Economia Crise na pandemia abre espaço ao Brasil na indústria mundial

Crise na pandemia abre espaço ao Brasil na indústria mundial

Estudo da CNI analisa quais países buscarão outras fontes de insumos e produtos por causa da escassez verificada desde 2020

  • Economia | Do R7

Indústrias do mundo inteiro sofreram com a falta de peças e insumos da China

Indústrias do mundo inteiro sofreram com a falta de peças e insumos da China

Renault/Divulgação

Com alguns ajustes que busquem reduzir o custo Brasil para empresários e investidores, é possível ao país aproveitar o abalo da cadeia global da indústria, motivado pela pandemia da Covid-19, para ganhar espaço no comércio exterior. Essa é a conclusão de um estudo divulgado nesta quarta-feira (6) pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e feito em parceria com a empresa de consultoria Totvs.

Segundo o documento, o país tem baixa participação na produção de itens com maior valor agregado, mas os movimentos recentes de reorganização das cadeias abrem uma rara oportunidade.

Junto com a doença causada pelo novo coronavírus vieram as restrições impostas pelos protocolos sanitários e outra dificuldade não dimensionada pelo mercado mundial: a extrema dependência de insumos da China e de outros países asiáticos.

A China, que detectou os primeiros casos de Covid em janeiro de 2020, reduziu sua produção de forma geral e, com isso, também a exportação de peças e insumos que alimentavam a cadeia mundial de milhares de produtos. E é essa falha no modelo de negócios internacional que abre espaço para o Brasil.

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"O risco de depender de uma ou duas fontes de fornecimento de insumos e de produtos se mostrou evidente, e a procura, ao menos para alguns segmentos, passou a ser por diversificar geograficamente, permitindo a entrada de novos atores nas cadeias globais", constata o estudo elaborado pelos pesquisadores Tim Sturgeon e Mark Dallas, do Industrial Performance Center do Massachusetts Institute of Technology (IPC-MIT) e do Union College, respectivamente.

O Brasil pode se aproveitar desse momento tornando-se um fornecedor mais relevante e deixando de ser apenas um exportador de itens básicos, as chamadas commodities, para fabricar produtos mais caros; investindo em inovação; e entrando na disputa internacional de itens com alta qualidade e preço. 

Os pesquisadores concluem que as exportações do Brasil dependem cada vez mais de recursos naturais pelo fato de o país não ter entrado nas cadeias globais de valor.

Levantamento da CNI mostra que, de 2001 a 2020, a participação de soja, petróleo bruto e minérios subiu de 11% para 35% na pauta exportadora do Brasil.

De acordo com o estudo, o Brasil vai bem nas exportações primárias, mas tem aprofundado seu déficit em produtos com alta e média tecnologia.

O trabalho constatou também que o Brasil registra baixo nível de investimentos de suas empresas no exterior e apresenta atualmente a menor relação entre entrada e saída de recursos com esse fim em relação a todas as grandes economias do mundo.

O investimento do Brasil no exterior representa 11% de tudo o que foi recebido pelo país entre 1970 e 2018. Na Índia, essa proporção é de 33%; na China, de 61%; nos EUA, de 103%; e, na Alemanha, de 192%.

Mudanças necessárias

O superintendente de Desenvolvimento Industrial da CNI, Renato da Fonseca, vê uma chance única para o país nos próximos anos. “O Brasil perdeu o momento de entrar nas cadeias globais quando elas se formaram. Com as reorganizações dessas mesmas cadeias, porém, abre-se uma nova oportunidade."

Fonseca destaca, no entanto, que, “para não perder essa oportunidade, é preciso que o governo reduza o custo Brasil, em especial os gastos provocados pelo atual sistema tributário e pela infraestrutura logística, e as empresas têm de investir em inovação tanto na produção como na gestão”.

O trabalho mostra que mesmo as filiais de empresas multinacionais que estão no território brasileiro, como as indústrias de veículos automotivos e de eletrônicos, têm alta dependência de importações e produzem essencialmente para o mercado interno.

"No caso das filiais presentes no Brasil, a inovação continua enraizada nos países desenvolvidos, em suas sedes, ou migrando para a China em alguns casos. Essa dinâmica, ao lado dos altos custos no comércio de bens e serviços, da carga tributária elevada e complexa, das regras tributárias internacionais desalinhadas com o mundo, da logística ruim e do custo Brasil como um todo, faz com que a indústria brasileira tenha poucos incentivos para investir fora."

O estudo sugere que o governo reduza as dificuldades e estimule os empresários a investir em inovação baixando gastos obrigatórios, em especial com a aprovação da reforma tributária sobre consumo. Também defende a revisão de acordos e relações comerciais, a intensificação do esforço de promoção das exportações brasileiras e a construção de um sistema robusto de financiamento.

Para os autores, é importante priorizar a relação comercial e os acordos comerciais com a União Europeia e os Estados Unidos.

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