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Crise faz universidades oferecerem descontos para atrair novos alunos

Estudo do Semesp aponta que estudantes deixam para fazer a matrícula entre fevereiro e março. Concorrência no setor aumenta

Economia|Giuliana Saringer, do R7

Estudantes tendem a se matricular mais tarde
Estudantes tendem a se matricular mais tarde

A estudante Raíssa Knapick, de 19 anos, quer cursar psicologia em uma faculdade particular de São Paulo com mensalidade de R$ 1.500. No entanto, o valor é muito maior do que ela consegue pagar e, por isso, vai esperar o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) para ver se consegue fazer o curso dos sonhos. Os resultados saem em 4 e 18 de fevereiro, respectivamente.

Raíssa faz parte da nova tendência dentro do mercado: os estudantes realizam as matrículas mais tarde, em fevereiro e março.

Um estudo realizado pelo Semesp, grupo de mantenedoras do Brasil, aponta que houve uma mudança no comportamento dos estudantes nos últimos anos, principalmente a partir de 2015. Hoje, os alunos que pretendem cursar o ensino superior pesquisam sobre as inscrições no primeiro trimestre do ano e não no último do ano anterior. Esperar o resultado do Fies ou ProUni, como Raíssa, é apenas um dos motivos que levou a essa mudança de perfil dos estudantes. 

Isso faz com diversas salas de aulas do Brasil tenham vagas sobrando no começo do ano letivo. 


O diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, diz que, por causa dessa alteração de comportamento, as universidades tendem a oferecer grandes descontos nos meses de fevereiro e março para atrair novos alunos e evitar as salas vazias. “[As instituições] acabam ficando desesperadas em março. Talvez seria melhor mudar o calendário escolar para fazer o marketing de atração em janeiro e fevereiro”, explica.

Segundo o diretor do Semesp, as instituições ainda não tiveram segurança para alterar o calendário de captação e, consequentemente, todo cronograma escolar. “Uma mudança desse nível é bastante complexa e, portanto, requer mais evidências para tomada de decisão”, garante.


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Já nos anos seguintes — um aluno que vai do primeiro para o segundo ano da graduação, por exemplo —, os acordos são diferentes. As instituições não costumam aplicar descontos na matrícula e apenas realizam negociações com os alunos devedores.

O pró-reitor acadêmico da FAE Centro Universitário, Everton Drohomeretski, afirma que a expansão no número de instituições de ensino é um dos fatores que causa os descontos aos calouros. “O número de vagas é superior ao número de alunos. Nas privadas, se você tirar o curso de medicina, não existe mais concorrência”, afirma.


Drohomeretski também comenta que a crise foi um fator determinante para o comportamento do setor. “Caiu o poder [de compra] do pai e do aluno. Esse desconto no primeiro ano vem com uma forma de ingressar [no ensino superior]”, explica. Para ele, a crise chegou com força nas universidades em 2017, já que a educação é um dos últimos itens a ser cortado em momentos de dificuldade.

Capelato diz que, além destes pontos, a crise do Fies também fez com que as instituições apelassem para grandes descontos, já que menos estudantes conseguem o financiamento.

O resultado do Fies, por exemplo, será divulgado em 18 de fevereiro neste ano e, segundo Capelato, diversos estudantes vão esperar esta lista para decidirem onde estudar.

Além do Fies, também existem o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que será divulgado em 28 de janeiro, que inclui os resultados das universidades federais que usam o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o ProUni e resultados de outras faculdades públicas.

“Esses alunos esperam os resultados para então, se ele não conseguir nada disso, buscar uma universidade particular. Com isso, a universidade que já começou as aulas com as salas vazias, começa a dar os descontos”, explica Capelato.

Embora haja uma mudança de padrão, Drohomeretski reforça que há diferenças entre os alunos que estudam no período matutino e no noturno. Hoje, os estudantes da manhã continuam realizando a matrícula mais cedo, já que geralmente são pessoas que estão terminando o ensino médio e os pais não querem que ele fique sem estudar.

No caso dos alunos do noturno, muitas vezes os próprios estudantes trabalham para pagar a matrícula na instituição. “[O estudante] sabe que vaga tem, tirando medicina. Não tem mais o desespero. Ele negocia, espera”, afirma.

O professor de inovação e estratégia da FGV (Fundação Getulio Vargas) Arthur Igreja afirma que, por causa da concorrência entre as instituições, muitos vestibulares servem apenas para cumprir a exigência do MEC (Ministério da Educação), sem de fato avaliar o aluno.

Isso faz com que estudantes despreparados cheguem no ensino superior. No entanto, para Igreja, os descontos aumentam a democratização da educação. “No começo dos anos 90 só existiam faculdades estaduais e federais. Hoje tem mais gente estudando”, diz.

Depois do período de estudos, estas pessoas se tornam mais qualificadas. “Temos brasileiros mais capacitados e ociosos. Quando o mercado se recuperar, vai encontrar profissionais com melhor qualificação”, afirma.

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