa para prestarem concursos públicos.
Um deles é o servidor Wellington Lopes, 47, que está estudando para o cargo de juiz de direito do concurso do TJ-GO (Tribunal de Justiça do Estado de Goiás), há dois anos. Ele conta que a publicação do edital estava prevista para sair em março, mas foi adiada.
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“Em razão da queda de arrecadação e do corte no repasse do Poder Executivo ao Judiciário, todos os concursos foram suspensos por prazo indefinido”, explica.
Lopes diz que quebrou totalmente a rotina de estudos durante o isolamento social. Teve, inclusive, que reduzir o tempo que se dedicava para fazer os exercícios e revisar as matérias.
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Ele diz que antes da pandemia, a meta era se dedicar, no mínimo, duas horas de estudos no período da manhã, antes de ir ao trabalho, e mais uma ou duas horas à noite, depois de colocar a filha de 6 anos para dormir.
"Agora%2C pela manhã%2C acompanho as aulas on-line da minha filha%2C cumpro minha carga horária de trabalho inteira em home office e acabo estudando somente um pouco à noite.”
Lopes acredita que a rotina de todos os pais está mais corrida com o isolamento social. “Meus amigos sem filhos disseram que estão conseguindo estudar mais.”
É o caso de outra concurseira, Larissa Jorge de Paula, 26, que é bacharel em direito e estuda há quatro anos para concursos com foco na carreira policial.
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Larissa conta que, no começo do isolamento, aproveitou para descansar um pouco. Depois, mudou sua estratégia.
“Intensifiquei os estudos e estou aproveitando este período para me preparar melhor. Sei que a concorrência será grande quando as provas forem reagendadas e novos editais voltarem a ser publicados.”
Ela está há um ano e meio estudando para a prova de Polícia Rodoviária Federal.
A bacharel em direito também ia prestar o concurso da Polícia Civil do Distrito Federal, que seria realizado um pouco antes do isolamento, mas a data foi adiada por conta da pandemia do coronavírus.
Concursos suspensos e provas adiadas
Gabriel Henrique Pinto, professor e diretor da Central de Concursos, diz que algumas provas foram suspensas por conta da pandemia do coronavírus e da situação econômica do país.
Entre eles, TJ-SP (Tribunal de Justiça do Estado de S. Paulo), TCM-SP (Tribunal de Contas do Município de São Paulo) e da Polícia Civil do Distrito Federal.
Também deve ser adiada, segundo ele, a publicação dos editais para as provas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e a da Receita Federal.
O professor conta que as aulas presenciais da Central de Concursos foram substituídas, nesse período, por on-line com transmissão ao vivo. “Elas são realizadas no mesmo dia e período das presenciais.”
Pinto afirma que não viu a procura por cursos preparatórios on-line crescer neste período.
"As pessoas estão inseguras para investir em qualquer coisa neste momento%2C e isso inclui um curso preparatório para concursos. A maioria vai esperar para ver o que acontecerá com o país.”
Quem já estava se preparando, o professor orienta a aproveitar a paralisação das provas para estudar.
Isolamento afeta qualidade de estudo
Rodrigo Gomes, professor de direito constitucional e processo penal do AlfaCon Concursos, pondera que é “um grande mito pensar que o concurseiro ganhou mais tempo para estudar ficando em casa”.
“Ele pode ter mais tempo, mas sem qualidade porque outras pessoas também estão trabalhando em casa, e isso dificulta muito os estudos.”
Gomes comenta que seus alunos costumam frequentar bibliotecas ou alugar baias para estudar individualmente, sem barulho.
“Com todo mundo em casa%2C é mais difícil manter o nível de concentração nos estudos.”
O professor diz que os alunos estão buscando mais conteúdo na internet para estudar.
"Vejo que minhas páginas nas redes sociais estão bem movimentadas e que o público está revendo aulas antigas”.
Gomes orienta os concurseiros a não se cobrarem muito, neste momento.
“É preciso ter consciência de que estamos vivendo um momento excepcional. Não dá para manter o mesmo rendimento de antes. Não se cobre muito e mantenha o movimento normal de estudos.”
Procura por concursos deve aumentar após pandemia
Para Renato Saraiva, presidente da Aconexa (Associação de Apoio aos Concursos e Exames) e da escola Cers, a procura por concursos deve aumentar após o fim do isolamento social e da pandemia do coronavírus.
“A população está vendo que os servidores públicos não foram afetados com a crise econômica. Estão em casa%2C no esquema home office e têm seus empregos garantidos quando tudo voltar ao normal e sem redução salarial.”
Saraiva acredita que centenas de editais que não foram lançados antes da pandemia, sejam publicados após esse período.
E dá um alerta: “não adianta estudar apenas quando o edital sair. O concurseiro profissional estuda com muita antecedência.”